Fora do catálogo
Encontrei Jones na copa do escritório, segunda de manhã.
- Liguei pra você ontem à noite... seu telefone só dava sinal de ocupado.
- Eu estou desconectando meu telefone da linha antes de dormir - disse ele, servindo-se de café.
- Telefonemas importunos?
- Algo assim... meu número parece que é semelhante ao do fax de alguma empresa. O telefone toca uma ou duas vezes por semana, sempre de madrugada. Quando eu atendo, só ouço aquele barulho estridente do fax tentando conectar.
- Curioso... quem mandaria um fax de madrugada?
- Como vou saber? E quem ainda usa fax nos dias de hoje?
Dei de ombros.
- Praticamente ninguém que eu conheça.
E, de súbito, me deu um estalo:
- Ei, que tal colocarmos um aparelho de fax e ver o que estão tentando transmitir?
- Onde vamos achar um aparelho de fax? - Questionou ele.
- Devemos ter um jogado no depósito... vou ver se acho e descolo uma bobina de papel térmico na validade.
* * *
Demorou cerca de uma semana para termos uma resposta. Finalmente, Jones chegou um dia exibindo duas páginas impressas em papel térmico. Exibiu-me a primeira.
- Veja o que recebi esta noite!
Examinei a folha. Era uma lista de compras, aparentemente, embora os itens fossem um pouco estranhos.
- Windows 95 Platinum? Windows 98 Beta? Disquetes Sony EDS de 5,76 MB?
- Nunca ouvi falar de Windows Platinum, 95 ou não. Agora, olhe a data do fax.
- 1997. Essa mensagem ficou presa num loop de espaço-tempo por 20 anos?
Jones riu.
- Eu mandei um fax de volta para o número que consta na mensagem.
- E?
Mostrou-me a segunda página. Nela, havia apenas uma mensagem de erro: "este número não consta do catálogo".
O certo é que, deste dia em diante, nunca mais Jones recebeu ligações de fax misteriosas na madrugada.
- [16-08-2017]