Ninguém

“Agora feche os olhos. Feche-os bem” - disse ele. Para vendá-la, usou a gravata de estimação, favorecendo o mistério. Preparou o carro, acomodou-a, e seguiu para as montanhas. No trajeto, ela lhe contou bobagens de sua vida que não lhe interessavam mais. Os minutos nasceram e morreram ao som dos pássaros voando e cantando pelas árvores, tempo suficiente para deixá-la absorta em lembranças medíocres.

“Chegamos” - sussurrou próximo ao ouvido da mulher. Abriu a porta do carro e carregou-a até a parte mais alta.

Ela escolheu o silêncio e o momento se fez. Com um gesto simples, lançou-a ao vento, sem que pudesse ver-lhe o desespero das mãos em busca da vida. E numa resposta a uma pergunta jamais proferida por ela, respondeu-lhe: mas ninguém viverá para sempre!