PROFANA CANTORIA (dedicado ao amigo poeta Antônio Jadel)

 

* O conto presente nasceu, a partir de um comentário do poeta, num conto recente meu de aventura/faroeste.

 

 

 

 

Depois do mais recente duelo na Cidade de Utah, o Sallon Hotel Blue Night, abre o seu palco, para a apresentação da cantora de carnes generosas e macias, dona de uma voz deliciosamente rouca, Christina Gast Par, que estava ficando famosa nos recantos musicais do País. Tudo para aproveitar os turistas que ainda estavam na Cidade.

 

Os olhos esverdeados, delineados de negro, aliados à boca rubra, sempre entreaberta, misturada à uma voz gostosa, fazia o sangue correr mais quente nas veias masculinas e, talvez em algumas femininas também. O conjunto completo, tornava o espetáculo um grande sucesso, nos teatros, sallons, hotéis e eventos particulares.

 

O talento da mulher era tão poderoso, que a sua forma física avantajada, não fazia diferença na atuação da libido no seu público. Alguns homens lançavam olhares belicosos,  até mesmo elogios meio que sem noção para ela, muitas das vezes, eram bem indecentes.

 

Normal para a época e, causava inveja na mente da cantora habitual da casa, a mestiça quase chinesa Juli Linn, que com o auxílio precioso do Cherokee Kid Gray Wind, já tramava dar um sumiço nela ou, dar um jeito de calar aquela voz. Juli Linn quase salivava, quando pensava nisso. Pobre e inocente Christina Gast Par, sequer imaginava o que poderia lhe acontecer em breve. Enquanto isso, aproveitava as massagens sensuais e beijos ardentes, do seu mais novo amante Antony Jadel, primo do maior fazendeiro da região, ele estava com as quatro rodas da sua diligência, desalinhadas por ela. Ele assistia a todas as apresentações da mulher, vigiando atento o ambiente todo. Parecia que estava sempre à postos, para dar um bote no primeiro que se atrevesse, a tocar num fio de cabelo castanho encaracolado dela. Sua musa, amante sedutora. O corpo de Christina Gast Par, estava sempre cheirando à lavanda, sua boca tinha um suave sabor de canela, uma especiaria de outras terras, muito apreciada na confecção de licores na região. Quando Antony Jadel, mergulhava naquelas carnes alvas, generosas e macias, o prazer era indescritível. Só que Christina Gast Par, nem imaginava o poder que tinha sobre ele e sobre a sua platéia masculina. Para ela o palco era a sua vida, cantar era o seu momento mais prazeroso. Quando abria a boca e o seu canto profano se espalhava pelo ar, se desligava do mundo. Mas, Juli Linn, a mestiça quase chinesa, ardia de ódio, precisava agilizar o seu plano, de calar aquela passarinha gorda.

 

O Cherokee Kid Gray Wind, informou para Juli Linn, que o único instante em que Christina Gast Par, ficava sozinha, era o momento da confissão na Igreja da Praça da Matriz. O plano articulado por eles, consistia em desviar o caminho do padre, para o confessionário e abater a mulher lá mesmo, de forma silenciosa, uma faca afiada e certeira, apararia as asas da profana rouxinol.

 

O plano parecia bom, só que os vilões não contavam com a interferência brutal de Dom Lucas, admirador ferrenho da cantora e, que vigiava cada segundo dos passos dela, sem alardes, tal e qual uma sombra.

 

Dom Lucas, apreciava a voz da mulher, sem outros interesses por ela, contudo um dia, escutara uma conversa segredada entre os vilões. A partir daquele momento no Sallon Hotel Blue Night, seguia de perto a cantora de voz instigante.

 

Para alegria da maioria, Christina Gast Par, seguiu encantando à todos com o seu canto profano e, para a felicidade das carteiras dos proprietários da funerária local, dois caixões lustrosos levavam comida nova e fresca, para os vermes abaixo da terra, à sete palmos.

 

 

 

 

 

 

* Obrigada ao querido amigo Antônio Jadel pela inspiração e pelo nome da personagem. Agradeço também, aos os colegas e leitores, que gentilmente passarem por aqui 

 

 

 

 

Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 21/08/2023
Reeditado em 21/08/2023
Código do texto: T7866824
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