AUTORIDADES

Amanda trabalhava em uma pequena agência do Banco do Brasil na Asa Sul da cidade de Brasília. Amanda odiava o serviço porque precisava orientar os clientes sobre o funcionamento dos caixas-eletrônicos, manter os idosos em seu caixa preferencial, manter uma certa ordem na sala entre outros afazeres, mas como eram apenas três máquinas caixas, o atendimento nunca se tranquilizava e a fila do atendimento não diminuía, pelo contrário, às vezes dobrava dentro da sala, saía fora da agência.

Um dia, há alguns meses, parou em frente ao banco um carro luxuoso. Dali saíram três soldados com fuzis nos braços e depois um quarto homem vestindo um terno escuro que poderia ser qualquer autoridade: delegado da polícia federal, deputado estadual, senador da república, general do exército ou tudo isto junto. A autoridade não se apresentou. Entrou na sala, dirigiu-se ao caixa eletrônico da fila mais comprida, empurrou um idoso e passou a operar a máquina ao lado dos seguranças.

Amanda não estava bem porque era muito adolescente. Mas vendo a descortesia, dirigiu-se à autoridade, bateu a mão no teclado do caixa-eletrônico e disse:

- O senhor deve pegar o fim da fila como todo mundo!

O homem examinou Amanda devagar, olhou sua escolta armada e soltou uma grosseria antes de sair apressado:

- Funcionária idiota!

Amanda disse ainda à mãe:

- Quando o tal homem preferiu sair com os seus seguranças, talvez para outra agência, as pessoas da fila voltaram a respirar e até bateram palmas para mim.

Amanda se sentiu importante. Sentiu-se importante por ter tido a atitude do bloqueio. Foi a ordem contra a autoridade que naquela hora não autorizou nada.

Segunda-feira, uma semana após o incidente com a autoridade, Amanda, quando voltava para casa, foi atropelada por um carro. Dizem que o motorista pareceu não perceber a passagem da menina, não freou e fugiu. Amanda tinha vinte e dois anos e morreu no meio de sua pouca adolescência. Deixa pais e um irmão de dez anos de idade.

O irmão declarou ter uma profunda admiração pela irmã porque ela sempre fora uma pessoa intrépida. (Algumas pessoas são intrépidas. Isto o irmão aprendera naquela semana). Não tinha pra ninguém.

Somente a mãe achou muito estranho o acidente

DO LIVRO: "TOUROS EM COPACABANA"

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 04/04/2017
Reeditado em 10/07/2019
Código do texto: T5961194
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