Um animal que se veste

Ele caminhava num compasso ritmado, no silêncio de si mesmo, olhando para o nada, despreocupado, fisionomia fechada. O cão marchava ao lado, cabeça ereta, focinho direcionado, boca cerrada.

Uma gota de água caiu no rosto do mendigo, libertando-o do quase “estado nirvana”. A chuva chegaria nos próximos segundos, mas continuou a caminhada.

Cruzou a rua e os pingos encorparam, demorando entranhar nos cabelos oleosos. Também as roupas não absorveram rapidamente a água, tamanha era a poeira, agora barrenta e gordurosa nas tramas do tecido.

Olhou sorrindo para o cão Sarnento e revelou um segredo: não se preocupe, o homem é só um animal que se veste!