Mausoléu

O sol despediu-se e o céu entristeceu-se, o vento gritou e as folhas fugiram. Os infelizes saíram do trabalho e foram para casa, o canto dos passarinhos cessou e deu lugar ao piar das corujas. Longe do barulho da cidade, no silêncio da morte, em um mausoléu esquecido a garota de olhos fechados descansava.

Acordou assustada e suando como se tivesse despertado de um pesadelo, puxou o ar, mas teve dificuldade de respirar, estava escuro tentou levantar-se, mas havia um bloco de madeira acima dela, alias por todos os lados, foi neste momento que percebeu onde estava: em um caixão. Tentou manter a calma, mas foi impossível ela começou a arranhar a madeira do caixão desesperadamente, e assim que conseguiu mover as pernas chutou até a madeira ceder e ela conseguir sair.

Desceu do caixão cambaleando, perdeu o equilíbrio e caiu no chão, seus pulmões se recusavam a colaborar, olhou para suas mãos estavam com uma cor estranha um branco puxando para o cinza contrastando com o vermelho seco de sangue em suas unhas. Depois de alguns minutos sua respiração voltou ao normal e sua cor foi melhorando até ficar quase rosinha.

Levantou-se recuperando o equilíbrio e seguiu até uma grande porta, estava trancada. Viu seu reflexo no vidro da janela e assustou-se, seu rosto não era mais o mesmo, estava magro, os olhos fundos, manchas escuras abaixo dos olhos e a boca suja de sangue seco. Pegou um castiçal de ferro e conseguiu arrebentar a porta.

Seus olhos não suportavam a claridade, o sol já tinha voltado, aos poucos foi se acostumando com a luz, e assim que conseguiu manter os olhos abertos apaixonou-se perdidamente pelo azul do céu, cansada da escuridão ela queria voar e mergulhar na imensidão azul. Queria sentir-se viva novamente nem que fosse por um breve momento, queria sentir o céu em suas mãos e tocar as nuvens. Então, lembrou-se da sua morte, como ela estava de volta? Viva, respirando? Como era possível?

Examinou seu interior e sabia que só uma coisa seria forte o suficiente para trazê-la de volta dos mortos, forte o bastante para acordar alguém que não poderia mais: aquele tormento, aquele maldito sentimento que ela nunca conseguiu se livrar. Aquela paixão sem sentido, aquele desejo inalcançável, aquele motivo desesperado.

Como aquele coração que nem batia mais poderia voltar a sentir aquilo novamente? Como pode brotar em um coração adormecido na dor? Como pode insistir? Como pode lutar? Maldito sentimento que nunca se rende nem diante da frieza da morte e da não realização! Paixão sem remédio.

Era um sopro de vida, tinha trazido ela de volta a vida, mas ao mesmo tempo havia causado sua morte. Existem sentimentos fortes o bastante para te matar em vida e ou para te resgatar da morte. Ela não podia viver sentindo aquilo, seria uma alma amaldiçoada em vida, ao mesmo tempo que aquele sentimento a mantinha viva também a matava por dentro.

Voltou para dentro do mausoléu, e com ajuda de uma cruz de ferro que havia ali arrancou seu coração e jogou-o dentro do caixão quebrado, o sangue escorria, a dor latejava, mas era a dor da libertação. Agora sim estava viva, ela era a fênix que retornou, ela era a cidade que se reconstruiu.

Vanessa Juliana
Enviado por Vanessa Juliana em 24/05/2021
Reeditado em 25/05/2021
Código do texto: T7263346
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