Copiar pra passar

Terça 14 de outubro de 1997, meu nome Agnaldo Marcelo Rangel, e hoje vim contar a vocês uma história que aconteceu comigo há alguns anos atrás e que repercutiu muito na minha vida hoje. Lembro-me como se fosse ontem, era uma tarde de outubro por volta das 17hs, eu estava em uma aula de redação, era dia de recuperação e a professora solicitou que fizéssemos um texto sobre a mudança que queríamos no mundo, nós tínhamos pouco mais de duas semanas para fazê-lo. Tempo mais do que suficiente disse, uma redação pode ser feita rapidinho, em questão de segundos.

Passei meus dias numa boa, com a galera indo pro cine, pegando umas gatinhas, essas coisas que os jovens costumam fazer. Lembro-me como achava esses dias os melhores de minha vida, o problema é, às vezes, os nossos “melhores dias “ não constam os nossos melhores atos e os nossos melhores atos, geralmente são aquelas coisas tolas que nós depreciamos e ignoramos.

Mas enfim, voltando a história, passei as minhas duas semanas me divertindo e já havia até esquecido desse trabalho, chegado o dia da entrega, meu Deus! Eu havia me esquecido de fazer o trabalho. Precisava achar uma solução para esse problema, já sei! Fui na sala de informática, entrei num daqueles sites de pesquisa, copiei, imprimi e trabalho resolvido. A professora recolheu as redações e fomos embora, o resultado sairia na outra semana.

Chegada a hora de receber os resultados, a professora os entrega vagarosamente, fazendo comentário relativos aos erros de todos os alunos; Chegada a hora de receber o meu trabalho a professora me olha e diz: “Marcelo, preciso falar com você”.

Eu gelei, fiquei morrendo de medo, pensei: “E agora?! Será que ela descobriu que o meu texto era de outra pessoa?!”. Acompanhei-a até a sua sala, e ela começou a cobrir-me de elogios, ficou impressionada com a qualidade da redação e me convidou para escrever um artigo numa revista em que seu amigo era editor. Relutei, relutei, mas acabei aceitando. Pensei: “Existem milhões de coisas na internet e nessas páginas de pesquisa, eu posso copiar outro texto e mandar pra revista, eles jamais descobrirão”.

E assim o fiz. chegada a hora da publicação, a professora deu uma ultima revisada no assunto do texto, mais uma vez impecável e o entregou ao editor e ele o publicou. Fiquei famoso, todos falavam no meu nome, e no meu texto espetacular. Tudo eram flores para mim, minha família me adorava, meus amigos, todos ficaram impressionados com o meu grande dom. Um dom que na verdade, não era meu.

Até que, o que eu menos esperava aconteceu, chegou uma intimação em minha casa no meu nome. Minha mãe olhava e me perguntava: “Meu filho? O que houve? O que você fez..?”. Eu já não sabia o que responder, fingi que não sabia de nada, gesticulei, fiquei quieto e saí. Chegou a hora de minha punição, peguei um texto apenas para passar de ano e agora estou passando por um grande problema, só precisava saber como resolver sem que ninguém soubesse. E o pior aconteceu, minha professora foi correndo até minha casa, com os olhos em brasa e cheios de lágrimas, me olhava arduamente perguntando: “Como você pôde fazer isso? Você mentiu pra mim, e eu que confiei em você, que te achei especial. E você simplesmente faz isso comigo?”. Estavam todos lá, meus pais, alguns amigos, todos aos quais eu queria ocultar tal situação. Me senti péssimo. Chorei clamando apoio e ninguém me ouviu, nem mesmo os meus pais, e eu jamais pensei que eles iriam me abandonar em algum momento.

Eu estava péssimo, estava sendo processado com razão, e não havia ninguém que para me ajudar a resolver esse problema. Meus amigos estavam chateados demais para se importar, meus pais? Nem se fala. Eu estava realmente na pior, na data marcada fui ao julgamento, jamais irei esquecer os olhos revoltosos da pessoa de quem eu copiei o trabalho. Eram olhos revoltosos, mas cheios de dor. Uma pessoa comum, simples, sem nenhum luxo ou aparência de reconhecimento pelo seu grande trabalho, não, eu havia roubado sua fama.

A culpa me consumia completamente. Eu não tive coragem nem de argumentar, confessei meu crime. Sem ter quem me apoiasse fui preso, e lá passei duros anos, sozinho, sem nenhum amigo para me reconfortar, ou meus pais para me dar amor. Eu havia perdido tudo, e era culpa minha. Nos meus tempos de cadeia, comecei a escrever. Escrevia textos sobre mim mesmo, cartas a ninguém, redações sobre um próprio eu.

Havia me descoberto um escritor, escrevia sobre minha história e sobre como aqueles erros que eu cometi, para viver os meus “melhores dias” haviam destruído completamente quem eu era. Eu apenas queria ser reconhecido, ser alguém, e aquele dia transpareceu um grande momento pra mim. Quis voar e nem prestei atenção nas conseqüências.

Caí! Consegui chegar no pior do meu eu, que foi transparecido, nas humildes cartas que escrevia em meu tempo na prisão. Uma fiscal encontrou minhas cartas por acaso e as mostrou a outras pessoas, subi de novo, dessa vez pelo meu próprio esforço. Hoje sou um escritor famoso, com uma vida boa. Mas não me vanglorio com isso, pois carrego comigo, a dor e a culpa de toda minha vida, vida essa que eu perdi por causa de duas semanas.

Ib Souza
Enviado por Ib Souza em 29/08/2009
Código do texto: T1782197
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