A Boia

Avisei que só estaria na Marina até a manhã seguinte e que levantaria âncora bem cedo, muito provavelmente antes das 5 h, pois a minha autorização de trânsito havia sido liberada na noite anterior, depois de uma providencial semana de atraso. Do outro lado da linha, ela nada respondeu, e desliguei o telefone. De uma forma ou de outra, eu ainda teria pelo menos um dia inteiro de navegação pela frente, antes de atravessar o Canal e tomar o rumo do Havaí. Caso ela quisesse, ainda poderia me alcançar. Mas eu duvidava que isso fosse acontecer...

Passei minha última noite no Panamá a bordo do barco. Dormi cedo, e acordei antes do despertador tocar. Com o céu ainda escuro, liguei o motor principal da velha Oceanic 36 e zarpei para a área de espera, cerca de três milhas distante da Marina, junto a uma boia que não era nem encarnada nem verde, mas amarela. "Chegue com antecedência de pelo menos uma hora", haviam me dito, e foi o que eu fiz. Lancei âncora e esperei a chegada do prático que me conduziria na primeira parte da travessia do Canal.

Uma hora depois, como não havia sinal do prático, chamei a Cristobol Signal Station no VHF12.

- É a primeira vez que passo pelo Canal - expliquei em inglês ao operador, após me identificar. - Espero não ter que esperar muito.

- Houve um pequeno atraso, mas a lancha já deve estar chegando por aí - recebi como resposta.

Esperei. Meia hora depois, dia claro, uma lancha veio vindo dos lados da Marina, em minha direção. E para minha surpresa, além do piloto e do prático, havia uma passageira.

- Pensou que ia embora do Panamá sem mim? - Indagou ela sorridente, quando lhe estendi a mão para que subisse a bordo.

- Tripulação completa? Podemos partir? - Perguntou o prático, piscando o olho.

Balancei a cabeça em concordância, dando-me por vencido.

[18-01-2017]