Lilo, o coelhinho de óculos

Lilo, o coelhinho de pelagem macia com tons de marrom-amarelado, grandes orelhas e olhos arregalados, morava em uma toca escondida no tronco de uma gigantesca árvore. Esse refúgio era sua proteção contra as ameaças constantes das raposas, corujas e onças que espreitavam sem parar.

Nos momentos em que a fome apertava, Lilo saía da sua toca em busca de alimento. Ele se deliciava com as gramíneas, cascas de árvores e raízes que havia na região. No entanto, ao contrário de seus cinco irmãos e da maioria dos coelhos, que possuíam sentidos apurados de olfato, audição e visão, Lilo era diferente. Enquanto os outros coelhos tinham uma visão total que lhes permitia detectar predadores em todas as direções, Lilo só conseguia perceber movimentos, o que lhe causava inquietação e perigo real.

Sua mãe, atenta às diferenças do filhote caçula, percebia frequentemente que ele se escondia nas moitas, enquanto os outros coelhos nascidos na última ninhada pulavam e faziam acrobacias, desafiando qualquer obstáculo.

Com muita preocupação, a mãe de Lilo tomou uma decisão corajosa. Abandonou seu refúgio na floresta e partiu em busca de socorro para o seu filho, na cidade, sabendo que lá encontraria um médico para ajudá-lo.

Pouco tempo depois, Lilo retornou à floresta usando um par de óculos, e seu problema de visão foi corrigido. No entanto, ele não estava preparado para enfrentar um desafio ainda maior. Lilo se viu sendo zombado e exposto ao ridículo e às piadas cruéis dos outros coelhos. Mais uma vez, refugiou-se em sua toca, onde ninguém poderia machucá-lo.

Na manhã seguinte, os raios de sol penetraram pelos buraquinhos da toca, anunciando um dia perfeito para brincadeiras e aventuras. Mas, Lilo não se atreveu a sair, temendo o julgamento dos outros coelhos. Mesmo assim, pôde ouvir os comentários maldosos que seus irmãos e primos faziam sobre os seus óculos. Todos riam e zombavam dele como se estivessem chocados com a situação.

A mãe de Lilo estava preocupada e decidiu ter uma longa conversa com o filho, explicando a ele que os óculos eram necessários para que pudesse enxergar bem e, além disso, combinavam muito com o seu visual que estava mais moderno e estiloso. Lilo olhou-se no espelho, ajeitou os bigodes, virou o rosto de um lado e do outro, tirou os óculos e colocou-os novamente. Sabe que a mãe tinha mesmo razão? Mais confiante, ele foi até a porta da toca e pôde enxergar bem o que acontecia lá fora.

Inesperadamente, enquanto a coelhada estava distraída inventando novos apelidos para Lilo, uma raposa esperta se aproximou. Os coelhinhos não perceberam, mas Lilo, escondido em sua toca, viu tudo claramente graças aos seus óculos.

Quando a raposa se lançou em direção à presa escolhida, um de seus irmãos, Lilo não teve dúvidas. Com uma agilidade impressionante, saiu de seu esconderijo e pulou nas costas da raposa, livrando o irmão Joca do perigo. Apavorada, a fera fugiu rapidamente como um raio.

Joca ficou agradecido por ter sido salvo, mas estava muito envergonhado pelos apelidos maldosos que ajudou a inventar. Pediu desculpas ao irmão e prometeu diante de todos que nunca mais faria isso. Todos se curvaram diante de Lilo, elogiando a sua bravura e também se desculparam por tê-lo magoado.

Os óculos de Lilo não eram mais motivo de piadas entre a coelhada. Agora, eram vistos como um símbolo de coragem e heroísmo. Até os coelhinhos com visão perfeita começaram a desejar um par de óculos, só para dar um toque de charme e estilo.

Neusa Maria Cesarino Martins
Enviado por Neusa Maria Cesarino Martins em 21/02/2024
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