A segunda incumbência

Na manhã do seu segundo dia em Mazaósta, Ignátijs, o palafreneiro, procurou Radomirs Jansons no salão da hospedaria.

- Tenho uma compradora para o seu cavalo.

- Uma mulher? - Radomirs arqueou os sobrolhos.

- É uma negociante local. Ofereceu 180 dinares por ele - acrescentou Ignátijs.

- Não está mau - avaliou Radomirs. - Quanto é a sua comissão?

- Dez por cento; mas ela gostaria de lhe falar.

Radomirs deu de ombros.

- Por que não? Pode trazê-la, depois que receber sua parte.

A negociante, uma mulher corpulenta de rosto redondo, chegou pouco depois, acompanhada pelo palafreneiro. Este retirou-se em seguida.

- Sou Izabela Medne. Como está, senhor recuperador... ?

- Radomirs Jansons - replicou o ladrão, indicando a cadeira vaga junto à mesa. - Me acompanha na papa de aveia?

- Já tomei meu desjejum, grata - redarguiu a mulher, sentando-se e colocando sobre a mesa um saquinho de couro que trazia preso ao cinto do vestido. - O pagamento pelo seu cavalo, menos a comissão do palafreneiro.

Radomirs contou cuidadosamente as moedas sextavadas: 162 dinares, de prata e cobre.

- Está correto - declarou.

A mulher não fez menção de levantar-se.

- Ótimo! Bem, eu soube que está indo para Lîdzenums.

- Correto - assentiu Radomirs.

- E o senhor aceitaria um trabalho de recuperação?

Mazaósta era uma cidade desimportante; provavelmente, bem poucos recuperadores passavam por ali, calculou Radomirs. Poderia ser a oportunidade de ter algum lucro, caso a missão que lhe incumbira a bruxa Dzelme Gibala fracassasse.

- Do que se trata, senhora Medne? - Indagou com ar profissional.

- O senhor conhece Gunarts Dreimanis, em Lîdzenums?

Radomirs teve que se esforçar para manter a fleugma. Esse era precisamente o homem cuja fortaleza teria que invadir, para recuperar o objeto encomendado pela bruxa.

- Quem não conhece o poderoso Gunarts Dreimanis? - Redarguiu com ar indiferente. - A fama dele transcende o Istmo de Zeltinsh.

A mulher o encarou, muito séria.

- Pois este homem está com algo que me pertence: minha escrava, Airita.

- Como a sua escrava foi parar nas mãos de Gunarts Dreimanis? - Radomirs franziu a testa.

- Ele esteve aqui, em Mazaósta, há coisa de seis meses. Viu minha escrava no mercado e quis comprá-la; como me recusei, ele a sequestrou ao voltar para Lîdzenums.

Radomirs balançou a cabeça, enquanto avaliava a questão. Quanto Medne estaria disposta a pagar para ter sua escrava de volta?

- Oitocentos dinares - afirmou ela com convicção.

Radomirs percebeu então, que agora estava praticamente obrigado a invadir a fortaleza de Gunarts Dreimanis. Todavia, não acreditava que pudesse realizar ambas as tarefas sozinho.

Para a segunda parte, iria precisar de ajuda.

- [Continua]

- [09-05-2022]