Um "Deficiente Físico" num Ônibus

Subiu no ônibus numa das paradas do centro da cidade. Alegou ao motorista que havia esquecido a sua carteira, a qual comprovava que de fato era deficiente físico. Deu-lhe um sorriso e afirmou-lhe que não era preciso comprovar algo que todo mundo estava vendo: "sua perna torta". Sentou-se num dos acentos destinados a portadores de deficiência e idosos, simulando algum sacrifício para o trabalho. Sorriu, então, para uma senhora idosa que estava ao seu lado e que o olhava meia que desconfiada. O cobrador também estava atento ao sujeito. Contava o dinheiro da sua gaveta e de vez em quando analisava o comportamento do "deficiente".

- O senhor nasceu assim ou foi acidente? - Perguntou a já abordada velha, com os olhos bem arregalados.

- Não, senhora. Acidentei-me na fábrica onde trabalhava.

- Meu Deus! E como foi isso? - Interrogou a velha curiosa.

- Er... Foi de susto. - Respondeu o sujeito, transparecendo uma cara cínica.

- De susto?! Como assim? Alguém lhe deu um susto?

- Mais ou menos... um dos meus colegas de trabalho, o doda, ligou o maquinário sem querer e eu assustei-me e cai num dos caldeirões vazios onde era colocado um dos componentes do produto que a empresa fabricava.

- É?! E que produto é esse que eles faziam lá?

- Ora... eram... eram relógios... de todos os tipos.

- Que coisa! Não sabia que era preciso cozinhar relógios.

- Ah... mas é preciso, eu não sei o motivo, mas é... Coisas técnicas, sabe?

- E o senhor não fez nenhum tratamento para tentar corrigir o defeito?

- Ô... passei dois anos tentando ajeitar de todo jeito, mas não consegui, fui num médico até em São paulo. Mas não tem como corrigir. A minha perna já era. Só não mostro a senhora porque ela ficou horrível depois do acidente.

- Sei... Mas o senhor disse que viajou pra São Paulo... então o senhor ganhava bem lá, né?

- Que nada, senhora. Foi a empresa que pagou tudo. - Respondeu o sujeito, fingindo dor na perna "deformada".

A viagem prosseguiu então em silêncio. A velha desistiu do interrogatório. Julgava que havia perdido a batalha. Porém, o destino mudou o curso da história. Meia hora depois, o ônibus parou numa parada que era cercada por um imenso arvoredo e instantaneamente foi tomado por abelhas irritadas, pois a sua colméia foi parcialmente destruída pelo ônibus. Elas adentraram por todos os cantos e janelas. O alvoroço e a gritaria foram enormes. E a situação só não foi pior porque o motorista arrancou o veículo desesperadamente. Livrando o coletivo do ataque.

No entanto, aconteceu algo mais inesperado do que isso: o "deficiente" estava de pé, no meio da cabine e sem a muleta. Tentava tirar uma abelha que havia entrado na sua calça e o picava na altura de uma das suas coxas. Justamente na perna "defeituosa". Evidentemente, todos os passageiros ficaram surpresos com a fantástica melhora e agilidade do "deficiente". O qual só parou e voltou a si quando conseguiu matar o inseto. Então, dando um sorriso amarelo, disse:

- Ora... vejam... milagre! Melhorei da minha deficiência com as picadas que recebi, as abelhas dessa avenida são milagrosas. Bem que me disseram.

- Deficiência?! Malandro! Só se for deficiente de vergonha na cara! Motorista, pára esse ônibus agora! - Gritou o cobrador.

- Mas...

- Nem mais, nem menos. Dê o fora daqui, mentiroso, senão a próxima parada vai ser na delegacia. Vamos!

Então o "deficiente" desceu os degraus metálicos do veículo sendo vaiado e xingado pela maioria dos passageiros. Desaforado, ainda deu um "bananão" e depois saiu correndo em direção a uma favela próxima dali. É, meus caros, um típico episódio de uma metrópole.

Fim do Conto.

Obrigado pela leitura, queridos leitores.

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Fábio Pacheco
Enviado por Fábio Pacheco em 29/07/2006
Reeditado em 10/07/2011
Código do texto: T204884
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