TRIBUTO A CHANG

TRIBUTO A CHANG

Há quarenta e tantos anos, havia em minha vida um amigo inseparável. Tipo aquele Anjo da guarda que não te larga nunca! O nome dele era CHANG. O significado da palavra confesso não sei, mas se tivesse algum significado para a palavra CHANG, seria o enviado de Deus!

Chang era a personificação da bondade, da lealdade, da compreensão e da amizade. O amor que sentia por todos da casa, era fora do normal. Era capaz, por exemplo, de carregar um pequinês dependurado em seus lábios e vir para junto de nós, para mostrar que o pequenino estava o machucando, quando ele, um enorme Pastor Alemão, poderia estraçalhar o agressor.

Chang adorava me acompanhar nas caminhadas. Na verdade, a coisa que mais gostava na vida era pegar algum objeto que fosse lançado no espaço. Chang corria até o objeto, o segurava na boca e retornava até onde eu estava, sentava à minha frente e colocava o objeto delicadamente no chão e ali, ficava em atenção esperando que o objeto fosse novamente lançado. Mas quando, antes de jogar o objeto, olhava nos seus olhos e dizia, não pega! Ele não corria para perto do objeto que tinha sido lançado, ao invés disso, ficava me olhando esperando a permissão para fazê-lo. Quando voltava com seu prêmio na boca, marchava de uma forma diferente, todo garboso e feliz.

Em todo tempo de sua vida (13 anos), só o vi uma vez enraivecido. Lembro-me que certa noite, por volta das três horas da madrugada, ouvimos um barulho pelo lado de fora da casa e a seguir, o latido vigoroso do Chang. Era alguém que adentrou o quintal da casa, mas foi por pouco tempo, viu! Chang, avançou em direção ao invasor que tentou pular o muro de volta para a rua, mas Chang foi mais rápido, muito mais rápido e o segurou pelas pernas com sua enorme boca. O invasor, gritou por socorro, quando Chang já se encontrava por cima dele, o mordendo vigorosamente, tal qual um chefe de família defendendo o que era seu. Se não fosse alguém chegar na janela do segundo piso da casa e gritar: larga Chang... Larga Chang! Obediente como sempre foi, Chang largou o intruso que, rapidamente, pulou o muro da nossa casa.

Chang chorava ao perceber que um de nós estava chorando, sentia a nossa dor, como nenhum humano conseguia sentir. Por vezes, peguei o pequinês que era um guloso, comer toda a comida destinada a ele e ir ao vasilhame do Chang, mas ele não se importava e dividia a comida com aquele que, de vez enquanto, se dependurava em seus lábios.

Decerto, ensinei muitas coisas para o Chang, mas é mais certo ainda, afirmar que ele me ensinou muito mais coisas, do que as coisas que pude ensinar para ele.

Obrigado meu eterno amigo,

quem sabe, um dia nos encontremos outra vez.

Paulo Cesar Coelho
Enviado por Paulo Cesar Coelho em 08/05/2023
Código do texto: T7783201
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.