O Posto avançado

O sol do deserto coroava sua cabeça com um calor implacável, ele já não sabia mais para onde ia, nem de onde vinha.

O calor vindo de todos os lados embaçava sua vista, o fazendo ver coisas, coisas que não existiam.

A garganta seca, o cansaço, tudo contribuía para ele desistir e entregar os pontos.

Porque continuar? Indagava ele.

Seria bem mais fácil se deixar cobrir pela próxima tempestade de areia que viesse.

Já tinha quase morrido na anterior, resmungava.

Tentava limpar esses pensamentos da mente ao mesmo tempo em que limpava o suor do seu rosto com aquele lenço sujo com a sua má sorte.

No cantil só lhe restava um último gole de água.

Quem sabe dois. Talvez!

Ele precisava resistir a sede.

Precisa se concentrar, recuperar o fôlego, continuar andando.

Já tinha atravessado outros desertos antes. Mas, esse era diferente de tudo o que ele já tinha visto.

Parecia estar vivo, movendo suas dunas constantemente, como se o colocasse em um labirinto feito de areia, o levando a andar em círculos de um lado pro outro, o levando para a morte certa.

Essa sensação mórbida o levava a questionar sua sanidade, pelo fato de ter sido o único do pelotão a se oferecer como voluntário para levar a mensagem do comandante até o posto avançado.

Um posto que muitos até comentavam ser assombrado.

Outros ele já tinha ouvido dizer que tal posto nunca existiu.

Mas porque mandariam uma carta para um lugar que não existe? Se perguntava.

" Se arrependimento matasse". Pensava.

Foi até estranho ninguém mais ter se oferecido, mas agora ele entendia o porque.

O deserto tinha cheiro de morte.

Não havia nenhum vestígio de vida.

Nenhum, pelo mesmo que ele tivesse visto nesses quatro dias de travessia.

E, ainda restavam pelo menos mais dois ou três para que ele chegasse no seu destino.

Se é que ele estava na direção certa.

Com a mente inundada por tais indagações,

molhava a boca dosando o pouco de água que lhe restava.

Refrescando a língua o suficiente pra amenizar o fogo da sede que lhe consumia as forças.

As vezes olhava pro céu esperando encontrar ao menos abutres voando em círculos sobre ele.

Mas, nada.

O que de alguma maneira, para ele era um bom sinal.

Embora, pensasse que ninguém merecia ter demônios famintos sobrevoando sobre sua cabeça agorando a pouca sorte que lhe restava.

A angústia que aquele calor lhe causava, aumentava cada vez mais e pra piorar a situação, sua barriga começava a dar fortes sinais de que a fome já se tornará um tormento tão cruel quanto a sede.

Comer alguma coisa era inadiável.

E, já faziam três dias que ele não comia nada.

Perdera o camelo e as provisões na última tempestade.

Tempestade traiçoeira murmurava ele, veio a noite enquanto ele estava dormindo.

E aquele velho sargento dissera que o deserto era como qualquer.

Qualquer outro uma ova, praguejava ele.

Aquilo era um inferno com a boca escancarada, prestes a lhe engolir vivo.

 

CONTINUA...