ARQUIVO "MANÚ M´RÁ": CONFIDENCIAL

Contam que havia um homem, cuja visão sobre a fé popular, era a mais ridicularizante possível. Ela não acreditava em nada.

Quando se falava de fé, dizia que era coisa do povo. Quando se falava sobre os mistérios da floresta, dizia que ninguém provou e assim vivia, descrente.

Este homem casou com uma descendente de índios, teve um filho, que amou demais, e por ser um grande militar, foi transferido para Manaus e disse ao filhos que quando voltasse, traria da zona franca, um carrinho de polícia para ele.

Dias depois, pela manhã, o pai embarcou de avião, e á tarde, do mesmo dia, o noticiário da TV, anunciou, que um avião havia caído na floresta amazônica, e não havia notícias de sobreviventes. A região era de intransitável por terra.

A mãe, ouviu junto com filho, e sem chorar, apertou no peito, a folha de uma das plantas que possuía na sua sala, e o menino, sem saber o que aquele gesto significava, repetiu o mesmo gesto, mas,.. apertando o caule, da mesma planta, á cabeça perguntando: “ Mamãe. Ele volta?”

O tempo se passou, o menino cresceu dizendo que buscaria seu pai de volta prá sua mãe e seriam felizes e ele dirigiria o carro de polícia.

Certo dia, já um rapaz, chegou dizendo em casa, que seguira carreira militar, igual ao pai,.. e a mãe ouvindo aquilo, deixou, sem desejar, o prato dela cair ao chão, e nele se quebrou. Em pedaços.

Já militar, foi enviado para uma missão reservada na região da “Cabeça do Cachorro”, lugar hostil e de muitos mistérios contados e nem sempre escritos pelo povo do lugar.

Numa tarde, sua mãe se despediu dele,.. foi dormir, pois já tinha alguma idade, e ele seguiu em viagem em missão.

Á noite, na TV, a mãe ouviu o noticiário, de que um helicóptero militar, havia caído e não havia sobreviventes, embora fossem treinados, num Centro de Operações na Selva.

Ao ouvir á notícia, á mãe tremeu e disse em voz alta sufocada: “ Arú me tá odó. Se á motí: Atí,.. atí ,.. atí” e desmaiou, sem quaisquer auxílios de socorro á sua vida, já frágil.

Na floresta, contudo, o outrora menino, hoje um rapaz, havia sobrevivido, pois pulou de paraquedas, e ficou preso entre galhos altos das árvores ( as “Ajá k´áras” ), durante horas, sem comer ou beber o suficiente, e á noite, pode ouvir os horrores, sons emitidos por animais invisíveis, e os carapanãs, lhe picavam, até que pela manhã, cortou as cordas do paraquedas, e caiu ao chão úmido e se pois á caminhar, á procura de um rio para seguir, pois já estava sem água e a garganta, dias depois, já começa a secar e ele de tão fraco, já não conseguia caminhar.

Numa das noites, certo de que não mais conseguiria sobreviver, se deitou ao pé de uma árvore e sentiu frio, o frio da morte, e sem força, entregou seu corpo ao sono, supondo ser o final.

Em dado momento, ouviu um assobio,...mais e,.. mais outro. Foram três assobios longos e sucessivos, quando deitado, viu a sua frente, uma luz azul no chão, e um pé cascudo de tanto caminhar.

Com um pouco de força, que ainda lhe permitiu levantar a cabeça, viu que estava diante de um índio, um pajé, envolto em luminosa áurea, que lhe estendeu a mão, e o levantou.

Sendo, por gesto com o dedo indicador á boca, recomendando, pelo índio, que não falasse nada, foi conduzido pelas mãos grossas dele, até, avistar uma nova luz, agora amarela suave, porém pequena. Ao chegar mais próximo, o índio indicou o objeto numa caixa e ao ser aberta, rapaz, viu que era um carrinho de polícia, se lembrou do seu pai,.. e chorou colocando criança que não havia crescido.

O índio,.. vendo tudo aquilo, disse: “ Tatá Mó´ró,...tatá”, gesticulou chamando o rapaz á prosseguir e assim fez, até chegar próximo aos destroços do avião, aquele, que seu pai tripulava, antes de cair, e dele, ouviu sair uma voz que falo: “ MEU FILHO,..MEU FILHO”. Ele fixou o olhar, e viu uma caveira fardada, e o índio sumiu.

Momentos depois nos destroços, vasculhou e conseguiu achar um velho rádio de comunicação e pediu socorro, que horas depois, veio lhe buscar, ainda com vida.

Já numa enfermaria de um hospital da Força, foi interrogado por militares, durante a madrugada e depois por um grupo de homens, paisana, que vestiam, terno cinza e falavam pouco,.. só o necessário.

Por fim,..no laudo militar, o rapaz foi tido com inválido e aposentado devida a loucura atribuída, mas,.. no laudo dos homens de ternos cinza, estava, misteriosamente escrito no envelope: SIGILOSO. CLASSIFICAÇÃO, ULTRA SECRETO. Ministério da Defesa.

Sandive Santana / RJ.

Sandive Santana
Enviado por Sandive Santana em 20/08/2016
Reeditado em 20/08/2016
Código do texto: T5734263
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