DÍLSON E EU
 
Recapitulando

     Entramos na casa e fiquei de novo embabascado, um quadro de Renoir enorme mostrando um barco a velas enfeitava o salão da entrada e mais outros quadros de artistas expressivos e brasileiros que me deixaram feliz por ver que meu amigo valoriza a arte e as coisas da pátria.

PARTE 02
 
     Passamos para o ambiente seguinte que me pareceu uma copa gigante, com quadros desta vez de Candido Portinari, Carybé e Lygia Clark, Neste quadro de Lygia Clark abaixo, Havia outro elaborado com luxo e requinte e exibia um poema de Marta Medeiros e outro de Cora Coralina e abaixo dois sonetos do nosso mestre Dílson.

     Li vendo tudo de pertinho, era o mínimo a fazer para mostrar que estava agradecido por tão simpática recepção, mas pensando: Caramba se o mestre Dílson for me visitar algum dia ao ver meu barraco... Acho que não vai dizer, mas, pensar... “Gente como é pobre este Trovador”.

     Uma escadaria de ébano muito bem talhada dava acesso ao pavimento superior, mas não subimos, era quase hora do almoço e mestre Dílson sentou-se numa cadeira das muitas que estavam em torno de uma mesa redonda e me convidou a fazer o mesmo, sentei---me achando tudo um luxo.

     Experimentei a parte móvel da mesa, apenas tocando com o dedo indicador e ela rodou suave e silenciosamente, achei prático, a comida seria servida naquela parte e quem fosse almoçar teria acesso a ela escolhendo a que mais lhe aprouvesse.     

     Estava tão absorto contemplando aquelas obras de arte que nem pressenti a chegada de um maitre todo engomadinho e atrás dele um senhor alto empertigado vestido num terno preto e ostentando um brasão maior do que os demais funcionários que eu já tinha visto por ali.

     O mestre perguntou o que eu iria beber se vinho ou se preferia uma dose de Royal Salut para ir já abrindo o apetite, antes que eu respondesse ele apresentou os dois funcionários dizendo: - este é o José e o grandão aí é o Jarbas nosso mordomo, qualquer coisa que precisar eles estarão a sua disposição.

     Acenei a cabeça com um sorriso meio estrambótico, não estava acostumado com estas finésse, mas acredito que ficando calado eu fiz o que era melhor, os dois nem me olharam, mas eu resolvi aceitar o uísque, o mestre falou com o rapaz para deixar o litro e também dispensou o vinho.

     Ele serviu duas doses generosas e se foram. Desta vez o mordomo foi à frente e o outro atrás dele. Curioso eu peguei o litro e olhei o rótulo Com letras bem legíveis informando o tempo de fabricação, Salut sessenta e dois anos. Não acreditei e exclamei alto, - mestre este uísque é de quando o Royal Salut foi criado para a coroação da rainha Elizabeth?

     Ele pensou um pouco e respondeu, - é sim e sessenta e dois anos se referem à salva de sessenta e dois tiros de canhão disparados para homenagear a rainha. Você nunca tomou deste? Respondi: - não senhor eu tomei um de oito anos, que é o mais comum. Este custa doze mil e quinhentos reais a garrafa de setecentos ml, quem sou eu?

      Tomei muito quando estava no exterior trabalhando e era de graça, e tomei agora na formatura do meu filho, de oito anos já é um sonho, imagine este... Ele riu e falou: - para quem compra uma garrafa é este preço, mas eu comprei dez caixas, aí saiu bem mais em conta, uma media de onze mil a garrafa.

     Pensei mas não disse: O melhor uísque do mundo, distribuído para quem está acostumado a beber pinga... Como eu sou pobre gente.


Quem sabe amanhã eu conte mais?
Trovador das Alterosas
Enviado por Trovador das Alterosas em 23/02/2017
Reeditado em 24/02/2017
Código do texto: T5921996
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