GAVIÃO - O CORAJOSO

Numa cidade muito rica, onde todos tinham tudo o que queriam, estudavam nas melhores escolas, os carros já eram tão modernos que até voavam, que havia uma família formada pelo papai Fernando, mamãe Clara e o filhinho Marcos. Joana também morava na casa e cuidava de Marcos.

Marquinhos tinha tudo, mas estava sempre triste, seus pais não tinham tempo para cuidar dele, passear, brincar, fazer coisas simples. Quem cuidava dele era a Joana, que o viu nascer e se dedicou totalmente a ele, já que ela não tinha filhos. Fernando e Clara trabalhavam demais, até tarde e quase não tinham tempo para ficar em casa. Certo dia, Marcos adoeceu e ninguém sabia o que era, nem os melhores médicos descobriam, e a Joana dizia que ele andava muito triste e seus pais, preocupados, resolveram fazer uma coisa que nunca haviam feito antes, tiraram uma semana de férias.

Ficavam o dia todo com Marquinhos, mas nem sabiam o que fazer. Marcos então pediu que toda a noite seus pais contassem uma história para ele dormir. Isso traria a felicidade que ele tinha perdido. E assim foi, cada noite era um quem contava a história e outro ficava também ao lado ouvindo. Às vezes precisavam repetir a mesma história de tanto que seu filhinho gostava. Em outras vezes, um ajudava o outro, já que não tinham o hábito de contar e imaginar histórias para crianças. Na última noite que estariam de férias, colocaram Marcos na cama. Disseram que iam contar uma história e que nunca mais deixariam de fazer isso. Procurariam chegar mais cedo e ficar com ele até dormir. Marcos então pediu para o pai contar a que ele mais gostava, a história do Gavião Corajoso. Fernando então começou:

-Era uma vez, um país bem distante que tinha várias cidades diferentes, a Cidade das Bonecas, outra dos Chocolates, a dos Blocos de Montar, a dos Monstros dos Pesadelos, essa ninguém gostava, das Frutas, dos Velhos Sábios, das Estrelas e a dos Meninos Corajosos. Todos os moradores das cidades se davam muito bem, mas tinham medo dos moradores da cidade dos Monstros dos Pesadelos. Esses moradores dormiam durante o dia e vinham assustar os outros todas as noites. Enquanto as pessoas dormiam, eles ficavam falando baixinho nos seus ouvidos sobre dragões, bruxas, monstros, madrastas más e outras coisas assustadoras. Os representantes das cidades resolveram que isso tinha que acabar. Mas quem iria conseguir essa proeza? Só podia ser alguém da cidade dos Meninos Corajosos. Marcaram então uma visita a essa cidade. Lá, cada menino tinha nome de um pássaro. Mas muitos estavam ocupados defendendo outras pessoas de outras cidades. Só quem estava livre era um menino ainda bem pequeno, magrinho, mas corajoso. Era chamado de Gavião. Chegando lá, foram logo conversar sobre o que deveriam fazer para acabar com aqueles monstros. Gavião, confiando na sua coragem, logo se ofereceu para juntar alguns de seus amigos e combater os monstros. Os outros ficaram preocupados com Gavião e perguntaram como ele faria isso, pois só a coragem não bastaria. Mas ele disse que levaria um amigo de cada cidade e assim conseguiriam.

No dia seguinte, Gavião começou a visitar todos os lugares e convidar um representante para formar seu exército de bravos lutadores.

Na Cidade das Bonecas ele chamou a Bonequinha de Porcelana, pois achou que se ela conseguia sobreviver anos e anos tão linda, deveria ser muito forte.

Na Cidade dos Chocolates, escolheu a maior barra que existia e pediu que o seguisse nessa empreitada, assim já teria mais um amigo.

Na Cidade dos Blocos de Montar, todos os blocos ajudaram e montaram um enorme robô, parecia bem forte.

Na Cidade das Frutas, Gavião não sabia quem escolher. De quem ele gostava mesmo era da Goiaba, a achava linda, parecia uma princesa das frutas. Mas pela necessidade e, querendo poupar sua amada, convidou a Jaca, porque era uma fruta bem grande, forte e cheia de pontinhas. Sim, poderia ajudar bastante.

Na Cidade das Estrelas, chamou a mais brilhante e de luz mais forte. Assim também poderia estar sempre iluminando o longo caminho que haveriam de percorrer.

Mas chegou na Cidade dos Velhos Sábios. O que fazer? Nenhum deles poderia ir junto. Mal caminhavam, não enxergavam muito bem, já estavam fracos. Gavião conversou com eles, cada um deu um conselho.

-Gavião, use a sabedoria para saber o melhor momento para atacar.

-Mas use também a paciência, não se apresse, tudo tem o momento certo.

E assim, cada um deu seu conselho. Quando Gavião estava saindo da cidade um velhinho o esperava com um presente na mão. E disse - Gavião, o que tem aqui é muito precioso. Ganhei do meu bisavô que ganhou do tio do avô dele. Não abra a caixa, a menos que perceba que nada mais há a fazer. Você saberá o que fazer na hora certa.

Bem, depois de todos reunidos, seguiram para a Cidade dos Monstros dos Pesadelos. Tinham que chegar cedo, enquanto dormiam, já que acordavam à noite para entrar nos sonhos das pessoas.

Chegando lá, entraram com cuidado e silenciosamente, trancaram as portas por dentro e começaram a gritar para acordar os monstros. A princípio eles se assustaram. Quem teria coragem de ir mexer com eles? E logo vieram para atacar Gavião e seus amigos com sopros de maldade e olhares de terror. A luta foi difícil, os medos eram muitos...

A Boneca de Porcelana, delicada que era, voou no primeiro sopro e se quebrou. A Barra de Chocolate começou a derreter com aqueles olhos vermelhos de ódio. O robô, tão grande, tomou logo a frente, mas caiu completamente desmontado com um tapa forte que um dos monstros lhe deu.

Gavião começava a perder a coragem. Seus amigos não estavam aguentando e ele, tão pequeno, fraco, já duvidava se conseguiria vencer.

A Jaca tomou distância e se atirou contra os monstros. Coitada, espatifou-se.

A Estrela, com medo, logo disse: Perdão, nem deveria estar aqui. Aliás, o que estou fazendo aqui? E se apagou...

Gavião se viu sozinho com todos aqueles monstros e lembrava dos conselhos dos Velhos Sábios: Calma, paciência, sabedoria, e...claro, quase esqueceu do presente. Se nada mais havia a fazer, era a hora de abrir a caixa. Gavião começou a correr de cá para lá, deixando os monstros meio tontos e enquanto isso ele abriu a caixa.

Nossa! Chegou a gritar. Mas é isso? Que decepção...

Uma pequena espada com um botão ao lado do cabo...

Bem, mas ele sabia que só tinha aquilo para tentar alguma coisa, sua última esperança. Apontou a espada na direção dos monstros e apertou o botão.

Imediatamente saiu um raio muito forte, uma luz que quase cegava, imaginem como incomodou àquelas figuras que só gostavam da noite. Além de ser uma espada de fogo, também emitia um som muito alto, irritante até. Os monstros não sabiam para onde correr, onde se esconder e, um por um, foram se desfazendo, sumindo, o monstro do medo, o do terror, o da tremedeira, das palavras assustadoras, da mentira...um por um...

Quando Gavião percebeu, não existia mais nenhum monstro. Então ele guardou a sua espada de fogo e, magicamente, todos os seus amigos foram se refazendo e voltaram ao normal.

Ah, que felicidade!

Voltaram para as suas cidades e todos gritavam de alegria! Na frente vinha Gavião e sua espada. Logo atrás os representantes de cada cidade. Todos pulavam, cantavam, gargalhavam, era só alegria. Nunca mais haveria pesadelo.

Nessa noite, Gavião dormiu tranquilo, sabendo que só teria bons sonhos. Lógico que ele sonhou com a sua amada Goiaba. No sonho eles se casavam, tinham muitos frutos e viviam felizes para sempre.

Marcos, que ainda não havia dormido, apesar do sono, abraçou Fernando e Clara, disse que foi a semana mais maravilhosa da vida dele. Papai, mamãe e seu filhinho ficaram emocionados e agora Marquinhos iria dormir sabendo que sonharia. Sonharia com uma família que aprendeu a dar um pouco de tempo uns aos outros e que sabiam valorizar o amor entre eles. Joana, atrás da porta, que havia presenciado toda essa semana e o que todos aprenderam, sentiu escorrer uma lágrima de felicidade.

E assim como nas histórias, a partir desse dia, Fernando, Clara, Marcos e Joana também viveram felizes para sempre.

Mariza Schröder
Enviado por Mariza Schröder em 24/07/2014
Código do texto: T4895298
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