Temporal

Era um tempo de chuva. De caracóis, peixes no meio da casa. E eu purulento de desejar Tereza. E era tanta a umidade que a gente vivia encharcado, criando limo, nadando na rede. E foi de naufragar em Tereza que busquei Irene. Uma casa molhada, uma cama boiando. Tenha Jesus me olhando, um pôster de uma metrópole. E eu? Eu queria me sujar em Irene, ela tinha uma chaga, um pus que eu queria para revestir meu corpo. E fui entrando em Irene querendo furar Tereza, fazê-la vazar. Era tanta minha alucinação, era tanto o meu querer Tereza, que me sujando, achei que a combatia. Tereza só ria, debochava. E eu? Eu já vinha perdendo peso, marcado com a doença de Irene. “Cumadi” de minha mãe foi em casa para fazer reza, instruir remédio de erva. Eu só queria mostrar minha úlcera, exibir o sexo endemoninhado, fazê-lo chover sobre ela. Penso que o corpo precisa refletir o espirito, eu tinha o espirito escuro, passei a ter o corpo também. De Tereza, só sei que ria. E era tanta água, que eu engolia o choro. É difícil estar vazio quando o mundo te enche de chuva. Só queria vomitar um oceano, comer terra, me plantar por dentro. E Irene também pululava, estava cheia, mas ela tinha Jesus, e acho que já tinha morrido. Eu só queria a estiagem, ficar seco. Mas chuva é coisa que não passa. Tempestade é vento que penetra. E eu? Eu só podia dançar na chuva, engolir moluscos, pedras, ondas, correnteza. Dançava e chovia junto, chovia até estiar, até esquecer, até morrer. Fiz-me chuva e Tereza ria engasgada.

Rodrigo Sanchez
Enviado por Rodrigo Sanchez em 13/11/2021
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