Salkantay: a Montanha, a Esposa e o Sonho.

I

No Peru...

Depois de uma jornada de sete dias caminhando nos Andes, por volta das dezessete horas, da última sexta-feira do mês de março de 2011, ele chegava à estação ferroviária de “Aguas Calientes” que, como de costume, estava repleta de viajantes, uns cansados e outros animados. A maioria dos passageiros era de estrangeiros que haviam terminado ou aguardavam para iniciar um trekking nas montanhas daquela região.

O recém-chegado, um dos personagens principais desta pequena história sobre uma montanha, uma mulher e um sonho, era um homem aparentando não mais que sessenta e cinco anos; magro; cabelo curto do tipo usado por militares; barba rala; baixo, mas não da estatura de um nanico, talvez um pouco menos que um metro e setenta de altura. Leonardo Luiz era o seu nome, mas ele se apresentava como Leo e praticava, por hobby, esportes de montanhas.

Junto com Leo estava Ribas Cliotche, um guia profissional de expedições nos Andes, cujos traços fisionômicos já devem ser conhecidos de todos, porque se tratava de um peruano típico de pele morena, cabelos lisos e bem escuros. Os dois parceiros de montanhas se conheceram há três anos, quando Leo viajou pela primeira vez para os Andes.

Após verificar em seu bilhete o número da plataforma e do portão de embarque, o brasileiro e seu amigo peruano retiraram as mochilas das costas e, vendo muitas pessoas de pé e encostada na parede, sentaram-se no chão, porque os poucos bancos de madeira estavam todos ocupados. O trem que os levaria à Cusco estava previsto partir às dezoito horas e dez minutos.

Enquanto tentava tirar um cochilo, Leo, mesmo sem querer, ouvia a conversa de um pequeno grupo de franceses que estava próximo. Eles falavam sobre as dificuldades do trekking que tinham realizado. Foi ali naquele momento, sentado no chão e apoiado na mochila que o montanhista brasileiro ouviu pela primeira vez alguém falar sobre uma montanha chamada Salkantay. Na realidade ele compreendia muito pouco da conversa, pois não era fluente em francês. Depois do português preferia o inglês e o russo.

Durante a viagem de trem para Cusco, Leo quase não deixou seu amigo descansar, a todo instante fazia perguntas sobre Salkantay. Quando ele soube que naquela trilha não se utilizava “porteadores ” para o transporte de material, e sim cavalos de montanha. O seu interesse aumentou.

— Na trilha Salkantay é possível levar cavalos com o fim específico de transportar pessoal? — Perguntou Leo ao amigo que estava sentado ao seu lado no trem.

— Sim, claro. Há expedições que adotam essa prática para, se necessário, transportar pacientes acometidos pelo mal da montanha.

— Respondeu prontamente o peruano.

— Você já esteve naquela montanha? Conhece a trilha? Qual a altitude máxima do percurso?

— Não só conheço a montanha, como já guiei diversas expedições naquela região. Quase toda a caminhada é realizada na altitude em torno de cinco mil metros. — Disse Ribas Cliotche demonstrando confiança no que falava.

— Posso saber por que essas perguntas sobre Salkantay? Acabamos de voltar dos Andes, concluímos sem dificuldades a Inca Trail , uma das trilhas mais famosa do mundo.

— Claro que pode! Quando ouvi os franceses conversando sobre aquela montanha, fiquei bastante curioso. Estou pensando em programar uma caminhada até Salkantay com a minha esposa. Você topa nos guiar? — perguntou Leo.

— Sim. Precisamos combinar o período, pois já tenho diversos compromissos para esta temporada. — Respondeu o guia, apontando para a janela do trem que estava chegando à estação.

Eram cinco para as onze da noite quando os dois amigos se despediram. Ribas foi para casa, ele havia nascido em Cusco e lá sempre morou. Leo rumou para o Hotel Hatun Wasi, na Calle Plateros, bem próximo da Praça das Armas. E na manhã do dia seguinte voltou para o Brasil.

No Rio de Janeiro...

Era uma sexta-feira, oito de abril, Leonardo e a esposa estavam jantando no Pobre Juan da Barra da Tijuca, comemoravam os quarenta e três anos que estavam juntos desde o primeiro dia de namoro.

O nome da esposa era Valentina Maria. Era uma sexagenária, mas se cuidava como se ainda fosse uma balzaquiana. Nem muito alta tampouco baixa. Magra, morena de cabelos curtos, rosto delicado, uma senhora bonita. Mãe e avó. Pelos traços fisionômicos podemos deduzir que na juventude foi uma linda mulher.

O casal sempre gostou de praticar atividades na natureza e realizar viagens de aventuras. Depois que eles se aposentaram, passaram a praticar caminhadas em montanhas.

Enquanto jantavam, conversavam sobre a obra do apartamento que estava quase concluída, faltava apenas terminar a troca do piso da varanda. Logo após o garçom recolher os pratos e oferecer o cardápio de sobremesas, o marido mudou de assunto.

— Valentina, você já ouviu falar de Salkantay? — Perguntou Leo segurando carinhosamente a mão da esposa.

Ela, com um leve sorriso no rosto, respondeu — Não, mas se for algum tipo de torta peruana eu aceito para sobremesa.

— Ok, querida. Vamos dividir uma fatia de torta. Mas não peruana. Prefiro holandesa. Um pedaço de doce é sempre bem-vindo depois de duas taças de “Carménère”. — Disse o marido retribuindo o sorriso.

E ele continuou:

— Mas voltando ao assunto e respondendo a minha própria pergunta: Salkantay é uma montanha ou, como alguns estudiosos preferem chamar, um pico que pertence à Cordilheira de Vilcabamba que integra os Andes peruanos e atinge 6.271 metros de altitude. Em quechua significa montanha selvagem. — Explicou Leo entregando o seu smartphone à esposa.

— Querida, veja as imagens que o Google apresenta da montanha. São fotos fantásticas, você não acha? — O marido perguntou.

— Sim acho. É uma montanha linda. Leo, você chegou dos Andes há duas semanas, não posso acreditar que está planejando uma nova aventura no Peru com seu amigo Cliotche — Disse Valentina devolvendo o celular ao marido.

— Ainda não planejei nada. Estive apenas pensando que nós poderíamos ajustar a nossa programação de viagens e incluir um trekking até a montanha selvagem em Vilcabamba. Imagina! Eu e você em Salkantay comemorando os nossos trinta e sete anos de casados. O que você acha, querida? — Indagou o marido.

— Acho, sinceramente, que você ainda está sob o efeito da “coca” que mastigou durante a trilha Inca. Não é possível passar pela sua cabeça que eu vá contigo escalar Salkantay, “um pequeno pico coberto de gelo, mas que não chega nem a sete mil metros de altitude”. Não seria melhor irmos direto para o Everest? Já visitamos várias vezes o Peru e ainda não conhecemos o Nepal. Imagina! Nós dois no “teto do mundo”. O que você acha, querido? — Respondeu a esposa demonstrando completa surpresa e ironizando a proposta de Leo.

— Agora sem brincadeiras, sei que hoje é um dia especial, já brindamos com uma garrafa de vinho. Conversamos sobre o início do nosso namoro. Mas Leonardo, por favor, volte ao mundo real. Nascemos e vivemos em cidades litorâneas. Você não pode ter esquecido o que aconteceu quando, há três anos, subimos a Montanha de Machupicchu cuja altitude, se não me falha a memória, é de aproximadamente três mil e cem metros. Não esqueço como sofri com o ar rarefeito. Senti dor de cabeça e vômitos. Lembra? — Comentou Valentina apertando a mão do esposo.

— Querida, calma! Lógico que não tenho a mínima intenção de levá-la para escalar uma montanha coberta de neve. Deixe-me explicar o que pensei: Em “Aguas Calientes”, aguardando o trem para retornar à Cusco, ouvi alguns franceses conversarem sobre esse trekking. Eles não escalaram a montanha, foram até um platô na base de Salkantay. Conversando com Cliotche, fiquei sabendo de alguns detalhes da jornada os quais me levaram a acreditar que nós, eu e você, temos condições de chegar ao mesmo ponto que os franceses chegaram. Em um papo inicial com o meu amigo, ele disse que participaria da nossa caminhada. Além dele, precisaríamos de um cozinheiro e um cavalariço, pois a ideia é levar três cavalos de montanhas. Dois para transporte de carga: tendas, mantimentos, equipamentos de cozinha, ampola de oxigênio, o que for preciso. E o terceiro para, em caso de necessidade, transporte de pessoal. — Explicou o marido que, enquanto falava, fazia alguns desenhos no guardanapo indicando cinco pessoas e três cavalos caminhando em direção a uma montanha.

Concluiu Leonardo:

— Claro, no início, eu também achava que era apenas um sonho, sem a mínima possibilidade de acontecer. Mas a cada dia que busco informações com pessoas que fizeram o trekking e estudo a região, convenço-me que somos capazes de, no próximo dezesseis de setembro, estarmos em Salkantay comemorando o nosso aniversário de casamento. Já curtimos esta data em diversas montanhas e em passeios de aventuras. Mas bodas de trinta sete anos tem um significado especial, por isso escolhi a montanha selvagem dos Andes. — Disse o marido com a voz serena, mas demonstrando firmeza em suas explicações.

Valentina que havia escutado sem interromper o esposo percebeu que Leo estava bastante motivado com o assunto, então não mais respondeu em termos de brincadeira.

— Leo, eu entendi perfeitamente a sua ideia. Achei-a maravilhosa, mas diferente de você ainda não acredito que ela possa acontecer. Vou pensar no assunto, pesquisar na internet e depois voltaremos a conversar. Ok?

— Ótimo, querida. Mas antes de decidir, não deixe de considerar que levaremos ampolas de oxigênio, um cavalo, que você poderá utilizar em todo percurso ou em parte, e também que realizaremos nos próximos cinco meses um treinamento especial. — Falou o marido.

Eles resolveram não dividir a torta holandesa de chocolate. Pediram duas fatias. Terminaram a sobremesa e voltaram de táxi para casa, sem mais falarem da aventura nos Andes.

Dois dias depois do jantar especial, na tarde de domingo, a esposa que conhecia muito bem o marido sabia que Leonardo estava impaciente. Não parava de andar pelo apartamento, já a tinha convidado duas vezes para sentar na varanda. Ele havia passado o sábado inteiro no quarto de hóspedes, que na maior parte do tempo servia de escritório para o casal, fazendo consultas no computador e também conversando com Ribas pelo WhatsApp.

Quando a esposa não o via circulando pelos cômodos do apartamento sabia que estava sentado na varanda olhando para o mar e pensando nas montanhas.

Um pouco antes de escurecer, Valentina fez um café e arrumou a mesa da copa, colocando torradas e um patê que o marido adorava. Uma receita especial que ela preparava com berinjela, nozes e passas. Em seguida dirigiu-se à varanda para chamar Leonardo.

Percebendo que o esposo estava cochilando, ela sentou-se ao lado dele e aproveitou para apreciar o Sol que naquele momento se escondia no horizonte do mar da Barra da Tijuca. E ali eles permaneceram por um bom tempo um ao lado do outro. Ela apreciando o mar e ele dormindo...

II

— Querido, fiz algumas pesquisas e também pensei bastante nos prós e contras de realizarmos o trekking até a montanha selvagem. Ontem, conversei com os nossos filhos. Como sempre, demonstraram preocupações com as possibilidades de acidentes. Mas os dois disseram que apoiarão qualquer que seja a nossa decisão. Então, vamos combinar o seguinte: Neste momento, a minha resposta é sim, tentaremos chegar à Salkantay. Entretanto, se durante o nosso treino eu não me sentir preparada, reavaliarei essa decisão. Ok? — Disse Valentina carinhosamente e demonstrando afeição ao marido.

— Concordo querida. Mas tenho certeza que viajaremos juntos para o Peru, disse Leonardo, acariciando com os dedos o rosto da esposa.

Ainda em abril, Valentina e Leo iniciaram o programa de preparação física. Diariamente, eles corriam e caminhavam na praia. Após os exercícios, voltavam para o apartamento subindo as escadas até o décimo terceiro andar.

Com a chegada do inverno, eles intensificaram os treinos na praia e realizaram algumas trilhas no Parque Nacional da Serra dos Órgãos .

A esposa cumpriu a fase de treinamento sem grandes dificuldades, sempre com bom humor e motivada. Não havia um dia que eles não conversassem sobre a montanha selvagem. Salkantay deixou de ser um desafio de Leonardo, passou a ser do casal.

Valentina nem se lembrou de rever a sua decisão e no dia nove de setembro daquele ano, uma sexta-feira chuvosa, às 5h35min, os dois, cada um com a sua mochila cargueira e mais uma bolsa de couro, embarcaram no Galeão num voo da Avianca com destino à Cusco no Peru.

Em Cusco...

Cliotche, como das outras vezes, estava no aeroporto aguardando os amigos do Rio. Eram quinze para as duas da tarde daquela sexta-feira quando os três pegaram um táxi e seguiram para hotel Hatun, na Calle Plateros, que Leo e a esposa já conheciam.

— Bem-vindos à Cusco, amigos Leo e Valentina. Como vocês estão? E a Viagem? — Disse Cliotche sentando no banco dianteiro do táxi olhando para trás.

— Obrigado, Ribas. Apesar da chuva forte no momento da decolagem no Galeão, a viagem foi tranquila. É muito, muito bom retornar à Cusco. Estou com uma leve dor de cabeça, que com certeza é devido à altitude. Mas daqui a pouco tomarei um chá de coca e ficarei bem. — Disse Valentina.

— E meu amigo Leo? Tudo bem? Preparado para chegarmos à Salkantay?

— Sim, tudo ótimo. Estamos fisicamente preparados, treinamos bastante. Não tenho dúvidas que acamparemos na base da montanha selvagem. — Respondeu Leonardo enquanto pegava na mochila uma cópia da programação que cumpririam nos próximos dez dias.

— E você, Cliotche? Pronto para guiar a nossa expedição? Conforme os últimos contatos pela internet, todas as providências logísticas já foram tomadas. Amanhã, às dez horas, realizaremos no hotel a reunião de briefing com todos os integrantes do trekking. Certo? — Indagou Leo.

— Correto. Tudo pronto. — Respondeu o guia.

No hall do hotel, um pouco antes de se despedirem, Leonardo, apertando a mão do amigo, falou:

— Cliotche, mais uma vez muito obrigado pelo apoio. Agora, eu e Valentina vamos descansar um pouco. Depois caminharemos e faremos uma refeição leve. O planejado é ficar o final de semana em Cusco para aclimatação.

Na manhã seguinte, na hora combinada, quando o casal entrou numa pequena sala reservada no hotel onde estavam hospedados, Ribas e mais dois peruanos já os aguardavam.

Antes de começar a reunião, o guia perguntou se Valentina tinha melhorado da dor de cabeça.

— Sim, estou bem. Logo depois do chá que nos foi oferecido na chegada ao hotel, melhorei. Já estou aclimatada à altitude de Cusco. O meu desafio é chegar aos quatro mil metros. — Valentina disse bem-humorada, sentando em uma poltrona próxima à cadeira do marido.

— Muito bom, Valentina, mas na verdade Abra Salkantay, o ponto mais alto do nosso percurso, está na altitude de aproximadamente cinco mil metros. — O guia esclareceu.

Em seguida, ele apresentou os dois integrantes da expedição: Silo Morais, o cozinheiro, era um peruano típico daquela região, observador e gostava de agradar e ajudar às pessoas. Tinha bastante experiência em cozinhar nas montanhas. Lidom, o cavalariço, um homem alto para os padrões andinos, encurvado, braços compridos e rosto sombrio. Diferente de Ribas e Silo, não parecia ser uma pessoa simpática.

Mostrando um mapa da região, Cliotche apontou os trechos mais difíceis do percurso e os locais onde seriam montados os acampamentos. Antes de terminar, fez as recomendações já conhecidas, mas que precisavam ser lembradas: levar somente o que realmente será usado: roupa de frio; barras de chocolate e cereais; cantil com um litro de água; lanterna individual; canivete; lenços higiênicos umedecidos e folha de coca para mascar. Destacou que o material e os equipamentos de uso coletivo seriam transportados pelos cavalos. Frisou que não haveria resgate, chegariam caminhando em “Aguas Calientes”.

E por fim, olhando para o casal de brasileiros e com um leve sorriso no rosto, perguntou:

— Há algo mais que queiram saber?

— Acho que não. Nos últimos cinco meses, acertamos todos os detalhes. — Disse Leo olhando para a esposa. — Você tem alguma dúvida, querida?

— Apenas um detalhe. Em caso de uma emergência, há um caminho alternativo para se chegar em “Aguas Calientes” sem passarmos pela altitude de cinco mil metros na base de Salkantay? — Indagou Valentina.

— Não, não há uma trilha alternativa. Na prática usamos uma localização de referência que nos indica a mudança entre voltar e prosseguir na caminhada. Essa indicação não divide a distância do percurso em duas partes iguais, pois considera as dificuldades da região e o apoio logístico, principalmente para o reabastecimento de água potável. — Expressou Ribas.

— Antes de terminarmos, como é de praxe, o nosso chef Silo Morais, que já recebeu a informação que o casal tem preferência por saladas, sopas, legumes e frango, tem uma pergunta a fazer. — Disse Cliotche sorrindo e olhando para o parceiro de montanhas.

— O que os nossos amigos brasileiros gostariam para o primeiro jantar? No cardápio, indica salada peruana, quinoa com legumes e frango grelhado. Para sobremesa creme de papaia.

Leo e Valentina, olhando um para o outro, responderam ao mesmo tempo:

— Ótimo, pode manter o previsto.

Nas Montanhas...

Na manhã da segunda-feira, dia doze de setembro, por volta das nove horas, a caminhonete, quatro por quatro, parou junto a um cercado de madeira. Uma placa retangular fixada na porteira continha os seguintes dizeres “Challacancha Sueño Granja”.

Os passageiros já estavam sentados há quatro horas, só houve uma rápida parada no Vilarejo de Mollepata para ida ao banheiro e um pequeno café. Cansados dos solavancos do carro e querendo esticar as pernas, todos queriam sair rapidamente da viatura.

O motorista desligou o motor. O guia foi o primeiro a descer e assumindo a sua posição de líder disse:

— Pessoal, o conforto terminou. Desembarquem. Vamos descarregar o material. Eu e Silo cuidaremos do material coletivo. Leo e Valentina, por favor, chequem os pertences individuais que seguirão com vocês na mochila de ataque. Lidom vá ao estábulo e traga os nossos três cavalos, com certeza o cavalariço chefe da fazenda nos viu chegar.

Em menos de trinta minutos após a chegada à Challacancha, o grupo iniciou a caminhada em direção as montanhas andinas. O céu estava azul. O vento fraco e a temperatura de sete graus célsius não incomodavam. O trecho inicial não apresentava dificuldades para o casal. Na frente, seguiam Silo e Lidom puxando os cavalos. Um pouco atrás, vinham os brasileiros e Cliotche que, na conversa sobre turismo no Brasil, expressava a sua vontade de conhecer em primeiro lugar Foz do Iguaçu e depois ir à praia de Copacabana.

Aos poucos a conversa foi se extinguindo até praticamente cessar e, como é comum nesse tipo de atividade, todos passaram a caminhar calados, pensando na vida e curtindo aquele cenário único onde, além da beleza dos picos cobertos de neve, destacava-se o silêncio das montanhas. Silêncio fácil de perceber e agradável às mentes. Mas difícil ou quase impossível de descrevê-lo em palavras.

Leo seguia tranquilo. Feliz por estar caminhando nos Andes ao lado da esposa em direção à montanha selvagem. A sua ideia de seis meses atrás estava acontecendo. Mas ele sabia que precisava ficar muito atento à Valentina. Era a primeira vez que ela participava de um trekking acima de quarto mil metros de altitude. Ele não pensava em outra coisa, somente em “Salkantay, a montanha, e na esposa”.

Valentina, ao lado do marido, mantinha a passada sem demonstrar cansaço. Também caminhava de certo modo feliz, mas preocupada com os trechos que viriam adiante. Ela sabia que a altitude, apesar do preparo físico individual, afetava às pessoas de modos diferentes e que como já tinha passado por dificuldades na Montanha de Machupicchu, poderia ser acometida pelo mal da altitude. Mas confiava no marido e no amigo peruano.

Nada de diferente do planejado ocorreu naquela segunda-feira. Ao anoitecer, o acampamento foi montado, o jantar servido e, após o chá, todos se recolheram em suas tendas.

No segundo dia, logo após o café da manhã, os cinco integrantes da jornada reiniciaram a caminhada. Adotaram o mesmo dispositivo de antes: na frente o cozinheiro ao lado do cavalariço que escoltava os animais e logo atrás o casal e Ribas. Valentina preferiu continuar ao lado do marido, recusando-se a seguir montada no cavalo.

Por volta das treze horas, o guia sinalizou, levantando a mão direita, para que o grupo parasse. E de frente para os participantes disse:

— Descarreguem as mochilas, vamos descansar por vinte minutos. Silo vai distribuir sanduíche frio e suco de laranja. Ao final da tarde, montaremos o acampamento em Soraypampa na altitude de quase quatro mil metros. Lá ficaremos um ou dois dias para aclimatação. — E, olhando de modo amigável para Valentina, Cliotche repetiu — um pouco mais que treze mil pés acima do nível da praia da Barra.

Enquanto comiam o sanduíche, Leo, sentado junto à esposa, leu a altitude no Garmin que levava no pulso esquerdo, e perguntou em voz baixa, quase murmurando:

— Tudo bem, querida? Já estamos a 3.750 metros de altitude. O que acha de seguir um pouco montada no cavalo?

Ela balançou a cabeça sinalizando que não e quando acabou de mastigar o pedaço de pão, respondeu:

— Até agora estou bem. Apesar do gosto horrível, venho constantemente mastigando folha de coca e mantendo o ritmo do guia. Prefiro continuar a pé.

— OK, esse é o macete: caminhar calada, com coca na boca e na passada do líder.

Já era noite, quando Leonardo e Cliotche terminaram de armar a primeira barraca que se destinaria ao casal. A escuridão era atenuada pelo brilho das estrelas e o reflexo da luminosidade da Lua nas montanhas. O vento forte e gelado incomodava. Todos precisavam se abrigar.

Enquanto, Lidom e Silo montavam as outras tendas, Valentina providenciava ração para os cavalos.

O marido, que já estava sofrendo bastante com a temperatura negativa, foi ao encontro da esposa e abraçando-a falou:

— Querida, vamos sair do frio. A nossa barraca está pronta. Os amigos peruanos são profissionais das montanhas e têm pulmões enormes. Eles cuidarão de tudo, inclusive dos animais. Nós precisamos descansar um pouco antes do jantar.

Dentro da tenda, sentada no saco de dormir e retirando as botas, a esposa disse — Sei que estamos na altitude de aproximadamente quatro mil metros, mas, Leo, por favor, veja o que indica o seu relógio.

— O Garmin está indicando um pouco mais. Sinaliza que estamos a 4.250 metros. — Respondeu o esposo direcionando o foco da sua lanterna de cabeça para o pulso da mão esquerda.

— Como você está se sentindo, querida? — Ele perguntou com um ar de preocupado.

— Eu não sei. — Valentina respondeu de modo indeciso e olhando, através de uma pequena tela de náilon, para o contorno branco de Salkantay que lhe parecia ainda muito distante.

Quando Silo, cerca de duas horas depois da chegado ao local onde estavam acampados, de pé em frente à tenda, chamou o casal para o jantar, Valentina não quis se levantar, disse ao marido que estava muito cansada e com dor de cabeça.

Depois de muita insistência de Leo e também de Ribas, a esposa foi à tenda restaurante e sentou-se num banquinho ao lado do marido. Do outro lado da pequena mesa de madeira e alumínio estava o guia. Enquanto o cozinheiro servia o primeiro prato, uma sopa de aspargo, a esposa disse com a voz baixa:

— Silo, vou comer só o frango grelhado. Estou um pouco enjoada.

Quando estavam terminando a refeição e o chef servia chá de coca, Cliotche, olhando diretamente à esposa do amigo e pausadamente disse — Valentina, hoje é o seu primeiro dia nesta altitude, o ar rarefeito causa dor de cabeça em muitas pessoas. O que você está sentido é de certo modo esperado para esta pressão atmosférica. Aproveite o chá e tome um comprimido de sorojche . Se não passar, a cada oito horas tome outra cápsula. Amanhã, permaneceremos nesta região para aclimatação e você deve melhorar.

Os três amigos se despediram e assim terminou o segundo dia na montanha.

Tão logo amanheceu, Leo calçou as botas e, por cima do que já estava usando, vestiu uma jaqueta fleece e um casaco anoraque, porque ventava e fazia muito frio. Em seguida, saiu cuidadosamente da tenda para não acordar a esposa, que havia pegado no sono há pouco. Foi conversar com o amigo Cliotche que estava sentado à mesa na tenda restaurante. O tempo estava horrível.

— Bom dia, amigo. Levantou cedo! Hoje a nossa atividade será leve. Pedi ao Silo para servir o café por volta das oito horas. — Disse o guia levantando-se e estendendo a mão para cumprimentar Leonardo que se aproximava.

— Bom dia, amigo. — Respondeu Leo, em voz baixa e com um ar de preocupado.

Ele acrescentou:

— Valentina quase não dormiu. Continuou enjoada e com dor de cabeça. Já amanhecendo, saiu para vomitar. Só então conseguiu pegar no sono.

— Vamos deixá-la descansar, porque devido às péssimas condições meteorológicas faremos a caminhada de aclimatação mais tarde, caso o tempo melhore. E o repouso também é muito importante para adaptação à altitude. — Disse o guia.

O vento forte e a nevasca obrigaram todos os integrantes do grupo a permanecerem em suas barracas por quase trinta horas. Cliotche e Silo, a cada oito horas, distribuíam sanduíches, chá de coca e maçã. Lidom, que já tinha vivido situações parecidas, utilizando vários pedaços de nylon impermeável, montou uma tenda especial para proteção dos cavalos.

Na manhã do quarto dia, 15 de setembro, Ribas e Leo estavam em pé na tenda restaurante. Enquanto conversavam sobre o estado de saúde de Valentina, o guia olhava com o seu binóculo às montanhas ainda distantes.

— Não vejo movimento nas nuvens de neve. Lá em cima o vento já diminuiu. Logo, logo o tempo vai melhorar aqui embaixo. — Falou o guia entregando o binóculo ao amigo para que ele também observasse.

Passava do meio dia quando o vento deu uma trégua e uns raios de Sol surgiram. A temperatura permaneceu próxima de zero, mas a sensação térmica havia melhorado. Valentina, que tinha saído da tenda, estava sentada ao lado do esposo, esforçava-se para comer o que estava no seu prato: um pedaço de frango grelhado com batata doce e duas cenouras cozidas.

Quando terminaram de almoçar, Cliotche, sabendo que a esposa do amigo continuava sentindo enjoo e dor de cabeça, disse:

— Valentina, já que os comprimidos de sorojche e o chá de coca não estão lhe ajudando na adaptação à altitude, é hora de iniciarmos uma oxigenoterapia . Daqui a pouco levarei o kit portátil para sua tenda. Ok?

— Tudo bem! Farei o que for necessário para melhorar. — Ela respondeu.

Em seguida, o guia, colocando um pequeno croqui da região em cima da mesa e indicando o caminho com a ponta do dedo continuou falando:

— Esta é a trilha para o lago Humantay. Como agora as condições meteorológicas estão boas, ainda temos tempo disponível para fazer uma caminhada até o lago. Lá tem um mirante com uma vista única de Salkantay. O percurso não é muito longo, mas é íngreme. O tempo total de ida e de volta é de aproximadamente quatro horas. Se vocês dois concordarem, enquanto Valentina fica no acampamento fazendo aplicações de oxigênio, poderei levar Leonardo para conhecer Humantay. O que acham?

— Eu gostaria muito de ir, mas com a minha esposa. Ela poderá ir montada em um dos cavalos. Nós levaremos o kit de oxigênio. — Propôs o marido, segurando a mão da esposa e olhando para o amigo.

— Como pode ser observado aqui no mapa e também nas anotações, há no caminho subidas íngremes e com muitas pedras, formando verdadeiros degraus. Não há como fazer o percurso de cavalo. E faz dois dias que Valentina está acometida do mal da montanha. É melhor ela poupar energias, porque amanhã cedo seguiremos o caminho para Salkantay. — Explicou pausadamente o guia.

— Querido, também gostaria muito de ir contigo, mas é melhor seguirmos a orientação profissional de Ribas. Vá conhecer o lago Humantay e avistar a nossa montanha. Eu ficarei bem. — Disse a esposa acariciando o rosto do marido.

Os dois amigos foram e voltaram em pouco menos de quatro horas. Leonardo ficou encantado com a beleza do lago e a vista privilegiada da montanha selvagem.

Um pouco antes do jantar daquela noite, Cliotche foi à tenda do casal para saber se Valentina estava melhor. Encontrou os dois sentados e conversando. Leo estava bastante preocupado com a saúde da esposa. Ele já não tinha dúvidas que ela não conseguia ficar bem na altitude acima de 4.300 m. Os dois, marido e mulher, sabiam que estavam acampados na localização geográfica onde era preciso optar em: continuar ou voltar, seguir ou desistir. E ambos tinham plena consciência de que na vida é mais importante decidir do que deixar acontecer.

O guia também estava apreensivo com a situação de Valentina, então agachado na entrada da barraca e olhando para os dois, disse:

— Precisamos intensificar a oxigenoterapia, um tratamento de choque. A nossa ampola portátil não deve estar proporcionando uma concentração de oxigênio adequada. Farei contato pelo rádio com um colega que está guiando uma expedição com cerca de dez franceses. Eles estão acampados bem próximos daqui, talvez tenham trazido um cilindro de maior vazão. Aguardem um pouco que já volto.

Leonardo deu um soco no ar, de uma felicidade instantânea, quando o amigo retornou e disse que estava tudo combinado com o pessoal da equipe francesa. Eles estavam aguardando a chegada de Valentina.

E realmente o tratamento de choque deu certo. Naquela noite, tanto Leo quanto Cliotche repararam que Valentina tinha jantado sem demonstrar o desconforto do enjoo. Estava mais falante, quis saber detalhes da caminhada prevista para o dia seguinte. Repetiu a sobremesa, “arroz con leche” uma espécie de pudim cuja versão peruana tem um toque especial.

Antes do amanhecer do quinto dia, Silo já estava com tudo pronto para o desjejum reforçado. Na hora combinada, cinco e quinze da manhã, os três amigos sentados à mesa, no mesmo dispositivo dos dias anteriores, comiam mingau de quinoa e conversavam sobre aclimatação, as possibilidades de ajustes na programação e quais rumos deveriam seguir.

— Como você está, Valentina? Conseguiu dormir à noite toda? — Perguntou Ribas

— Estou bem melhor. Descansei mais do que nas noites passadas. Não tive vômitos, estou apenas com uma pequena dor de cabeça. Mas nada que chegue a incomodar.

— E você, amigo Leo, mais tranquilo?

— Sim. É bom, muito bom ver Valentina um pouco mais animada, sem aquele enjoo infernal. — Respondeu Leonardo.

— O trecho, daqui à base da montanha selvagem, como vocês já sabem, é o mais difícil de todo o trekking. É longo e bastante íngreme, mas é possível seguir cavalgando. Ao final da subida, chega-se ao Passo Salkantay, ponto mais alto de toda a trilha, cerca de cinco mil metros de altitude. Pode - se tocar na base da montanha selvagem. Um pouco abaixo, há um platô protegido com uma vista impressionante da região andina, onde as expedições montam seus acampamentos. — Explicou o guia, apontando para o pequeno mapa que havia colocado em cima da mesa.

Ele continuou falando:

— No caso de decidirmos seguir em frente, Valentina terá que fazer o percurso montada no cavalo, porque é uma subida forte em uma altitude acima de quatro mil e quinhentos metros. Não podemos arriscar que ela tenha uma recaída. Lidom, que conduzirá o animal, levará em sua mochila o kit reserva de oxigênio.

— Então, amigos Leo e Valentina, vamos continuar ou voltar? — Indagou Ribas dando ênfase ao continuar.

Marido e esposa olharam um para o outro por um longo período.

Por suas experiências anteriores neste tipo de esporte, Leo sabia que para manter o controle da situação ou mesmo evitar acidentes, às vezes, é preciso ter coragem de desistir. O perigoso é que quando já se está na montanha é mais fácil “continuar” do que “voltar”.

Ele pensou:

“Cliotche fez a sua explanação de um modo tal que durante todo o tempo parecia está dizendo: vamos continuar, vamos para “Aguas Calientes”. Mas não tenho dúvida que a decisão de peso cabe à Valentina, se ela topar seguir em frente, eu concordarei. Estamos juntos há quarenta anos, sei que é uma mulher perseverante, não desiste e nunca desistiu com facilidade de suas metas. Está muito bem preparada fisicamente. A não adaptação à altitude pode ser amenizada com oxigênio suplementar do cilindro. Eu confio no “endurance” da minha esposa”.

— Vamos continuar, querido. — ela disse sem tirar os olhos do rosto do marido.

— Você é maravilhosa — ele falou, quase sussurrando, e beijando levemente os lábios da esposa.

Não passava das seis horas da manhã, quando iniciaram o trecho mais difícil da jornada. O vento não estava forte, mas fazia bastante frio. Valentina, apesar da pouca experiência em montarias, rapidamente aprendeu as manhas que Lidom lhe mostrou para controlar o cavalo. Ela seguia cavalgando. Leo e Ribas, em silêncio absoluto, venciam passo a passo as dificuldades da subida. O cozinheiro, com a sua simpatia e comportamento altruísta, escoltava o animal que conduzia Valentina. Lidom vinha um pouco atrás guiando os cavalos que transportavam o material e os mantimentos.

E assim, o grupo ia, passo a passo, se aproximando do ponto de maior altitude da jornada. Naquela longa subida era fácil perceber que as pessoas, mesmo saudáveis, têm diferentes sensibilidades à doença da altura. Com a diminuição da pressão e do volume de oxigênio na atmosfera, o organismo de cada um respondia de modo diferente. Lógico que os nativos dos Andes sofriam muito menos. Leonardo mantinha o ritmo do guia, mas respirava com dificuldade. A esposa ficava enjoada, já tinha vomitado duas vezes. Mas sempre mantendo um leve sorriso no rosto, um sinal de que estava convicta da decisão tomada.

Uma vez ou outra, Cliotche levantava a mão direita e todos paravam. Leo ajudava a esposa desmontar e abraçando-a repetia a pergunta:

— Tudo bem, querida?

— Sim, o desconforto é passageiro. Logo estarei bem. — Ela também dava de modo carinhoso, a mesma resposta.

Ao final da tarde, daquela sexta-feira, 16 de setembro, Leo fotografava a esposa ao lado do totem de pedra que os dois tinham acabado de montar na base de Salkantay em homenagem à montanha. Enquanto via a esposa na lente da máquina naquele cenário deslumbrante, ele falava consigo mesmo: “como Valentina é bonita”.

E realmente a esposa estava muito bonita. Ela usava um casaco anoraque por cima da jaqueta fleece, ambos azuis; uma calça cargo, na tonalidade de um bege claro, que modelava a cintura e as pernas de forma esplêndida; a touca de montanha e os óculos escuros, por causa da neve, davam um toque especial no seu rosto.

Eles permaneceram no Passo de Salkantay por cerca de trinta minutos. Admiravam não só a beleza da montanha selvagem, mas de toda a Cordilheira de Vilcabamba com seus picos brancos. Os dois sabiam que enquanto vivessem jamais esqueceriam aquelas imagens, e que nenhuma máquina fotográfica teria capacidade de registrar em sua plenitude o que eles viam.

Em seguida o guia, já caminhando, disse:

— Amigos, vamos em frente. Montaremos o acampamento um pouco mais abaixo. A subida foi longa, estamos todos exaustos.

Conforme Leo tinha acertado com Ribas, para o jantar daquela noite, Silo havia preparado um cardápio especial: “ceviche de champiñones”, legumes cozidos ao vapor e filé de frango grelhado.

Sentados à mesa na tenda restaurante, com uma temperatura de cinco graus negativos, ao lado da imponente Salkantay, o casal, o guia e o chef Silo comiam e conversavam animadamente. Lidom recusou o convite alegando que precisava cuidar dos animais.

Em um determinado momento, Leo retirou do bolso da jaqueta uma pequena caixa. Abriu-a e mostrou um anel de prata com uma pedra verde, muita linda. Colocando-o no dedo da esposa junto à aliança de ouro e prata que ela usava, disse:

— Querida este é o meu presente pelo nosso aniversário de casamento. Sei que escolhi um restaurante não muito chique. Mas não consegui imaginar outro local, que não este, para lhe entregar o anel de bodas de trinta e sete anos, que é representada pela pedra “Aventurina”, conhecida pela sua força de acalmar e de equilibrar. Obrigado por ter aceitado o convite e me acompanhar nesta aventura...

III

Na Varanda do Apartamento...

— Querido acorde, o sol já se pôs. Estou aqui há cerca de vinte minutos. Preparei o patê de berinjela, vamos tomar um café e conversar sobre a sua ideia de irmos aos Andes Peruanos. Ou você está pensando em ir sozinho? — Indagou Valentina levantando-se e tocando no ombro do marido.

Despertando com um leve sorriso no rosto e acompanhando a esposa, Leo respondeu:

— Não pensando, amor, sonhando em ir contigo à Salkantay...

Sérgio Coutinho
Enviado por Sérgio Coutinho em 27/10/2016
Reeditado em 17/10/2017
Código do texto: T5804846
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