A carona Sinistra

Sou professora há 28 anos e como todo profissional no início de carreira a minha não foi diferente . Tudo era conquistado com muita luta e sacrifício. No ano de 1995 eu tinha um FIAT 147 o que eu o chamava carinhosamente de FIW ou seja : Fiat inteiro velho (risos) pois é ... este foi o nosso meio de transporte na época . Digo nosso porque era utilizado por toda a família.

Certa noite recebi um telefonema da minha sobrinha mais nova Cinthya que na época tinha seus 13 anos que era bem franzina, neste dia , ela me pediu que fosse buscar a sua mãe na igreja ( minha irmã Suzana) . A igreja ficava no Bairro do Bom Clima em Guarulhos . Cidade que moro até hoje. Eu estava na escola dando aula. Só que antes de ir direto a Igreja , resolvi passar em casa , pois Cinthya pediu para ir junto e como sempre gostamos dos cachorros levamos nossa vira latas chamada Pedrita Maria.

Enfim , fomos buscar a minha irmã na igreja. Estávamos no meio do caminho quando de repente o carro simplesmente pifou !

Não funcionava! Aparentemente, não era bateria pois dava partida.

Era tudo o que eu precisava naquele momento... Um carro quebrado! É óbvio que eu não entendia nada de mecânica. Mesmo assim resolvi descer para ver o que era abrindo o capô. Bem nesta hora... acabou a luz da rua ! Ficamos totalmente no escuro! Noite de inverno sem uma alma viva na rua se quer ... e ainda para ajudar sem energia ! Nossa... Pensei: Que ótimo! De repente eis que surge um veículo bem no meio do escuro ! Quando vejo é um carro fúnebre pelo jeito estava levando um passageiro especial num belo caixão . Passou por nós. Enquanto isso... minha sobrinha e nossa vira latas estavam no carro. Eu ? Pensando no que fazer. Nisso é Claro o culto na igreja já havia terminado. Naquela época celular era coisa de rico! Não tinha como avisar o pessoal de casa. Para minha alegria o carro fúnebre voltou pela mesma rua que desceu . Foi ai que resolvi entrar em ação : Fui para meio da rua fiz sinal ao motorista e disse:

- Moço, me ajuda por favor! O motorista foi muito atencioso respondeu:

- Pois não moça ...em que posso ajuda-la ? Me apresentei como professora e expliquei toda a situação do Fiat. Perguntei se ele não tinha uma corda para rebocar o carro. Ele disse que não tinha .

Na mesma hora muito solícito o motorista disse:

- Professora dê a partida no carro. Quando dei a partida ele disse:

- Pode parar! É correia dentada! Nem adianta! Coloque-o na calçada e eu te dou uma carona. Ele ficou no carro e eu fiz o que ele me pediu: coloquei o carro na calçada. Lá dentro do meu carro estavam Cinthya e Pedrita.

Eu não queria ser desagradável ele não tinha visto as duas no carro pois estava muito escuro. Foi quando perguntei:

- Moço...só tem um problema: Posso levar a minha sobrinha? Ela também está no carro.

Ele respondeu :

- Claro professora ! Desculpe-me eu não a vi !

Quando fui em direção a Cinthya voltei mais uma vez no motorista e perguntei:

- Moço .... tem mais outra coisa... a minha cachorrinha também está no carro o senhor dá carona para ela também? Nisso o motorista começou a rir respondendo:

- Claro professora ! Vou dar carona para todas vocês!

Imediatamente entramos no carro fúnebre. Fomos no banco da frente! Felizes e conversando com o motorista. Quando estávamos descendo a rua Acre encontramos a minha irmã Suzana desesperada subindo o morro atrás de nós... estava com uma cara de brava e aflita ao mesmo tempo!

Quando ela nos viu dentro do carro fúnebre sentadas no banco da frente junto com a vira lata , ela pôs a mão na cabeça e começou a rir ! Pude ler os seus lábios dizendo :

- ESSA MINHA IRMÃ RAQUEL É ARTEIRA MESMO!

Nos despedimos do motorista que foi muito gentil em nos socorrer num momento tão tenso.

E esta foi a minha carona sinistra!

Raquel Caetano
Enviado por Raquel Caetano em 02/01/2017
Código do texto: T5870380
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