OS PRESENTES DE KLAUS

Da última vez que teria sido visto com vida, Klaus não se despediria. Tinha uma pressa nervosa, uma culpa de urgência tardia. Não havia colocado em sua agenda e, agora, faltando menos de um dia, precisava comprar presentes para toda a sua família.

Ingressaria no Shopping com uma determinação desigual, a velocidade de um trem-bala, e a ferocidade de um animal. Loja após loja, cartão de crédito, nota fiscal, não pararia até chocar-se fatalmente com seu destino-final.

Sua lista de compras foi rapidamente riscada, mas lembrou-se então de sua jovem enteada. Como estenderia suas mãos, e em suas mãos, nada? Foi afundando então em uma grande cilada: lembrou-se do porteiro, do padeiro, e do vizinho de sacada. Vinho tinto, meia soquete, pegador de salada.

Presente após presente, foi criando-se um estranho efeito: por trás daquelas sacolas mal via-se direito aquele pobre presenteador, orgulhoso de seu feito. O que Klaus mesmo queria era ver-se satisfeito de que cada presente regalasse-lhe o respeito, mas jamais imaginou acabar daquele jeito.

O último presente que compraria – não se sabe à qual ente – encaixou-se bem ao topo do mosaico incongruente, e o teto de tal monte despencou-se, de repente. O que juram testemunhas, sobre o bizarro incidente, que logo foram resgatar o ilustre homem contundente, não puderam acreditar no que viram à sua frente: Klaus, o presenteador, não estava mais ali presente.

Josadarck
Enviado por Josadarck em 25/12/2020
Código do texto: T7143742
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