Insólito Part.1

Por tudo que está sentindo, em guerra com os valores do certo e errado, se pergunta qual o benefício de amar sozinho e ser ignorado.

A razão sempre o avisara dizendo que era pra ele deixar esse sentimento de lado, pois ele não iria suportar quando tudo desse errado. Disse que ele não tinha motivos para ficar triste, que mesmo que ele a amasse verdadeiramente, ela não tinha sentimentos por ele e que ao final era ela que iria sair perdendo.

Claro! Em termos lógicos aquele era o certo a fazer, mas infelizmente o ser humano, assim como uma moeda, se divide em dois lados. A existência que não pensa nas consequências deu um conselho que reduziu sua mente às cinzas perante as chamas das dúvidas:

- Não dê ouvidos a essa razão sem sentimentos, ela não entende o que você está sentindo, nós dois não podemos abrir mão de nossa amada. Você se lembra das manias? Do jeito sincero dela? Você a ama por ela ser única. Mesmo que você sofra agora, ainda tem a possibilidade de ficar com ela.

Coração bandido. Como ousa iludi-lo dessa forma? Mas a questão é: quem está certo? A razão que sugere a ele sacrifica-la para não perder a si mesmo? Ou o coração que escolheu o auto sacrifício em troca de algo incerto? O que você faria? Escolheria se incomodar vendo-a com outro, mas em compensação, a consciência limpa por ter tentado de tudo para obtê-la? Ou escolheria definhar amando alguém que nunca vai te amar por você nunca ter feito nada? Diga-me! Não...Melhor não. Isso não me vem a calhar, não quero saber de sua intimidade. Mas deixe-me te explicar o contexto dessa história.

Tudo se inicia em sua casa, no momento em que Roberto está sentado em frente a mesa, como de costume , era domingo e ele tenta transcrever seus sentimentos para o seu caderno. Das trinta e uma linhas linhas, apenas 4 foram usadas. O texto dizia: “Não há nada que eu odeio mais do que olhar para o seu rosto em frente espelho e lembrar dos erros que um dia cometemos. As dúvidas que você teve, os sentimentos que desconhecemos, vivendo num mundo vazio e ficando perdido no tempo.”

Sentimentos negativos sempre o assombraram, ele escrevia para controlar-se. Tem medo de machucar as pessoas que ama, seus familiares e amigos. Ele morde o bocal da caneta, recostando na cadeira apoia o caderno no colo. Ele encara o caderno, relê o que escreveu, tenta quebrar seu bloqueio mental. Pensa, pensa, pensa e nada. Por um momento as palavras somem de sua mente e por um momento ele desiste. Roberto pega o celular e decide se alegrar com algumas piadas em sua rede social. Ele vai passando pelas publicações, algumas engraçadas, outras não. Seus dedos deslizam sobre a tela. Mas ao vê uma imagem suas pupilas se dilatam e seus olhos mostram o que ele tanto tenta esconder: ele não pode controlar seus sentimentos. Com um pequeno click faz a imagem crescer. O nome dela é Ana, uma singularidade em sua vida. Ela transborda grandeza em seu sorriso único, seus lábios carnudos embelezados com batom vermelho e seu cabelo liso em harmonia com seus olhos castanhos. Não há nada mais real do que a beleza derramada sobre ela. Daquele momento começou a observá-la, só observá-la. Ele se acha jovem para poder se apaixonar. Mas naquele momento e por um segundo ele sentiu seu coração acelerar, não permitiu a esse sentimento se enraizar. O texto finalmente ficou pronto, as quatros linhas se transformam-se em meia página. O título é ‘Dúvidas’:

“...parece que sou criança diante da solidão que me engana, escrevendo versos e poesias, para me livrar de sentimentos que até então não conhecia. O arrependimento, a saudade da sensação, me faz querer voltar a um passado de ignorância e emoções vazias. Lembro-me do motivo de desistir do amor, pessoas que confiava sempre me enganaram, me tornando o que eu mais temia. Eu contava a eles o que sentia e levava facadas pelas costas. A solidão me chama, me seduz com uma mente mais ampla, me livrar de amores falsos e promessas idiotas.”

Um ano se passou e os seus sentimentos negativos transformaram-se em desconfiança. Eu não acredito em destino, mas podemos dizer que o acaso começou a brincar com ele.

Roberto leva uma vida tranquila, mesmo a vendo todo dia, ela era apenas sua amiga. Para ele era impossível se apaixonar por ela. Mas quando se trata de sentimentos ‘impossível’ é apenas uma palavra. Ao observá-la, controlar seus sentimentos se tornava cada vez mais difícil. Mesmo que não a visse, em seus pensamentos já havia um lugar apenas para ela.

Não tinha nem 7 meses do término de seu namoro e no momento não queria amar ninguém, Ana não queria mais se machucar e fechou seu coração para não poder amar.

Roberto, nunca tinha experimentado sentimento mais doce, mais amargo. Desde sempre se controlou por meio da razão, tamanho era seu egoísmo e seu bom coração que sua índole não lhe permitia amar outra à não ser aquela que viria a ser sua esposa. Mas ele nunca pensou na possibilidade, ou o risco de que a mulher que seu coração escolhesse não o amaria. Seu peito doía enquanto as dúvidas esmagavam seu coração, imaginando ele se valia a pena ou não. Esse sentimento novo havia sanado um vazio atroz. Sensação ou sentimento? Não importa, perante Ana ele encontrou aquilo que para muitos é conhecido como amor verdadeiro. Um amor que surge onde menos se espera. Um amor que fazia a gravidade sobre seu corpo tornasse mais leve e força uma súbita melhora. Mas à medida que esse amor crescia sentia um vazio cada vez maior, havia ali um buraco real e só podia ser preenchido com o amor dela.

Já era noite, ele tenta escrever alguma coisa, mas sua mente está dividida entre suas ideias e a imagem dela. Deixando o caderno de lado, ele se joga sobre o sofá, pega o celular rapidamente. Já era fácil perceber o tamanho de seu amor e conversar com Ana a noite se transformou em uma necessidade. Apesar de todo o seu esforço, ela apenas se esquivava, ou o ignorava, isso o deixava muito desanimado:

Será que estou me iludindo?

Roberto não entendia nem a ela ou a si próprio. Ele sempre foi pessimista, mas por algum motivo apesar de todas aquelas dúvidas no final sente irá valer a pena.

- Ela está certa - pensa ele - Ana acabou de se machucar em seu último relacionamento, ela não vai se deixar levar novamente, ela está se protegendo para não se machucar de novo, mesmo que seja de mim que a amo tanto.

Ela é a primeira pessoa que ele amou e espera que ela seja a última. Então ele decide falar com ela.

“-Ana eu…”