O Beija-flor e o Girassol

Coração Beija-flor

O amor habita a alma

Que mora no Coração Beija-flor

Que bate rápido

Pulsa a alegria de se saber

Senhor de sua vontade, que arde

Urge no desejo de uma vez mais

O beijo sonhado, compartilhado

No silêncio, no vento

Nos sinais da fronte

Testemunhas vivas,

De vôos de outrora!

Talvez, Beija-flor!

Sandra Corrêa Nunes

  

                                    .1.

Marina dava os últimos retoques no visual. Aquele momento em si era todo sonho! Pensamento voltou seis meses antes, a vida corria normal, sem surpresas. Feliz! Tinha um relacionamento harmônico, muita afinidade que depois de alguns desencontros entrava em uma fase de certeza para ambos. Se dedicavam além deles, à filha  deficiente. Um e-mail encaminhado por um site de escritores chamou a atenção. Apesar de publicar no site desde 2008, havia muito tempo que não recebia comunicações de lá! 

'Assunto: UM NOTÁVEL TEXTO POÉTICO DE SUA AUTORIA

Nome: AGENTE LITERÁRIO M. G.'

(...) você, ilustre poeta, é uma destas pessoas. 

Li seu texto, ao qual fiz referência anteriormente, e o achei de excelente qualidade, tanto no que se refere à forma, quanto à maneira como expôs suas ideias.(...) 

Ficou entre confusa e surpresa! Poderia ser um engodo, ao mesmo tempo, o que teria ela para atrair golpistas? Decidiu responder à mensagem que a convidava para fazer parte de uma coletânea de poesias da editora.  Pensou nas suas publicações  e, apesar de receber um feedback positivo, julgava ser amizade. Portanto não dava crédito ao "poetisa" que lhe falavam, no máximo aquecia o coração!

Os dias que se seguiram, o e-mail e a resposta foram esquecidos na azáfama rotineira. Para sua surpresa, a editora entrou em contato.

'O professor G. M. vem à editora todos os dias, e se você quiser falar pessoalmente com ele, pode nos enviar um número de telefone e um horário que lhe seja adequado.

Como você é pessoa indicada pelo Senhor M. G., por certo fará questão de falar contigo.' 

'Caiu das nuvens'! Mas excitada respondeu ao e-mail, fornecendo os dados solicitados. Mal podia conter a ansiedade e aguardar o dia do contato com o editor! 

No dia do contato, o editor, pareceu pessoa distinta e a tratou com respeito e admiração e ao término de uma conversa cordial, arrematou, 'prazer falar contigo, poetisa!' Não acreditou que o editor chamou-a assim! 

Passado o choque, colocou as ideias no lugar e partiu para a organização do que sem dúvidas seria o 'acontecimento' da sua vida! Não reduzindo a importância da graduação e  da pós-graduação, ambas realizadas no modo EaD, por ser impossível frequentar os cursos presenciais.

Já de pronto, decidiu que o dia do lançamento não seria marcante somente para ela. Tinha que ser compartilhado com a pessoa que escrevia junto a estória de sua vida! Seu companheiro estaria lá fazendo o que amou por toda vida! A música! O conjunto do qual  ele fazia parte, se apresentaria no coffebreak servido aos convidados no evento em endereço que abrilhantava o acontecimento. 

Chegou o grande dia! O vestido simples(não foi confeccionado para a ocasião, era segundo uso) com clássicas, conferia a ela um ar sóbrio e fazia jogo com uma sapatilha confortável, sem salto. Não queria que acontecesse algum acidente pela falta de costume. Nenhum penteado, cabelos com o cacheado natural, lavados e secos soltos. queria ser ela mesma naquele dia! 

Pronta para sair, pegou a pasta com sua fala para o momento '(...)Depois de reconhecida como: “Poetisa-Mãe” ou Mãe-Poetisa”, tenho orgulho de ter carregado no colo duas Poesias e de ter dado a luz a “Belas Palavras”!

 Gratidão

Ao café, que em torno de si reune amigos,

Ao pão, que cresce gerando a  partilha,

Aos irmãos de luta, que se unem na diferença,

Aos acordes que unidos, são poema,

Ao barro, que gentil se molda às mãos poetisas,

À amizade, que faz da vida poesia no caminho,

Ao Amor, que tempera nossos dias,

Á palavra, que se dobra, molda e se une, para ser

Poesia!

Obrigada'

                   .2.

Inexplicável como se sentiu nesse dia! A vida nunca mais foi a mesma! Muitas coisas que não eram constumeiras! Frequenta lugares diferentes, convive com pessoas que só nos livros poderia conhecer! Frequenta a Academia de Letras da cidade, onde a cultura que tanto admirava é presença certa! 

Em um dos eventos - um lançamento de um livro que comemorava os 300 anos da cidade, conheceu uma pessoa, que ocupava um um lugar de destaque , porém nem ele, percebeu a presença dela, nem ele percebeu a presença dela, nem ela podia supor que ele faria uma revolução nos sentimentos, que julgava seguros, inquestionáveis! 

Vida segue!

Um costume adquirido na graduação, o uso de redes sociais para conhecer pessoas diferentes, fazer novos amigos, conversar com os antigos - dar vasão à indignação pela situação do país desgovernado em plena pandemia do Covid-19.O ano de 2020 ficará na história como um ano muito dificil para todos!

Um dia, se encantou com o comentário de um desconhecido em um post de um amigo comum 'Essa coisa de abraço que é laço pois não é nó, nos deixa o peito aberto ao amplexo, mesmo que virtual, pois dado sem dó.' - O Beija-flor.  Decidiu que seria sua amiga também! Dias depois convite aceito! Certeza mais aprendizado viria! 

Em mais uma incursão na rede social, se deparou com uma discussão entre uma amiga e um desconhecido sobre política!  Se divertiu com a forma 'destemperada" que a amiga defendia seu ponto de vista e a cordial interpelação do desconhecido! 'Dizem que os milicianos no Rio receberam a comissão pra lavar na construção civil que vende prédios que caem. O Flavinho tá no meio - O avô. 

Achou estranho, mas os desconhecidos tinham o mesmo nome, a não ser por um S e um Z! Coincidência, pensou! Então, outro convite! Pensou que poderia ser divertido ter como amigo alguém que não se furtava de  contradizer alguém que questionava a presença dele no seu círculo de amizades! Outro convite aceito!

Nesse interim a conversa via aplicativo de mensagens acontecia na forma de versos entre ela e o Beija-flor... O dialogo era fácil e fluía com uma naturalidade de conhecidos de longa data, em apenas uma semana! Quando o avô aceitou o convite, disse "fascistas não gostam de poetas", no que ela respondeu "pior para eles"! Foi quando Marina resolveu visitar de forma detida o perfil denominado 'Souza' e não Sousa' como o outro! Mais coincidências,  mesmos amigos, mesmo nome do filho, mesma formação! Sem dúvida, a mesma pessoa! Só havia um jeito de solucionar a dúvida. Interpelar os dois... Assim o fez! A resposta foi a conffirmação das suspeitas! Estava explicado o ato do avô saber o que o Beija-flor sabia! 

A amizade acontecia nos dois perfis. Cada vez maior o entrosamento e a cumplicidade. Marina acostumou a ter nos seus períodos de insônia da madrugada a companhia do outro notívago, Beija-flor seria seu nome, e ele a chamava de Girassol! Par romântico improvável que adotou como sua estória o poema "O Beija-flor e o Girassol", Sandra Corrêa Nunes.

"Inimaginável amor

Entre o rápido voar

E o magestoso "florar"

De pés no chão!

Inda um pequeno sol

Boloiçava ao vento

E o Beija-flor, ágil

Tentava um beijo roubar!

E fechada em suas pétalas

A negar e balançar

Um dia o Astro-Rei tocou

As pétalas da moça

E seu viço brilhou

O Beija-flor encantado

A rodeou e ela reconheceu

Das asas o roçar

Sol aqui na Terra

Para o galante pássaro olhou

E um beijo rápido

Selou!

Um milagre aconteceu

Tão diferente!

Tão inocente!

Amor"

A poesia fluia na conversa dos dois tornando cada vez mais encantadora a convivência! Como não poderia deixar de ser, o desejo nasceu e temperou o idílio.

No contexto da pandemia o simples toque de mãos era proibitivo! Se amar? Só em  sonho e na poesia! Sonhavam nos versos feitos no 'estalo' por ela! As palavras adquiriam o poder de acariciar o outro!

Encontro marcado! Muito sonhado! Ela, não mais uma mocinha. Ele, com anos bem vividos. Mas o desejo, a vida palpitava os corações desenfreados! Já estava escrito! Uma poesia a quatro mãos iriam tecer...

Carinho, o enredo! Dois seres que não precisam provar para o outro o Amor que os guiou até aquele momento. A entrega sonhada desejada aconteceu! Gozo, palavras, desconexas, êxtase por todos os poros, e se derramam num só! O Universo conspirou!