Carinho

Aperto os olhos - Eu não consigo me conectar as pessoas. Às vezes penso que pode ser medo, mas não o sinto.

Meu analista diz, que, ao longo de nossas vidas adquirimos diversos traumas. Concordo. Algo como desafios reiterados. Ou, na falta de um conceito melhor, "água mole, pedra dura, tanto bate até que fura".

Me deito no chão. Fixo meus olhos sobre o balaustrado. O que sentir? O que ser? Cubro meus olhos verdes com a mão. Robert Smith, em The Last Day of the Summer, diz que as coisas costumavam ser mais fáceis, nunca pensei sobre isso. Minhas pernas se esticam, o som está relativamente neutro. Meu cabelo loiro parece se fundir ao chão branco da sala, criando raízes difíceis de se tirar. Minha pele branca parece está em concordância com o frio, e o tempo, e... Talvez a vida.

Alguém sussurra desejos. Não a prometo nada. Ela me olha, e nesse instante sabemos que nada estava bem. Não sei como nos curar, mas penso que não há nós. Me encontro como uma unidade. Despejo verdades e mentiras, tento não magoá-la. Penso que mentir, nesse caso é uma forma de protegê-la da dor. No entanto, penso que a forma dela lidar com as coisas fica a critério dela. Infelizmente não posso tomar para mim a dor do outro, pois dentro de mim o fogo queima, estou em chamas por dentro.

Ela diz que não sabe o que dizer. Digo que também não sei, que penso uma infinidade de coisas, mas que as palavras não saltam da minha boca. Ela diz que compreende, que não posso forçar a minha alma.

Dentro de mim vive uma sensação de enfumaçamento negro, ou algo como uma fusão de reações químicas que tentam dominar o meu corpo. Resisto. Nada muda. Ela me olha, os olhos marejam, sinto como se muita água estivesse correndo por dentro do meu corpo, e ao mesmo tempo, me sinto seca. Ela se dobra sobre o meu copo, não há do que resistir, penso. Não há voz, não há borboletas, não há perspectivas. Ela diz que gostaria de me dizer: "Eu te amo". Meus olhos congelam, minha pele enrijece, a saliva amarga. Não me mexo. Os dedos dela percorrem minhas pernas. Ela diz que o silêncio diz muito. Fecho os meus olhos. Penso em mim. Me deixo aqui.

Yuri Santos
Enviado por Yuri Santos em 07/12/2018
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