Eu Escolho você- Capitulo 2

Sai do trabalho as 19:00 me sentindo exausto, meu chefe havia me obrigado a passar quase o dia todo na sala dele acompanhando reuniões, só sai no horário de almoço, e aquela sala era muito quente porque o ar condicionado estava quebrado a duas semanas. Abri as duas janelas liguei o rádio e sai do estacionamento da empresa. Não via a hora de chegar em casa, tomar um banho e me jogar na cama. Era sexta-feira, então eu tinha o final de semana inteiro de folga.

Na esquina com a consolação, meu celular tocou. Como ele estava ligado no Bluetooth do carro eu podia atender. O numero não estava na minha agenda, devia ser alguém do trabalho.

- Alô.

- Oi, poderia falar com o Douglas?

- E ele mesmo, quem gostaria?

- E o Rogério.

Meu coração deu uma acelerada básica. Tinha duas semanas que tínhamos nos encontrado. Não tinha esquecido ele. Mas imaginei que ele não devia ter gostado de mim, então resolvi deixar pra lá.

- Nossa você sumiu. Pensei que não quisesse me ver.

- Desculpa cara, e que eu estive cheio de trabalho. Sou professor, aulas a planejar, trabalhos a corrigir. Vou ser sincero. Não me esqueci de você, mas realmente esqueci-me de ligar.

- Não e a mesma coisa?

- Não, você esteve em meus pensamentos, apenas não me lembrei de pegar o celular e ligar para você, ou até mesmo mandar uma mensagem, não tive tempo.

- Isso está soando como um pedido de desculpas.

- Mas é um pedido de desculpas.

- Tudo bem, eu entendo.

A vontade de ve-lo de novo, a felicidade de saber que ele havia me ligado, fez com que eu esquecesse de todo o resto. Afinal ele não tinha me dado falsas esperanças. Então eu não podia cobrá-lo por nada.

- Onde você está agora?

- Acabei de sair do trabalho, estou voltando para casa.

- Estou indo dar a minha última aula do dia. O que acha de nos vermos hoje?

- Que horas?

- Oito da noite pode ser?

- Por mim tudo bem.

- Te busco na sua casa. Pode me passar o endereço?

- Claro, anota ai.

Falei o endereço para ele enquanto parava o carro em frente a minha casa, não podia colocar o carro na garagem porque meu irmão havia esquecido a moto em frente de novo.

- Chego a sua casa no máximo às 20h10min.

- Tudo bem, vou esperar.

- Não vejo à hora de te ver de novo.

- Sei, vou fingir que acredito.

- Nossa, pensei que você tivesse me desculpado.

- Não me lembro de ter dito isso.

Sorrindo eu desliguei o telefone e entrei quase correndo dentro de casa. O Felipe como sempre ao me ouvireu abrir a porta, correu para me abraçar. Minha mãe estava sentada no sofá vendo as novelas mexicanas da tarde que ela amava, e minha cunhada Larissa estava ao lado. Sorriram a me ver chegar. Aproximei-me e beijei as duas.

- Filho, está com fome? Posso esquentar a comida.

- Não precisa mãe, eu vou sair. Só vou tomar banho.

- Sair? Mas você quase nunca sai na sexta.

- Tenho um encontro.

Larissa pulou de alegria no sofá, e minha mãe abriu um enorme sorriso.

- Um encontro filho? Com quem?

- Um amigo que eu conheci no cinema. Na verdade, nem sei se é um encontro. Ele me chamou para sair, deu algumas indiretas, mas não tenho certeza, prefiro não me iludir.

O Felipe que estava no chão brincando com um monte de carrinhos levantou a cabeça e disse sério:

- E o Rogério tio?

- Ele conhece esse homem?

- Sim. Foi no dia que fomos ver Toy Story, na verdade eu só vou sair com ele porque o seu filho abriu a boca e disse que eu tinha achado o sorriso dele lindo.

Larissa olhou para o filho com ar de orgulho.

- E assim que se faz meu amor. Seu tio já está na idade de arrumar alguém.

- Eu só tenho 25 anos, você fala como se eu fosse um velho.

- Mesmo assim, faz três anos que você terminou com o Lucas, já estava na hora.

- Bom, eu vou tomar banho e me arrumar, ele via vir me buscar aqui, então quando ele chegar, por favor, não me matem de vergonha.

Peguei minha pasta e fui para o meu quarto. Éramos em seis naquela casa, eu, o Carlos que era meu irmão mais velho e pai do Felipe, minha mãe, meu irmão mais novo Caíque, e minha cunhada Larissa, cada um tia seu quarto e seu espaço. Éramos muito unidos e felizes. Meu pai e minha mãe se separaram quando eu tinha 20 anos de idade, foi um choque para todos, uma vez que eles estavam juntos há quase 30 anos, mas ambos se davam muito bem, e meu pai até vinha em casa às vezes para o almoço de domingo.

Entrei no meu quarto e dei de cara com meu irmão Caíque na minha cama, ele havia quebrado o computador dele. E ia todo dia usar meu notebook.

- Caíque, eu já disse para não mexer no meu computador, está na hora de você comprar o seu.

- Como eu vou comprar um computador sem trabalho?

- Pede para mamãe.

O Caíque tinha 17 anos e ainda estava terminando os estudos, minha mãe não queria que ele trabalhasse antes dos 18, havia feito isso com todos os filhos.

- Você e um folgado. Ninguém mandou você deixar o Felipe mexer no seu. Agora fica ai sem.

- Eu já disse que não deixei, ele entrou no meu quarto escondido.

- Assim como você faz no meu né?

- Você deixa a porta aberta.

Joguei um travesseiro nele sorrindo, não tinha como ficar bravo, na verdade, eu já tinha planejado dar um notebook de presente para ele. Poderia fazer isso naquela noite mesmo, se eu e o Rogério fossemos no Shopping.

Tirei minha roupa e fui tomar banho, eram 19:45 quando terminei. Ouvi a campainha de casa e desci para a sala, minha mãe estava sentada na poltrona de frente para o Rogério, que estava mais lindo do que nunca. Sorri ainda na escada ao ve-lo ali com uma xícara na mão sorrindo para minha família. Havia algo nele que me deixava sem fôlego, era como se meu corpo tivesse esperado meses para ve-lo.

- Mãe, espero que você não esteja falando com ele sobre a minha infância.

- Claro que não filho, isso eu só faço a partir da terceira visita.

Todos riram inclusive ele, que se levantou e estendeu a mão para mim.

- E bom vê-lo de novo, podemos ir?

- Claro.

Ele estendeu a mão para minha mãe.

- Foi um prazer Dona Roberta, assim que puder eu venho para provar o seu strogonoff.

- Espero que sim.

Saímos de casa lado a lado. E ele disse para mim sério:

- Sua mãe e uma pessoa admirável.

- Não sei o que seria sem ela. Então, vamos no seu carro ou no meu?

- No meu, está logo ali em frente - Disse ele apontando para um Crosfoxx atrás do meu carro - Faz alguns dias que não dirijo, meu carro estava quebrado.

Sentei-me no banco de carona. Ele entrou logo em seguida e olhou para mim.

- Então, eu pensei em irmos ao cinema, tudo bem pra você?

- Claro. Séria ótimo.

No caminho ficamos a maioria do tempo em silêncio, conversamos um pouco sobre trabalho e família. Mas nada que não tenhamos falado antes. Ele era bom de conversa e tinha um modo de pensar admirável.

Chegamos ao Shopping em menos de 15 minutos. Na fila para comprar ingressos ficamos em duvida em qual escolher, eu queria ver um romance, e ele um filme de herói. Acabamos por decidir no par ou impar, com vitória para ele. Rindo muito da minha cara de decepção, ele me abraçou de lado enquanto íamos comprar pipoca.

- Não fica assim, da próxima vez eu deixo você escolher. Prometo.

- Se você continuar rindo assim, não vai ter próxima vez.

Compramos pipoca e entramos na sala. Assim que me sentei ele esticou o braço e fez que eu deitasse a cabeça em seu ombro. Fiquei surpreso pela intimidade tão repentina, mas feliz com o cheiro do perfume dele em mim. Estava tão cansado e tão confortável, que acabei dormindo o filme todo.

- Hey dorminhoco.

Levemente ele me cutucou para que eu acordasse. Bocejando eu olhei para ele que sorria a me ver com a cara inchada.

- Meu deus, desculpa, eu estava tão cansado que dormi.

- Tudo bem, quando viermos assistir algum filme meloso de romance eu me vingo.

- Eu sou um péssimo acompanhante né?

- Não diria isso, péssimos acompanhantes não dormem, ficam falando o filme inteiro, cutucando as pessoas e comendo pipoca com a boca aberta. Então você está longe de ser um mal acompanhante.

Saímos do cinema e fomos para a praça de alimentação. Meu rosto estava um pouco vermelho por causa do calor. Ele insistiu em pagar o jantar, então compramos comida japonesa. Quando me sentei para comer ele olhou para mim rindo.

- O que foi agora?

- É sério que você pegou garfo para comer comida japonesa?

- O que tem?

- Não sabe comer com hashi?

- O que e Hashi?

- E o nome desses palitos, são talheres da comida japonesa.

- Não sabia que chamava assim, e que eu esqueci de pegar.

- Não seja por isso, toma.

Ele estendeu os palitinhos para mim e pegou meu garfo. Sem ação eu tentei pegar o arroz no meu prato, e não consegui. Ele ficou olhando com cara de riso. Dei-me por vencido e tomei o garfo da mão dele.

- Ok, eu não sei comer com palitinhos, satisfeito agora?

- Sim, porque você e um fofo quando está bravo.

Fiquei mais vermelho do que nunca e comecei a comer. Fiquei admirando o rosto dele, tão calmo e sereno. Como se estar ali comigo fosse algo absolutamente normal, eu me sentia tão em paz, tão feliz, como há tempos não me sentia. Mas tinha medo de deixar esse sentimento tão obvio e sofrer por isso. Afinal ele poderia não querer o mesmo que eu.

Quando terminamos de comer, fomos para o centro do Shopping, eu entrei em uma loja de eletrônicos comecei a olhar os notebooks, até que achei igual ao meu só que por um preço menor, comprei e pedi para embrulhar de presente. Meu irmão era muito sapeca às vezes, mas merecia, e, além disso, minha mãe não tinha condições de dar um novo computador para ele.

Estávamos quase indo embora quando passamos em frente ao parque de diversões que estava montado no estacionamento do Shopping. Então o Rogério me disse:

- Eu preciso ir ali rapidamente, você pode me esperar no carro?

- Tudo bem.

Fiquei curioso para saber o que ele iria fazer, mas preferi não comentar nada para não parecer enxerido. Fui para o carro e fiquei esperando do lado de fora, minha cunhada tinha me mandado um monte de mensagens perguntando como estava o encontro. Depois que terminei de responder, o Rogério chegou. Trazia um pacote na mão que guardou no banco de trás do carro.

- Então vamos?

- Claro.

No caminho de volta ficamos em silêncio a maioria do tempo, ele falou bastante sobre o filme, mas como eu entendia muito pouco de heróis, acabei não conversando muito. Quando ele parou o carro em frente a minha casa comentou sério:

- Eu sou tão chato assim?

- Não, claro que não, e que eu não entendo nada de heróis, não sou muito fã.

- Entendi, mas pode deixar que da próxima vez você escolhe o filme.

- E também vou pagar tudo, o que você fez não e justo.

- Quanto a isso teremos que negociar.

- Fico feliz em saber que você pensa em um próximo passeio.

- Passeio? Pensei que estivéssemos tendo um encontro.

Ele me olhou e sorriu. Então colocou a mão atrás do carro e pegou o pacote que tinha ido buscar.

- Sei que é muito cedo para isso, mas queria que você tivesse uma lembrança da noite de hoje.

Peguei o pacote e abri. Fiquei emocionado quando encontrei dentro dele um panda de pelúcia. Era muito fofo e pequeno. E eu amava bichos de pelúcia, na minha cama tinha um monte.

- Sua mãe me disse que você gostava, então ganhei em uma brincadeira no parque, queria ter ganho um maior. Mas minha pontaria não e tão boa.

- Eu amei, eu não tenho nem um panda, vai ficar lindo na minha cama. Obrigado mesmo.

Nos olhamos por alguns segundos, então aos poucos fomos nos aproximando. Quando percebi estava beijando ele como se fosse o primeiro beijo da minha vida. Sentia a mão dele na minha nuca, o hálito fresco em meus lábios, a língua quente brincando com a minha boca, e o mais importante, havia sentimento naquele beijo. Muito sentimento. Pelo menos pela minha parte. Quando nos soltamos estávamos ofegantes.

- Beijo no primeiro encontro é um bom sinal? - Eu perguntei sorrindo.

- Não sei, mas eu quero de novo.

Ele me puxou para si e nos beijamos outra vez. Ficamos assim por quase meia hora. Até que a luz da sala se acendeu na minha casa. Devia ser minha mãe me esperando chegar.

- Preciso entrar. Minha mãe já deve estar preocupada.

- Com razão, você está no carro de um desconhecido. E pior, beijando ele.

- O desconhecido e o cara mais gato que eu já beijei.

- Elogiar não vai fazer com que eu marque outro encontro.

- Não seja por isso, eu ligo marcando.

Dei outro selinho nele, peguei o urso e sai do carro. Quando dei a volta ele abaixou o vidro do carro, eu já estava quase na porta de casa, quando ouvi falar:

- Algo me diz que meus sonhos serão ótimos hoje.

Virei-me com o urso na mão. Então o coloquei no meu rosto e fiz como se ele estivesse dando um tchau. Vi quando ele sorriu e ligou o carro, quando ele virou a esquina, eu suspirei e disse para o vazio da rua, olhando em direção ao céu:

- Acho que os meus também.

CleberLestrange
Enviado por CleberLestrange em 14/03/2022
Código do texto: T7472798
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