O amor de Dalva e Francisco-2

Francisco ainda ficou ali parado, olhando Dalva seguir seu caminho.

--Ei! Psiu! Tá hipnotizado, rapaz? Perguntou Pedro, amigo de Francisco que o acompanhava.

-- Quem? Eu? Ah! É a melhor hipnose que eu poderia ter, meu amigo! Acho que encontrei a mulher da minha vida.

--Chico, Chico! Toma prumo, meu camarada! Disse Pedro, meneando a cabeça.

Ambos entraram e tomaram café. Francisco, antes de sair, ainda deu uma boa gorjeta para Janete, que recebeu feliz da vida.

Francisco e Dalva continuaram a se ver e se falarem com os olhos e com sorrisos durante alguns dias, até que el resolveu convidá-la para tomar um sorvete.

Dalva relutou e disse que ia pensar um pouco e ele teve que aceitar esse tempo.

Naquele dia, à tarde, ela foi à padaria e contou para Janete sobre o convite.

--Vai, boba! Ele é tão lindo, engenheiro e tá caidinho por você. Eu não pensaria duas vezes.--Disse Janete, incentivando Dalva a aceitar o encontro.

--Mas, como vou sair assim com uma pessoa que mal conheço? Minha mãe nunca deixaria, e, você sabe, não é porque já tenho dezoito que saio sem falar com ela. E meu pai? Ele me mata...

-- Para de ser medrosa! -- interrompeu Janete -- diz pra sua mãe que você passar lá em casa, se ela me perguntar eu confirmo, fica tranquila.

-- Ai... Eu não sei... Será?

--Será o quê, moça? Vai... aceita.

-- Está bem, eu vou. -- disse Dalva num misto de apreensão e desejo de quebrar as regras.

No dia seguinte, Francisco apareceu, como de costume, na padaria e, novamente, se encontrou com Dalva. Eles conversaram e combinaram o horário, domingo às três da tarde, na sorveteria da praça.

Como combinado, ela mentiu para a sua mãe e foi ao encontro. Lá eles tomaram sorvete e conversaram bastante. Ela contou da vida dela e ele da dele. Depois foram andando, devagar e bem pertinho um do outro, para a praça, quando suas mãos se tocaram e eles, olhando para as mãos, se entreolharam e sorriram um para o outro, um sorriso de cumplicidade.

A partir daquele dia, eles passaram a se encontrar mais frequentemente. Foi em um desses encontros que Francisco convidou Dalva para ir ao cinema.

-- Vai passar um filme que eu quero ver e com você seria perfeito.

--É mesmo? E que filme seria tão perfeito assim para ver comigo? Respondeu, se virando para ele e mordendo o lábio inferior .

-- Tarde Demais Para Esquecer. Não lhe disse? Assim também é comigo, tarde demais para esquecer você. Disse ele com uma voz grave, enquanto lhe segurava as mãos, olhando-lhe profundamente nos olhos.

--Ah! Não sei. -- se esquivou Dalva, passando a mão nos cabelos -- meus pais jamais permitiriam.

-- Você já tem 18 anos, não precisa da permissão dos seus pais para ir ao cinema.

-- Certo. Mas não é bem assim. Fui criada de um jeito que devo obediência a eles, enquanto eu estiver morando lá. Entendeu? Aqui é uma cidade do interior e a cultura é um pouquinho diferente da cidade grande.

--Está bem, está bem. Mas você não vai fugir de mim. Pensa com carinho, vou ficar esperando o seu sim.

-- Vamos ver! --disse Dalva, dando lhe um beijo no rosto e saindo apressadamente, ao passo que o deixava ali sem uma resposta certa.

À tarde do dia seguinte, Dalva foi à padaria com o firme propósito de encontrar com Janete.

-- Janete, preciso falar com você.

-- Está bem. Espere um pouquinho, que meu horário já está acabando.

Terminado e expediente de Janete, ambas saíram e sentaram-se em um banco da praça que havia em frente à padaria.

-- Conta, amiga, o que houve? Perguntou Janete.

--Ai, amiga... Francisco quer que eu vá ver um filme com ele...

--Ah! Que demais! -- Interrompeu Janete.

-- Como assim demais? Eu não posso ir. Imagine se meu pai descobre que eu fui ao cinema com um rapaz que nem da cidade é.

-- Ele não precisa saber, Dalvinha. Diz pra ele que você vai dormir lá em casa, fica sossegada, você sabe que confirmo tudo.

-- Será, amiga?

-- Será, nada! Não tem será, você vai sim, Dalva. Quando é que você vai ter a oportunidade de conhecer, nesse fim de mundo, um pão desses, gamado em você e bem-sucedido?

-- Eu sei amiga, mas, se ele estiver de papo furado? Como eu fico depois?

-- Pense bem, Dalva. Você vai ou não vai?

Dalva hesitou um pouco e respondeu:

-- Quer saber? Acho que você tem razão. Eu vou. Disse meio eufórica.

No dia seguinte, ela foi novamente à padaria que já havia se tornado o seu ponto de encontro, ainda que discretamente, onde ela deixou um bilhete com Janete, confirmando que iria ao cinema e combinando um ponto de encontro. Francisco recebeu o bilhete e deixou-lhe outro com alguns bombons. O encontro estava marcado.