O Julgamento #M#

Ele trabalhava na segurança daquele prédio do judiciário no horário noturno.

Havia substituído um colega que logo nos primeiros dias de trabalho desmaiou e pediu pra ser substituído. Não queria trabalhar naquele lugar nem durante o dia.

O colega que revezava com ele o aconselhou a ficar sempre do lado de fora do prédio.

Disse que seria mais seguro. Ele não entendeu, mas seguiu o conselho.

Várias vezes teve que entrar pois ouvia portas baterem e tinha que ver o que era.

Por fim resolveu ficar lá dentro.

Ouvia passos arrastados e barulhos como se fossem correntes sendo puxadas pelo chão.

Até ele que não era medroso ficou muito apreensivo.

E as portas batiam e ele não encontrava nada de suspeito.

A noite foi longa e no final do turno ele estava exausto e com os nervos à flor da pele.

Conversou com o colega e ele disse que muitas noites eram assim. Preferia ficar do lado de fora pois ali sempre passava alguém pra conversar um pouco e a noite passava logo.

Ele começou a procurar uma explicação para aqueles fenômenos.

Conversou com outros vigilantes que trabalharam lá antes dele.

Há muitos anos aquilo ocorria lá.

Conversou com padres, pastores, espíritas e espiritualistas.

Numa noite um médium foi lá.

Eles andaram por todos os cantos e ele disse que havia uma energia muito negativa ali.

Tentou comunicação. Não conseguiu sozinho.

Falou para entidade que estava ali que se precisasse poderia se comunicar na sessão do Grupo Espírita.

Em muitas noites os barulhos continuavam.

Até que uma noite, no Grupo Espírita o médium psicografou uma mensagem:

“Era sábado de carnaval e a praça estava cheia de foliões.

Muitos bêbados faziam arruaça. Muitas brigas aqui e ali.

Próximo a mim começou uma briga.

Um homem foi esfaqueado. Morreu no local.

Eu tinha apenas vinte e dois anos e aquela cena me deixou atônito.

Tinha bebido algumas doses e minha cabeça girava.

No meio da confusão a faca caiu aos meus pés.

Inocentemente eu a peguei.

A polícia chegou e me levou.

O jovem morto era filho de uma família milionária. Precisavam apresentar um culpado.

E eu fui acusado por mais que dissesse que não estava envolvido.

Fiquei preso um tempo e saí para aguardar o julgamento em liberdade.

Não conseguiam provar minha culpa. Ninguém testemunhou contra mim.

Nem eu conseguia provar minha inocência. Ninguém testemunhava a meu favor.

Informalmente sabia quem era o assassino, mas ele se negava confessar.

Deixou a culpa recair sobre mim.

Eu jurei que nunca mais voltaria para a prisão.

Dois anos depois fui julgado.

Fui condenado

Tinha levado comigo ao julgamento um frasco de veneno e ali mesmo eu ingeri.

Nem cheguei a ser socorrido. Tudo ocorreu ali mesmo no tribunal do júri.

Eu tinha ódio, rancor e sede de vingança em mim.

Eu me recusei seguir meu caminho.

Jurava vingança a todos, juiz, promotor, jurados e sobretudo ao assassino.

Meu espírito estava transtornado e eu começou a obsediar um e outro.

O assassino sofreu um acidente. Ficou tetraplégico e se matou um tempo depois.

Por envenenamento como eu.

O juiz teve graves problemas mentais e não condenou mais ninguém.

O promotor caiu em desgraça e acabou na miséria.

Os jurados tiveram sua paga. Uns morreram, outros adoeceram ou enlouqueceram.

Quando quis seguir meu caminho ele estava fechado por todo o mal que fiz.

Mas eu me recusei pedir perdão e redimir minha culpa e então fiquei vagando.

Tento todos os dias encontrar um rumo e então fico vagando no lugar onde saí da vida.

Abro e fecho portas, ando pra lá, pra cá, arrasto minhas correntes.

Meu espírito atormentado já não aguenta mais.

Eu me arrependo de tudo que fiz, peço perdão à minha família e a todos a quem fiz mal.

Todos que estejam neste mundo ou na dimensão em que estou.

Meu espírito está sinceramente contrito.

Eu preciso de ajuda. Preciso de orações, muitas orações para que seja perdoado.

Só assim meu espírito poderá seguir seu caminho e ter paz.

Eu suplico que me ajudem.”

Por algum tempo foram feitas rodas de oração, muitas sessões por aquele espírito.

Por fim aquele lugar teve paz e as ocorrências noturnas cessaram.

E eles souberam que ele tinha seguido seu caminho e encontrado finalmente a paz

(Baseado alguns fatos reais.)

Nádia Gonçalves
Enviado por Nádia Gonçalves em 15/01/2024
Reeditado em 15/01/2024
Código do texto: T7977305
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