A VIRGEM SEDUTORA

Leninha era muito bonita.

Extremamente simpática, seduzia, mesmo sem ser direta...

Encantava a todos os rapazes que a rodeavam perseguindo o amor da jovem.

Leninha não ligava a nenhum.

Rodeavam, rodeavam e iam seguindo suas vidas.

Desejosos da paixão platônica buscam uma segunda via.

Enamoravam-se de outras, todas virtuosas, mas sem o mistério da Leninha.

Sempre pensando nela.

Era só passar a moçoila e os jovens disfarçavam os olhares e se voltavam para a moça gerando ciúme e cutucões.

Não se soube que Leninha tivesse namorado.

As línguas afiadas açodavam a idéia que ela gostava de outras meninas.

Nunca se confirmou esse boato.

Desiludidos, um a um os rapazes foram se casando.

Leninha foi mudando a atitude.

Um dos rapazes, recém-casado, insinuou-se e Leninha aceitou tomar um drinque.

Abriu o jogo.

Queria ter um grande amor, mas tinha medo do casamento.

Contou que seu pai abandonara a mãe trocada por outra.

Podia ser ele o seu amor, mas não queria cair na língua do povo, por isso devagar com o andor e tira a mão daí.

Na mesa da cerveja o segredo revelou-se aos demais.

Um e mais outros foram se insinuando secretamente à Leninha.

Ela prometeu amor e criou expectativa a todos, mas não realizava o sonho de nenhum.

A bolsa de apostas correu entre os rapazes.

Quem seria o primeiro?

Ou quem já teria sido, pois temiam que a descoberta de algum relacionamento espantasse a moça e se acabasse o sonho?

A reserva de Leninha fazia que as titulares nem desconfiassem que estavam prestes a serem trocadas.

Na verdade, nunca foram as titulares.

Leninha disse a um e outro que já havia escolhido.

Foi além.

Disse que já havia consumado o sonho de quem seu coração pertencia.

Rebuliço à mesa.

Quem é?

Ninguém se abre.

Quem mente?

Todos?

Há um sentimento de desconfiança entre os homens.

Leninha cedera a um deles.

Leninha, sabe-se lá se pela mão do Cão, soube que era motivo de aposta.

Jogou pesado...

Fez o pior.

Disse a cada um dos enamorados que já experimentara mais de um, mas não se decidira.

Porque não eu, perguntavam todos quando se olhavam no espelho.

O assunto Leninha foi sendo evitado na mesa dos amigos.

Que nem se achavam mais muito amigos.

Sentiam-se mutuamente traídos.

Leninha estava saindo com qual?

Ou quais?

Ela era de um deles? De qual?

Tudo pode piorar.

O fracasso atrai o diabo.

E ele chegou rápido.

Na roda da cerveja, depois de umas além da saideira, um comentou:

To saindo com outra...

Quem?

Com proposital cara de quem falara demais, disse que não podia contar, pois era mulher casada...

Conta aí!

Não posso.

Os olhares de todos para cada reserva caseira da Leninha passou a ser de desconfiança.

Sou o único que não saio com Leninha e será que estou sendo traído era a pergunta ao espelho.

O dono do bar contabilizou o prejuízo do fim das rodadas de cerveja.

Um bateu na mulher.

Outro, embriagado e gritando porque só ele não, tentou agarrar a Leninha, na frente da Igreja Matriz.

Ambas as reservas pediram divórcio.

Leninha, morta de vergonha, nunca mais falou com nenhum deles e se matou.

Deixou carta dizendo que se matara porque não podia confiar no amor.

Com letras maiúsculas e grifadas disse que seu último desejo era ser enterrada com roupas brancas.

Como as virgens.

Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 18/08/2009
Reeditado em 20/08/2009
Código do texto: T1761644
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