PRESENÇA DO ÍNDIO EM MINHA VIDA

Dizem que aquilo que nos constitui a alma, de algum modo, pode ser observado, na relação com meio a nossa volta. Pode ser o clima de um lugar, o sabor de uma comida, ou um utensílio artesanal exposto. Hoje,.. aos 54 anos de idade, revisando minha vida, depois de uma vivência com o espírito de um índio, pude constatar como a presença da cultura deles, marcou minha vida.

Quando criança, assistindo aos filmes norte americanos, nos quais personagens de indígenas eram formulados, neles me detinha a atenção, em especial, pelo manejo e tiro preciso, com o arco flecha.

Com o passar do tempo, detive minha atenção, mais aprimorado, num figura das aldeias: Aquela que pela vidência, podia indicar o futuro de guerreiros, mulheres e da tribo, ao mesmo tempo em que poderia reconhecer, assim como no filme intitulado “UM HOMEM CHAMADO CAVALO”, quem embora branco, era de algum modo dos seus.

Com uns 07 ( sete ) anos, meu pai levando eu e meus irmãos para passear ao arredores da praia de ramos, em dado momento, num espaço de escoteiros, fomos apresentados á um índio, cuja corpulência e longo cabelos, destoavam do biótipo comum na época, e ainda hoje tenho lembrança dos seus traços fisionômicos.

Aos 08 ( oito ) anos de idade e residente no bairro de Olaria no Rio de janeiro, já está tão envolvido com o que era do índio e que esta em mim, que iniciei um planejamento de um brincadeira de rua, não qual, haveria, mocinhos e índios, e eu seria um deles.

No ano seguinte, já com 09 ( nove ) anos de idade, meu pai, Sr. Silvestre José de Santana, Militar do Exército, foi transferido para Manaus, capital do Amazonas, e lá estudando, no colégio Nossa Senhora Aparecida, no bairro de mesmo nome, pude conhecer o Museu do índio e no dia seguinte lá estava eu tentando fazer um colar parecido com um dos que vi na ocasião para mostrar á Professora Fátima Falabella.

Na convivência com a sociedade local, pude ver algumas pessoas, com traços indígenas, e fixava o olhar sem saber o que perguntar. Apenas olhava. E foi acompanhando meu irmão Silvande, á casa de Moacyr, filho do Artista plástico Moacyr Andrade, que vendo legítimas flechas, podendo perceber detalhes que algo mais em mim fixo, mas ainda sem poder tecer comentários, pois tinha pouco conhecimento sobre o tema e mesmo meu pai tendo trazido de São Gabriel da Cachoeira, alguns exemplares do artesanato realizado nas “Missões”, local, fixei um pouco mais de atenção ao cocá e ao tipiti. Lá, em Manaus, minha que era da Umbanda, passou a incorporar com mais frequência, o Caboclo Javari ( nome talvez oriundo de Jawari, palavra Kamayurá ) e nesta mesma época, comecei a me interessar pela relação com espíritos.

Tendo sido, novamente, transferido de estado, mas desta vez, Pernambuco, somos residir em Recife e lá quando me preguntaram o que desejava no meu aniversário de 12 ( doze ) anos, pediu um Arco e flecha e ganhei para minha felicidade da minha mãe. Atirar com ele e acertar era tudo que de melhor poderia haver em minha vida.

Durante algum te fiquei sem me dá conta, sobre o interesse por índio e tudo o que lhe fosse assim. Nesta época estava começando á namorar,.. e talvez os prazeres da carne, me subtraísse ás atenções e nesta época, passei a frequentar a FEP – Federação Espírita Pernambucana no bairro do Espinheiro, Casa de Itagiba,..( nome indígena ) e onde assisti as palestras de Alfredo Azevedo, Brás Cardoso Teti, Holmes Vicenzi e Edsom Queiroz, dentre outros.

Com 17 ( dezessete ) anos de idade, vindo para o Rio para o Rio de janeiro/ RJ, passei muitos anos, dedicado ao família e ao estudo e nem namorava. Na época a situação era difícil. Tudo o que precisava era de uma formação, emprega e dinheiro. Contudo, foi aqui, na cidade maravilhosa, que anos depois voltei a ter contato com o que dizia respeito aos índios.

Com 42 anos, conheci um mulher, que se dizia índia, de nome Tiaraúra, e conversou comigo sobre sua vida com seu pai na floresta e dela sobre algo sobre iniciação.

Já com 48 ( quarenta e oito ) anos de idade, e já em pleno exercício da mediunidade, fui visitado por um menino índio que me mostrou um suposto irmão seu mas cujo face não aparecia. Bem,.. acostumado a lidar com espíritos e suas representações, deixei prá lá e me ative a dialogar, com o menor, que comunicou a palavra “ Kwari”. Dentre outras.

Dias depois este mesmo índio, me vendo deitando no sofá da sala, me convidou á levantar, mudar de roupa para sair, e gesticulou de modo a me fazer entender que o tempo estava se esgotando. Então levantei sem saber, exatamente, para onde ele estaria me levando e de rua em rua, dobra aqui e ali, chegamos á UERJ – Universidade do Estado do Rio de janeiro / RJ, onde, naquele dia, estava ocorrendo um evento de encontros de culturas indígenas, promovido pelo PROEPER – Programa de Estudos e Pesquisas das Religiões e o PRO ÍNDIO – Programa de estudos sobre os índios, da mesma universidade, na época coordenado pelo Professor ( PhD ), Paulo Bessa e conduzido por Telma Gama.

No evento acima, assisti a várias palestras e um realizada por um índia de nome Djatxy Radjy, uma Guarani do tronco Tupi, mais conhecida como Jacira Monteiro, que ao iniciar sua palestra e indagando á plateia sobre o quem poderia dizer o que estava acontecendo, eu então me arrisquei, comuniquei o estava vendo por meio da vidência e ela confirmou. Para mim, foi um grande momento, aliás, não menos importante, que os vividos, na aldeia Maaracanã, com kauxipinia Korubo ( Korubo do Amazonas ), Niara do Sol ( Cariri xocó ), Doityro ( Tukano do Amazonas ), que disse que me daria um nome e com José Guajajara. Todos foram de um fidalguia exemplar.

No mesmo evento, conheci, muitos indígenas e me propus a dialogar e um deles, foi com o Pajé Sapaim, um Kamayurá, que ao me receber na casa que o recebia , em Copacabana, sempre que via ao Rio de janeiro, ainda á calçado em caminho á Praça Siqueira Campos, me disse: “ Olha. Deixa o sinal abri, prá passa. Mamaés, disse,( CENSURADO )...

Depois que conseguimos atravessar, ela acendeu o charuto ( um “Talviz”, pequeno ), e conversou detidamente comigo, confirmando que o que eu está vivendo era real, no campo espiritual.

Depois do encontro com Pajé Sapim, estive assistindo Torê na aldeia Maracanã e lá me reuni e conversei com Zahy Guajajara e Tapixi, a beira da fogueira. Com ela, aprendi muito e muito conversamos sobre Encantados.

Sobre os Encantados, recebi a visita do “Irí-ú”, que me trouxe uma iniciação mais profunda, e me levou de volta á Manaus, por meio de uma via mística que me emergiu em um riacho de Igarapé, onde vi meu o que disse ser meu povo.

Já com idade avançado aos meus 54 ( cinquenta e quatro anos ) de idade e dirigente de um Centro Espírita, fui á um evento no Parque de Madureira, em companhia de Larissa Barros, promovido pelo amigo Ivanir Santos ( Bàbálawó ), lá reencontrei Tiaraúra que me reconheceu e presenteou com um maracá e logo em seguida, me aprontou um cocá de penas azuis, que de um modo estanho me impressionou, mais pelo modo como ela falou, do que pelo cocá em si..

O Centro que dirigia com Elza Santos, evoluído para categoria de Tenda de Caboclo, segunda a Encantada Bela D ´Ojuá, e por fim, elevado á de Ilé ( o Ilé Osún Araiye ), por O´Barah, nele, recebi a visita de um espírito de índio, chamado Cacique Mo´rá,.. e depois de ser voluntariamente, submetido á um ritual de iniciação por ele ministrado em mim, concluiu que: (1) Tenho 02 ( duas) designações espirituais: Uma africana e outras Indígena e teria que me aplicar á apenas uma delas. (2) Meu nome é “Mu ri á” ( significa, Irmão por afinidade. (3 ) Seria um Tatá, ( 4) Meu cocá teria penas na cor azul,( 5 ) que o Maracá, ganhei, por reconhecimento da índia Tiaraúra ( Pataxó / BA ) tinha que ser utilizado em ritos domésticos, ( 6 ) O tawá ( espécie de charuto ) pequeno á médio , seria um instrumento de trabalho em consultas á consulentes (7 ) Que minha comida seria aquela que o espírito de um jovem índia, me passou para psicografia e, por fim, que meu centro, não seria mais Centro, Tenda ou Ilé, mas sim um “ Ocoara m´assú” ( Significa minha grande casa no idioma tupi neenhengetú), e a (8) espiritualidade poderia ser assimilado com Kamayurá e me recomendou fazer e utilizar o Kwa –rí de madeira.

Hoje estou aqui escrevendo sobre tudo isso, afim de viver,.. e só viver,.. pois desempregado, há anos, não tenho mais o que mostrar que sei fazer para me auto sustentar, depois me atuo explorando, apendi e exercitei fartamente, para edificação de meus currículo, a arte de cozinhar, desenhar, projetar, pintar, esculpir, criar cursos, lecionar e agora, penso eu que por fim,.. escrever. Contudo, mesmo que não tenha sido bom ou útil ao ponto que desejei tudo o quanto fiz, saibam,.. esta foi, parte da minha vida, reconhecido por índios e seus espíritos.

Obrigado.

Sandive Santana / RJ.

Sandive Santana
Enviado por Sandive Santana em 18/08/2016
Código do texto: T5732092
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