Conquistado
Depois de consultar o GPS, o corretor parou o carro à margem da estrada.
- Aqui? - Perguntei.
- Aqui - respondeu ele, abrindo a porta do motorista.
Descemos num descampado, pastagens verdes de um lado e de outro. Mais à frente, colinas baixas, algumas ostentando cercas de arames farpado subindo por suas encostas. Umas poucas árvores isoladas. E só.
- O vizinho mais próximo fica a 5 km depois daquelas colinas - disse ele, apontando. - Você não vai ter companhia.
- E pela estrada?
- Esta é uma estrada vicinal. Estamos a 15 km da estrada principal. Normalmente, só é usada para escoar a produção das fazendas próximas. O tráfego é baixo, mesmo na época da safra.
- Parece bem isolado - ponderei.
- É o que você procura, não é? Lugar isolado, próximo à uma estrada com baixo volume de tráfego...
- Sim. E quanto ao abastecimento de água?
Ele apontou para a base de uma colina próxima.
- Há uma fonte natural bem ali. Não dá pra ver o riacho por causa do mato alto, mas você não vai ter problemas de abastecimento.
Balancei a cabeça em concordância. Mas ainda havia um último ponto a esclarecer.
- E quanto ao sigilo?
- Total - respondeu o corretor, apoiando as costas no carro. - Os operários serão trazidos de fora do estado. Ficarão acampados no próprio terreno até o término da obra e nem saberão que lugar é esse. Não terão qualquer contato com você.
- Negócio fechado - decidi.
Apertamos as mãos.
- É sempre motivo de satisfação quando conquistamos mais um cliente, - disse o corretor, no que parecia ser um discurso ensaiado - mas pessoalmente, minha maior satisfação é saber que estou resguardando um pouco do que somos hoje para o futuro.
Olhei para a paisagem campestre varrida pelo vento e retruquei confiante:
- Pois que o futuro sobreviva!
[06-01-2017]