Um silêncio superficial

Saio da mata. Monjolos está sem movimentação hoje. Talvez seja o dia da semana, ou talvez seja o tempo, não sei. Não procuro criar respostas, eu apenas vivo. Estendo a canga de tom azul, com uma mandala branca sobre a terra. Apoio todo o resto sobre as pedras ao redor. Nada está tão tranquilo.

De onde estou, consigo enxergar diversos saltos das águas entre as pedras, o balanço das folhagens, os animais por perto, meu corpo se cobrindo com a água fria e agitada dos saltos. Mergulho. Com os olhos abertos vejo os musgos decorando o fundo, a areia, meu pequeno medo de cobras de água doce, meu medo de mim.

Talvez a paz que queremos tanto encontrar esteja nas pedras escondidas dentro de nós, sufocando por não ter esse encontro de consciência. Percebo que que todos os dias são dias de subversão, ou pelo menos, tentativas de subverter os momentos formados... Às vezes me pego nesses desdobramentos existencialistas. Sugo do meu ser, das minhas compreensões acerca do mundo.

Penso, que no meu imaginário, as pessoas são responsáveis pelas suas escolhas, dentro de obrigações e deveres. Ao passo que, quando me aprofundo mais sobre as questões do meu imaginário, essa estrutura de consciência, essa vida que foge de todo o meu querer e desejos... ela é incontrolável por não depender apenas da minha existência. Nesta percepção, o freio se aperta lentamente, e então não há mais vontades, ou desejos, ou planos. Apenas Monjolos e eu.

Na superfície nada mais se abala. De longe, o som dos passos se aproximando deixa a natureza em alerta. Na borda do rio germina uma sombra, a qual tento subverter.

Yuri Santos
Enviado por Yuri Santos em 27/02/2019
Reeditado em 27/02/2019
Código do texto: T6585491
Classificação de conteúdo: seguro