Odeio Paris

Cerrei o punho e fechei os olhos, imagens e vozes apareciam em minha mente, estava revoltado, não podia acreditar e aceitar que a minha viagem para Paris seria adiada. Não consegui aguentar, tive que ser rude com a empregada da agência de turismo.

Inacreditável, quanta incompetência, eu já estava certo que ela tinha conseguido adiantar a viagem e somente agora, quase duas semanas depois que solicitei a mudança, vem a parva alegar que não tem condições.

Obviamente de pronto falei com o seu gerente que pediu desculpas pelo ocorrido e, para a minha satisfação momentânea, ao menos, aquela moça nunca mais trabalhará em nada relacionado a viagens, nem como cobradora de ônibus, ainda bem que tenho meus contatos.

Entrei no carro furioso e não podia aceitar o absurdo que tinha acabado de ocorrer, mais um infortúnio na minha triste existência, mais um dia horrível, que começou com o cancelamento daquela negociação que me renderia uma comissão suficiente para finalmente conseguir comprar a minha cobertura em Copacabana. Mais um sonho que ficou pelo caminho.

Ainda, para não sair da rotina enfadonha, vem a minha esposa querer que eu não vá trabalhar na sexta para ver a peça do Pedrinho, logo na última sexta do mês que ela sabe, ou deveria saber, que tenho reunião da diretoria.

Débora é companheira, linda, inteligente, mas, não sei, acho que ela perdeu muito daquela doce garota que conheci no colégio. O negócio dela é me irritar, só pode ser isso, ela deve fazer de propósito.

As escolas não tem mais o que inventar e aliás o meu filho já tem oito anos, já está bem grande para ficar fazendo essas palhaçadas que não levam a lugar algum, devia sim era ter aula de inglês, começar desde cedo para não penar como eu no futuro.....

Ahhhhhhh!!!!!!!!!!!!!

Amaldiçoadamente não consigo esquecer esses acontecimentos e pensamentos que povoaram a minha mente naquele 21 de setembro de 1990 e que, ironicamente, sempre terminam com a palavra “futuro”.

Como eu era estúpido!

Pena que eu não percebia isso e não percebi a tempo de mudar o destino fatalístico da minha vida.

Pelo menos me conforta o fato de saber que eles estão bem, a Débora se recuperou bem e hoje está casada com um homem que realmente vive com ela, que se importa com ela e, apesar dos contratempos normais de um casal, são imensamente felizes.

O Pedrinho se formou no ano passado, é um médico que ama a profissão e ama a vida, mas, infelizmente, tem poucas lembranças do convívio com o pai, mesmo porque, convivemos muito pouco durante os quase nove anos em que vivemos juntos.

Como me faz falta a convivência com eles, é uma dor que nunca passa....

Agora percebo com uma clareza estarrecedora que o que realmente importa na vida não são os lugares, o trabalho, os bens ou o montante de dinheiro conseguido, mas sim a convivência com as pessoas que amamos.

Acredite, é o nosso maior tesouro.

Pelos traumas aos quais eu passei tenho por mim que na próxima vida não dirigirei mais carros em velocidades excessivas e nem, tampouco, irei a Paris.