Meus pecados.

Gosto muito de ler os contos do Mestre e poeta Ivan Ferretti, e portanto peço licença a ele para aqui expor o meu conto.

Como eu gostaria que fosse inventado, e não um fato realmente acontecido, pois assim não carregaria comigo um trauma até hoje enraizado.

De tantos comentários sobre bispos, igreja e pecados, resolvi botar pra fora o que nem meus próprios pais ficaram sabendo, é que na época do acontecido, lá pelos anos cinqüenta, e mal havia eu saído das fraudas, fui por assim dizer, obrigado a contar muitos pecados sem nem mesmo ainda tê-los praticados.

Lembro-me como se fosse hoje, era eu aluno de uma escola primaria, onde naqueles tempos os filhos podiam apanhar tanto dos pais, como dos tios, dos professores, e até mesmo dos próprios padres, e havia ainda uma obrigação de ter que tomar benção a todos eles.

No grupo escolar já estava tudo resolvido, o reverendo do bairro iria lá para confessar todos os alunos, e seria uma confissão individual, feita dentro da própria sala de aula. Assim fiquei eu ensaiando um dia antes o que falaria com o dito padre, e quando chegou o dia, e minha hora se fez ver, diante daquele ser de batina preta, a coisa ficou preta pro meu lado, pois os quatro ou cinco atos confessados, não foi o bastante para satisfazer o ego daquele sacerdote, parecia que o seu salário provia de quantos pecados pudesse extrair daqueles ali a sua frente ajoelhados. E sobre ameaça de ali ficar cravado com os joelhos naquele piso duro até falar coisas para o satisfazer, comecei a inventar pecados que nunca imaginei ter. Hoje eu vejo que estive num pau de arara da inquisição. Lembro que minha cabeça rodava e me deixava numa situação sem sentido, pois se fui ate ele tentando aliviar dos meus erros, me vi assustado cometendo a pior das mentiras nos pecados que eu inventava. E num ato quase desesperado eu prometi a mim mesmo que nunca mais iria confessar. Hoje depois de tantos anos, eu sinto que muitos pecados que confessei ainda não os cometi, portanto prefiro entrar numa igreja vazia onde só as imagens podem me ver, e ali, sem nada ter que dizer, confesso que me sinto muito mais aliviado dos erros cometidos.

Mas tudo na vida se tira proveito, naquele momento que eu passava pelo tormento de ter que falar mentiras, Alguém lá em cima assistia, e tentando acalmar minha alma, falava de um jeito que só criança consegue entender: Não se atormente com o que esta a acontecer, pois este é o mundo no qual terá que aprender a viver.

DIASMONTE
Enviado por DIASMONTE em 09/03/2009
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