Quer dançar?

- Eu ainda não sei como deixei você me convencer a vir nessa festa? - Disse Ema, para a amiga, ao se aproximarem do salão.

Ela usava um vestido longo preto e segurava uma bolsa carteira em uma das mãos. O remix de uma música pop que ela não reconheceu ecoava de dentro do lugar. Dois seguranças as cumprimentaram ao passar por eles na porta.

- Não banque a anti social, tenho certeza que vai se divertir e... ainda vai me agradecer. - Virando-se para olhá-la com um sorriso. Seu cabelo loiro estava preso em uma trança elaborada.

- Eu espero.

Corpos se mexiam por quase todo o salão. No andar de cima o DJ chacoalhava a cabeça no ritmo das batidas, segurando um dos lados do fone no ouvido. No bar, aos fundos, algumas pessoas estavam sentadas no balcão, o barman fazia malabarismos enquanto preparava os drinques. A iluminação era fraca e as luzes se alternavam entre as cores primarias. Mesas com toalhas em tons escuros se espalhavam nos cantos do salão, rodeando a pista de dança.

- Ai está a aniversariante. - Disse a garota loira, abraçando uma garota um pouco menor, também loira.

- Carol.

Ela fechou os olhos ao abraçá-la. percebeu Ema.

- Ema, você veio. - Abraçando-a. - Como conseguiu trazê-la?

- Meu deu um pouco de trabalho. - Sorrindo.

- Fiquem à vontade, a festa é de vocês também. - Disse, caminhando até a entrada.

- Seu namorado não vai vir? - Quis saber Ema, seguindo-a em direção ao bar.

- Ele vai se atrasar um pouco.

Ema olhou ao redor por um instante, não conhecia ninguém ali além de Carol e da aniversariante.

- Duas caipirinhas, por favor. Na minha pode caprichar na vodka. - Pediu Carol.

- Você sabe que eu não bebo.

- Abre uma exceção, não precisa encher a cara.

Ema fez uma ligeira careta, mas não fez nenhum protesto.

- Você devia sair mais, está perdendo muita coisa boa.

- Eu saio o suficiente.

- Suficiente para quem?

O barman colocou sobre o balcão dois copos pequenos com um canudinho dobrável verde e uma rodela de limão presa na borda. Carol levou o canudo até a boca.

- Eu não gosto muito disso. - Disse Ema.

- Da caipirinha? - Franzindo a testa.

- Também. Não gosto muito dessa muvuca. Acho que não me dou muito bem onde tem muita gente. - Esboçando um sorriso.

- Eu não sei como você pode não gostar. Eu já volto. - Disse, ao ver o namorado.

Ema a observou ziguezaguear pelo salão até desaparecer do seu campo de visão e levou o copo até a boca, em seguida o colocou sobre o balcão. Observou as pessoas dançarem ao seu redor, algumas conversavam, as vozes tão altas que mais parecia uma discussão acalorada. Voltou o olhar para as mesas, poucas pessoas permaneciam sentadas. As toalhas se estendiam até o chão.

- Oi. - Cumprimentou uma garota de olhos puxados ao passar por ela, acompanhada de uma amiga

- Oi.

Ela as encarou por um instante e deu as costas para a pista, segurando o copo, quase cheio, com as duas mãos. As batidas da música alteravam seu ritmo cardíaco e isso a incomodava um pouco. Levou o copo e sorveu um generoso gole, fazendo uma ligeira careta. Carol não iria voltar e ela sabia disso. O barman sorriu ao olhar na sua direção e ela desviou o olhar.

- Não gostou da bebida? - Perguntou ele, ao se aproximar.

- Não bebo muito.

- Pelo jeito sua amiga não vai voltar.

- Ela sempre faz isso. - Desviando o olhar para a pista.

- Que tal eu te fazer companhia? - Inclinando-se sobre o balcão.

- Acho que você tem trabalho a fazer. - Apontando para um rapaz no balcão que gesticulava em sua direção.

O barman o olhou por um instante.

- O que acha da gente dar uma volta quando a festa terminar.

- Eu não vou ficar até o final.

- Acho que isso foi um não.

- Foi.

Ele se afastou e Ema sorveu mais um gole da caipirinha, decidindo deixar o copo de lado. Pegou o celular de dentro da bolsa carteira, o visor marcava pouco mais de onze da noite. O guardou, colocando a bolsa sobre o balcão. Tinha a sensação de estar ali a horas, no entanto haviam passado apenas alguns minutos. Se virou na direção da pista de dança. A música agitada deu lugar a batidas lentas.

- Cadê os casais apaixonados. - Disse o DJ, segurando um microfone.

Alguns dos convidados protestaram a mudança repentina e deixaram a pista de dança. Casais se espalharam pelo lugar dançando com os corpos colados.

- Quer dançar? - Perguntou uma garota de cabelos curtos presos em um "rabo de cavalo". Seus olhos tinham um tom de verde intenso.

- Eu não danço.

- Todo mundo sabe dançar esse tipo de música. É só um para lá e uma para cá. - Disse, sorrindo.

Ema se levantou e a garota estendeu a mão em sua direção, conduzindo-a até a pista de dança. Ela era poucos centímetros maior que Ema.

- Eu não vou me importar se pisar no meu pé. - Olhando-a.

- É um risco que você corre. - Esboçando um sorriso um pouco sem graça.

A garota colocou as mãos em sua cintura e Ema envolveu seus braços ao redor do seu pescoço.

- Como é seu nome? - Quis saber Ema.

- Roberta e o seu?

- Ema.

Ela a olhou por alguns instantes e em seguida encostou a cabeça em seu peito. Seus corpos se encaixavam perfeitamente, movendo-se de lá para cá pelo salão.

Alice Moraes
Enviado por Alice Moraes em 12/10/2018
Reeditado em 26/11/2018
Código do texto: T6474557
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