Preconceito¿

Ana é uma criança muito esperta e falante. Gosta de brincar com seus amigos , seja na rua ou no quintal de casa, está sempre criando novas brincadeiras. A que mais gostava era uma em que todos iriam até suas casas pegar roupas, sapatos, bolsas, lenços, colares entre outros acessórios para fazerem uma produção teatral . As peças eram colocadas todas numa caixa e cada criança escolhia o que mais tinham gostado com total liberdade. Depois de todos prontos, subiam no palco improvisado por eles, cada um a seu turno, e falavam o porque haviam escolhido aquele figurino, expressando suas emoções.

Nesse momento o pai de aninha acabara de chegar do trabalho e viu a filha vestida de forma extravagante, outros dos amigos vestidos de menina, e outras com roupas masculinas.

Então ele sentou num banco de pedra longe o bastante para que não fosse visto, mas que conseguia ouvir e ver as crianças com perfeição.

Então começaram com seus depoimentos, ou seja o espetáculo:

-Meu nome é Pedro, tenho sete anos, escolhi essa roupa porque meu sonho é fazer balet, a dança é como um remédio que me cura. Quando danço meu corpo sente a dor, o amor, a tristeza, a alegria.

A dança me faz sentir vivo! Certa vez falei aos meus pais que queria fazer dança, mas eles nada falaram. E quando estou nos treinos de futebol, imagino que estou num teatro lotado de pessoas e eu lá como bailarino dançando e vibrando com os aplausos do público.

O Pai de aninha ficou ali totalmente paralisado com cada declaração que as crianças iam fazendo cada uma por sua vez.

Alguns dos outros pais obrigatoriame teriam que passar por ali, era caminho de casa, e como também ficaram curiosos com o que as crianças estavam fazendo, ficaram ali, testemunhando aquele momento único e diferente.

-Meu nome é Larissa, tenho oito anos, meus pais me obrigam usar vestidos diariamente, quando escolho esssas camisetas do homem aranha eles não compram, falam que é de menino. Mas já sei ler e na etiqueta não tem escrito que é roupa masculina. Gostaria de me vestir de maneira mais confortável e sem nada me apertando e meus pais falam que eu preciso ter modos, respeitar, pois eles sabem o melhor pra mim. Na escola a professora fala que as crianças tem o direito de escolha, mas porque meus pais não me deixam escolher? Outro dia escutei meu pai falando com minha mãe, que tenho essa mania de querer ser menino, que sou estranha. Mas o que tem ser assim, e porque meus pais que amo não repeitam minhas escolhas, assim como eu respeito as suas?

-Meu nome é Rosinha, mas não gosto de ser chamada assim, queria que meu nome fosse Roberto, sempre quis ser menino. Tenho nove anos e não sei como falar isso com os meus pais.

Chegou a vez de Aninha.

-Meu nome é Ana Maria, mas todos me chamam de Aninha, tenho nove anos, e hoje não sei se quero ser menino ou continuar como menina, quando saímos eu e meus pais para fazer compras, geralmente eu escolho minhas coisas mas dentro daquilo que meus pais aceitam.Minha mãe sempre me ajuda, escolho sempre coisas de menina.Acho legal as coisas de meninos mas ficaria estranho se eu me vestisse como eles porque não é o meu estilo. Minha mãe é muito linda, sabe se vestir, papai chama ela de moça elegante, mulher fina. Eu não gosto de me vestir como ela, embora eu fico admirando quando ela está toda arrumada. Gosto mesmo é de short curto e tops, mas meus pais não deixam e ainda falam vulgarmente que isso é coisa de piriguete. Outro dia falei pra ele que isso é preconceito, que na escola somos orientados a respeitar o próximo e suas escolhas. E penso que devemos se respeitar onde quer que estejamos, dessa forma estaremos livres desse preconceito tolo que nos sufoca a alma.

Os pais que ali estavam se deixaram ficar, perplexos e paralizados não pronunciaram uma palavra. Cada um foi saindo dali em direção a suas casas com um tímido boa tarde e permaneceram mudos até que a caminhada aos seus lares fizesse digerir o desabafo das crianças que não compreendia, mas sentiam o preconceito dento de casa.

Mari Lindeboom
Enviado por Mari Lindeboom em 10/06/2017
Código do texto: T6023739
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