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AMOR SEM LIMITES

 

 

Carlos levantou-se da cama e foi até à janela, olhou à volta e então fixou a lua, que brilhava cheia e resplandecente.

- Olhavas para mim? - perguntou ela.

- Sinceramente, não sei o que me atrai mais, se a lua ou tu… mas fico-me por ti - e rindo deu uma corrida até à cama, deitando-se ao lado de Clara e enlaçando o corpo nu.

- Acho que somos predestinados um ao outro… conhecemo-nos há tão pouco tempo e nunca me senti tão à vontade com alguém do que contigo…

- Faço minhas as tuas palavras - disse ela, acariciando-lhe o rosto.

- Amo-te, não exagero, neste momento é o que sinto.

- Eu também te amo, querido, não uma frase cliché, sinto-o de verdade… és uma boa pessoa, dispões-me bem e és muito meigo.

- Nunca imaginei que em menos de três meses me prenderia assim a alguém, que gostaria assim de uma pessoa…

Clara abraçou-o e beijaram-se longamente, depois ficaram assim, adormecidos.

De manhã Carlos levantou-se e foi à cozinha preparar o pequeno-almoço para ambos. Pegou num tabuleiro e nele colocou torradas, compota e um bule de chá feito na altura, depois levou-o até ao quarto, colocando-o no criado mudo.

Ela acordou com o cheiro, sentou-se na cama e ambos comeram com apetite.

Clara tomou banho e vestiu-se rapidamente, estava atrasada para o trabalho.

Carlos deu-lhe a primazia, não tinha pressa, trabalhava em casa em Teletrabalho, por isso podia gerir melhor o seu tempo.

Quando arrumava umas roupas e pegava numa mala de mão dela, caiu-lhe para o chão um frasco de plástico com comprimidos. Curioso viu o nome e foi ver na net para que fim se destinavam. Verificou com surpresa que tinham várias finalidades, todas elas relacionadas com neoplasias. Então recordou algumas situações que ultimamente ela protagonizara, os momentos de melancolia, por vezes custava-lhe a levantar da cama, parecia cansada, as vezes que a apanhara a chorar às escondidas e se desculpara com a doença de uma tia...

 

 

Passadas duas semanas e após ele a ter censurado em tom meigo e muito preocupado por não lhe ter contado a verdade, Carlos acompanhou Clara à consulta e a médica deu-lhes a notícia, um tumor de grau quatro nos ovários, a única esperança era a quimioterapia, mas mesmo essa sem garantias de sucesso, quanto muito reduziria um pouco o tamanho do tumor, mas a localização era complicada e talvez nem pudesse ser operável.

Ele abraçou-a e tentou tranquilizá-la:

- Estarei aqui sempre contigo. Confia em mim...

- Amor, não quero isso… promete-me que quando te pedir, me deixas só no hospital, se morrer, é o mais certo, não quero deixar desgostos para trás, que ninguém sofra por mim…

- Clara, por amor de Deus, não me faças isso, sabes que és o meu ar, estás tatuada no meu sangue, até ao fim… - e abraçou-a. Choraram juntos…

A médica também ficou comovida, aconselhou-os a ter fé em Deus.

 

 

Dois meses depois, numa manhã, Carlos entrou no quarto de hospital onde Clara permanecia, muito magra, olhos encovados, definhada na cama. Aos poucos abriu os olhos e por momentos eles brilharam ao vislumbrar o amor a sua vida. Ele beijou-a delicadamente e puxou uma cadeira para perto da cama. Pegou-lhe na mão e perguntou como se sentia.

- Fraca, sem forças - a sua voz era muito sumida. As lágrimas correram enquanto sentira o calor da mão dele na sua.

- Vai-te embora. Quando morrer não quero ninguém ao pé, já te disse…

Carlos beijou-lhe a mão ossuda e exangue e implorou-lhe:

- Deixa-me ficar aqui contigo, não quero mais ir embora…

- Vai, por favor…

- Não, se me faltas a vida perde o sentido, ao menos deixa-me estar junto de ti, sentir  a tua companhia…

Ela calou-se, cansada.

Carlos ficou em silêncio a olhá-la, pareceu-lhe adormecida, então baixou o resguardo de alumínio e devagar, deitou-se ao lado dela, pegando-lhe na mão, que encostou ao seu rosto.

Assim adormeceu.

Acordou com a mão dela gelada. Virou-se um pouco e constatou que ela já não respirava. Então virou-se completamente para Clara e abraçou-a, chorando convulsivamente.

Perdera-a para sempre.

 

 

 

 

 

 

 

 

Lady Antebellum - Can’t Take My Eyes of You

https://www.youtube.com/watch?v=IDma-fSQEd0

 

 

 

 

 

 

 

Ferreira Estêvão
Enviado por Ferreira Estêvão em 04/06/2022
Reeditado em 05/06/2022
Código do texto: T7530542
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