No lixo

Passara o dia todo com aquele aperto na garganta. Parecia que a vida tentava, mais uma vez, estrangulá-la. A noite chegara, estava finalizando suas obrigações domésticas. A última seria pôr o saco de lixo na rua para que o lixeiro o levasse. Hesitou, pensou... Foi ao seu quarto, pegou todas aquelas antigas e amareladas cartas. Olhou-as com um misto de ternura e ódio... Endireitou o corpo arqueado pelos anos, passou a mão pelos cabelos sempre desalinhados. Com passos decididos, dirigiu-se ao saco de lixo e depositou ali todas as suas últimas recordações.