Atrás das sombras

Atrás das sombras.

Os anos se passaram rapidamente. Na sala, todos se preparavam para assumirem suas turmas. Mas naquele dia, foi diferente. Um novo professor chegara de surpresa para assumir a vaga de um dos integrantes do grupo que necessitara se afastar. Lentamente, ela levantou a cabeça e só viu uma sombra que se confundia com as lembranças do passado. Pousou as mãos sobre a mesa, era como se aos poucos, perdesse as forças que o tempo havia restituído. Uma sensação de angústia oprimiu-lhe o peito. Fora preterida por este homem que agora seria o seu novo colega. Naqueles longos e cinzentos anos, sua luta cotidiana resumira-se em superar o que havia ocorrido. Entre um “bom dia” e outro, o intruso fitou-a com um sorriso e sentenciou: “Há quanto tempo!”.

Essas palavras surpreenderam-na como um pássaro que entrasse pela janela.

Mas ela, agora, estava longe da adolescente rejeitada e o tempo havia sido benéfico transformando-a numa mulher de meia idade que adorava olhar-se no espelho, frequentar aulas de ginástica e saraus de poesia e cada vez que ele sorria ou cumprimentava ela sentia nele um ar de soberba como se a perturbação de sua presença trouxesse um certo prazer.

Até que um dia, na saída da do turno da tarde, em meio ao estacionamento ele a abordou e num movimento estilo galã de cinema tirou os largos óculos escuros, olhou-a de cima abaixo e disse que estava esperando uma oportunidade para se retratar, que sentia-se a pior das criaturas por ter causado sofrimento e que estaria disposto a um reinício.

Ela apenas fitou aquele homem de sapatos e bermudas. De barriga proeminente e totalmente calvo. Sorriu, entrou no carro e seguiu seu caminho.

Texto em parceria com a professora Roberta Flores Pedroso