A pirunga

Chamávamo-la de pirunga. Nunca vi ou ouvi tal expressão alhures. O que mais se aproximava desse estranho nome era o nosso hino. Mas esse era do Ipiranga, e muitas vezes grafado, ou flagrado, ainda que sagrado, com o ípsilon. Estranho isso, o Y não aparecer na sua própria descrição. Ou seja, Y não é com ipsilon... Mas que ele se console com o W, o dábliu, que nem pode ao menos dizer que é grego.

Mas e a pirunga? Não era mais que uma tijela (gê ou jota agora?)grande, esmaltada, e branca feito a Via-Láctea. Mesmo de dia, quando a estelar de nós todos se escondia.

Tínhamos que ter um cuidado danado com a pirunga, para que ela não se nos escapasse das mãos. Um tombo, e já estaria perdida. Que no caso dela era igual a descasque, ou um desfalque.

Servia para as saladas, tamanho família. Mas era cheia de nove-horas: no porta-pratos não cabia, e pendurá-la, como, se gancho ou furo não havia?

Aí foi que ela própria comprometeu seu futuro. Eu que a deixei um dia cair - sem intenção, sobre o piso de vermelhão - é que juro. E o descasque virou furo.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 10/03/2015
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