Clarice e a casa à beira da estrada V

O pai

Barulho de passos ecoaram se aproximando delas e a menina levantou os olhos ansiosa para ver quem era. Soltou um grito estrondoso:

“Pai!”

A mulher que escovava os cabelos apareceu na porta. Os dois velhos que brigavam também. Os três admirados com o que estavam vendo. Clarice sentiu as bochechas enrubecerem ao perceber que olhavam para ela. Sua voz não saía. Voltou a olhar para o homem que a encarava entusiasmado. Engoliu seco e perguntou a ele:

“Cadê a menina?”

Ele respondeu:

“Quando a canoa virou, eu desmaiei e ela desapareceu na água. Acordei na margem e eles não notaram que estávamos demorando, somente minha esposa, que em desespero, mergulhou no lago e não retornou. Ficamos reféns de nossa culpa, e presos nessa mesma vida, até que decidi te encontrar. Você voltou, minha filha! Toda vez que você passava por essa estrada, eu te chamava, mas você não parava!”

Clarice empalideceu. Trêmula, respondeu:

“Devo estar enlouquecendo, vendo fantasmas da minha vida passada?”

Apressou a caminhada até o carro tentando não surtar. Escutou então a pergunta:

“Você nos perdoa?”

Ela entra no carro sem olhar para trás. Não consegue dar partida e tremendo muito, percebe que não está só. Olha no espelho e vê a menina. Desce novamente e pede para garota descer. Os três se aproximavam do portão e a menina fala:

“Responda o meu pai, por favor!”

Por via das dúvidas, Clarice se vira para eles e diz:

“Estão perdoados, eu é que não quero vê-los de novo”!

A menina se juntou a eles. Todos acenam para Clarice e como fumaça, vão desaparecendo por entre as sombras das árvores.

Debruçada no volante, Clarice escuta barulho de cirene e uma voz lhe chamar:

“Senhora! Senhora, pode me ouvir?”

Ela abre os olhos e está diante de um bombeiro. Algo quente escorreu de seu supercílio, se sentia tonta... Havia sangue. Ela pergunta o que estava acontecendo, ao que ele responde:

“A senhora sofreu um acidente de carro. Fique calma! Iremos tirá-la daí.”

Ao virar a cabeça para o outro lado, pela janela do carro, Clarice reconhece a imagem familiar da velha casa à beira da estrada.

PS.: Continua...

Michele Valverde
Enviado por Michele Valverde em 28/06/2017
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