COISAS DO AMOR

     Aos quinze anos, ainda inocente e muito puro, iniciei minhas aventuras amorosas. Logo de cara conheci uma garota bonitona, que era três anos mais velha que eu. Então, joguei um pouco do meu charme pra cima dela. A mocinha quando me viu todo assanhado, querendo namoro com ela, cortou o meu barato baixinho:
      - Mas você é só um frangote!
      Sem perder a calma e a pose de galã, argumentei:
     - O verdadeiro amor não conhece barreiras nem limites.
     Ela me olhou com admiração e deu-se por vencida.
       - Puxa, que maturidade a sua!
     Mas eis que eu não tinha maturidade nenhuma, era apenas um inocente. Talvez por isso aquele namoro não deu certo. Porquanto, fosse por imaturidade ou por inocência, dei curso livre à minha falta de juízo e quatro meses depois terminei nos braços de outra mulher. Mas essa - é vergonhoso lembrar -,  aproveitou-se de mim o quanto pode.
      Josefina era moça de família rica, tinha um carro bonito e morava numa mansão. De início, quis conquistar a minha simpatia com presentes e outros agrados. Depois,  fez amizade com minha irmã e começou a frequentar nossa casa, quase que diariamente. Com o tempo, tornou-se, também,  minha amiga. Daí por diante era só a criatura me ver e já vinha de lá, se derretendo em agrados e elogios. Durão do jeito que eu era, evitei, de todas as formas, ter qualquer envolvimento com ela.  
     Até que, numa noite de sábado, aconteceu o pior. Meio bêbado, resolvi passar na casa dela e ficamos conversando por algum tempo. No calor da prosa, fiz-lhe uma pergunta inocente, boba mesmo:
    - De que tipo de homem você gosta, Josefina?  Daquele que respeita as leis de trânsito ou de quem avança o sinal?
    Não deu outra:  ela avançou o sinal e me puxou pra cima do sofá. E ali mesmo consumamos uma noite de prazer e de loucura.
   Paguei muito caro por minha insesatez. No dia seguinte ela espalhou para a rua inteira que estava namorando comigo. Então, todo mundo começou a zombar de mim. Para os amigos,  virei motivo de chacota.
    Fiquei meio despeitado. Mas, como ela ainda se achava uma garotinha, enviei-lhe uma carta malcriada. Depois, fui ter uma conversa séria com ela.
      - Se enxerga, mulher!
     Se aconteceu dela se enxergar,  não fiquei sabendo.  O certo é que  deixou de falar comigo por um bom tempo. Quando finalmente fez as pazes comigo, foi para se queixar da minha ingratidão e da minha frieza.
    - A maior covardia de um homem é despertar o amor no coração de uma mulher para depois desprezá-la.
    Já tinha lido aquela frase em algum romance barato. Mas acho que covardia mesmo foi a dela, apaixonar-se por mim de forma tão destabanada e depois me expor ao ridículo. É, mas quem procura acha. E eu tinha procurado mesmo.
     Dois anos mais tarde conheci Elisângela, uma morena cheia de charme e de sorrisos. E dentro de pouco tempo o nosso namoro evoluiu e transformou-se em coisa bem mais séria. Só que tanta insensatez quase me custou a vida.
    Elisângela era um bocado religiosa e meio metida a puritana, mas quando a levei para assistir um filme de sacanagem, ela não sinalizou com o menor protesto. Pelo contrário, ficou muito interessada no assunto: mais interessada do que devia.  E daí por diante não me deu sossego. Até que um dia, para mostrar como as coisas funcionavam na prática, rolei os cafofos com ela.
     - Que grande besteira, a minha!
     Depois disso,  ela queria porque queria casar comigo. De minha parte, confesso que não tinha nada contra ou a favor daquele casamento. Mas, aquilo não ia dar certo. De um lado, ela, que ganhava apenas um salário mínimo, trabalhando num escritório de advocacia; do outro lado, eu, um pobre estudante,  que não tinha sequer onde cair vivo,  nem mesmo se, por esperteza, ousasse me fingir de morto.
      Elisângela, que não compreendia a gravidade da situação, dizia simplesmente:
         - Pra tudo tem um jeito. Meu pai vai ajudar a gente.
    Eu só achava que o velho,  mal tomasse conhecimento dos fatos, ia mesmo era dar um jeito de me mandar bater um papo com Jesus.  O homem era militar e tinha fama de ser durão.
      Como eu não quisesse casar, Elisângela começou a me fazer ameaças:
       - Vou contar para o meu pai que você maculou minha inocência.
       Então eu, que de inocente já não tinha mais nada, comecei a me considerar um homem morto. Se aquela história chegasse aos ouvidos do coronel, coitado de mim.
     Ainda bem que Elisângela se apaixonou por um outro rapaz, que era mecânico. E dele engravidou, e com ele mesmo se casou. Depois disso resolvi tomar juízo e nunca mais me aventurei de forma perigosa com as mulheres.

 
JOTA SANTIAGO
Enviado por JOTA SANTIAGO em 30/07/2016
Reeditado em 16/08/2019
Código do texto: T5713501
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