O amor é mudo

“Ela é um oceano de complexidades ao qual você insiste em não mergulhar.” Foi pensando nessa frase dita pelo meu amigo psicólogo que voltei para casa. Levei algum tempo até perceber que palavras de reciprocidade se haviam perdido no tempo. Logo ela; a amante das expressões; a dona da “fala bonita” andava calada; introspectiva... Uma versão feminina de mim! E para meu desespero, quando indagada sobre a tal mudez, ela respondia o clássico: “Nada, querido. Eu estou bem.” Entretanto, lá dentro eu sabia que havia alguma tempestade. Só não sabia se ainda estava se formando ou se tudo já estava devastado e prestes a ser “vomitado”, como da última vez. Até o típico sorriso no rosto que alegrava as minhas manhãs de segunda havia sumido e aquilo, somado à falta de resposta para o meu “Eu te amo” me deixava encucado. Foi aí que no sábado passado, assim que voltei de minhas obrigações, cheguei à minha casa e lá estava ela sentada à mesa olhando para mim com um sorriso de Monalisa. Estranhei vê-la assim, mas retribuí o gesto, com uma visível ruga na testa. Conversamos um pouco, jantamos e durante as garfadas eu resolvi perguntar (pela milésima vez) o que estava acontecendo. Ela me olhou com estranheza e repetiu as mesmas palavras de esquivo; o que me deixou bastante irritado. Até que por fim; depois de tanto insistir, ela abriu o jogo. Disse que toda vez que ouvia algo que eu dizia, sentia uma grande apatia; mais do que isso: antipatia ao ouvir aquilo. Eu lhe perguntei o que era, mas ela se negava a dizer; tentando mudar de assunto. Quando eu disse que a amava (palavras costumeiras), ela me olhou com certo desânimo e foi então que eu entendi. Fiquei triste com a reação dela e meus olhos fizeram a pergunta por mim. Ela me falou que não conseguia evitar sentir aquilo e, conhecendo seu histórico amoroso, eu pude entender. Um simples “Eu te amo” era motivo de descrença, pois durante anos ela quis ouvir aquilo e ninguém jamais lhe havia dito. Eu mesmo fiquei anos sem dizer quando nos conhecemos; o que a deixava frustrada e na primeira vez que eu disse, acreditei que ela havia acreditado, pois respondeu: “Eu também te amo.” de volta. Então eu lhe perguntei o que havia mudado; queria saber o motivo de não repetir mais as tais palavras. Cheguei a pensar inclusive que ela já não mais me amava e ela, virando a mesa, me explicou que ouvir aquelas palavras não a satisfazia; não mais. Ela disse que, mais do que dizer o amor, é preciso prová-lo. Fiquei confuso com suas palavras e lhe repliquei: “É o que eu tenho tentado mostrar a você sempre que estamos juntos.” Aí ela: “Eu sei. Continue assim; não diga mais que me ama. Prove! Só as atitudes podem convencer; não as palavras." Então eu falei: “Bom, mas como eu posso expressar o meu sentimento por você?”- E ela, depois de um longo beijo: “Você acabou e fazer isso.”

Tom Cafeh
Enviado por Tom Cafeh em 13/08/2018
Reeditado em 15/04/2019
Código do texto: T6417976
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