Loucuras de amor, dentro do elevador.

"Eu tenho medo de escuro, sinto falta de ar e preciso fugir de algo que quer sair do meu intrínseco carnal desejo, qual está em chamas no meio das coxas..."

Todos os dias ela entrava no elevador e quando parava no 9 º andar, entrava um homem todo sério, calado e musculoso. Ele tinha olhos diferentes, quais brilhavam em uma cor azul intenso. Ela jamais havia visto alguém com olhos iguais ao oceano. Era difícil não ficar encantada e somente tentava não ser tão percebida ao olhar nos olhos dele.

Sua rotina era correr pela manhã no Antigo Engenho, sair pela Rua do Porto e retornar pela ponte. Chegava à correr por 2 horas e depois retornava para seu apartamento tomar uma ducha gelada e começar o seu trabalho em textos intermináveis. Ela escrevia crônicas para um Jornal local e tinha um veia artística para preparar diversas peças teatrais.

Foram passando semanas e ela fazia questão de sempre estar no mesmo horário dentro daquele elevador. Ao som de parada no 9 º andar seu coração acelerava. Era instantâneo e lhe fazia bem esta sensação.

Certa vez, o elevador passou direto pelo 9 ° andar e ela sentiu uma sensação de choque. Então, chegando ao térreo, apertou o botão e foi até o 9 º andar, mas não viu ninguém. Foi meio desconsolada fazer os seus exercícios e chegou até sentir desânimo, desistindo pela primeira vez com o seu treino diário e disciplinado. Não queria fazer mais nada, somente pensou em retornar para o seu apartamento e virar uma ostra triste e solitária.

No dia seguinte ao entrar no elevador, estava ansiosa para que o mesmo no 9 ° andar parasse e assim, ela iria ver aquele homem que lhe instigava desejos. Muitas vezes existe aquela química que nos deixa feito adolescentes em busca de uma realização romântica e isto pode até se tornar em um frustante vazio, caso não tenhamos êxito.

Infelizmente ele não entrou no elevador e ela resolveu buscar saber quem era o misterioso homem do 9 ° andar... Perguntou ao porteiro sendo discreta, descrevendo como ele era e se havia acontecido algo.

- Sebastião, o senhor conhece aquele homem careca, todo musculoso, com olhos azuis e que tem barba? Ele parece o Ragnarök dos Vikings!

- Olha sei menina!!! Que diacho é este Ragnarök dos Vikings?!

- Você não sabe??? Ah! Esqueça... Eu só quero saber se conhece o morador do 9 ° andar que sempre estava no elevador bem cedinho?

- Vixi! Sei não... São tantos moradores, que nem faço ideia!!!

- Sebastião, obrigada... Esqueça o que lhe perguntei, pois estava treinando para uma peça de teatro que estou escrevendo... Obrigada por interagir comigo... _(Dando uma saída inteligente)

Então, saiu para correr em seu diário exercício matinal. No caminho ficou imaginando como havia feito papel de tola e rezou em pensamentos para o porteiro não abrir a boca. Geralmente os porteiros são faladores demais e ela não queria ser mal interpretada.

06:00 da manhã...

Já estava conformada da ausência de Ragnarök... O morador do 9 ° andar que em um súbito do nada, desapareceu.

Olhando-se no espelho do elevador, sem esperar o mesmo parou no 9 ° andar fazendo um som e ao abrirem às portas, eis que surgiu o homem que lhe fazia ter desejos. Deixando seu rosto todo rubro e lhe fazendo derrubar suas chaves no chão. Claro! Ele se abaixou ao mesmo tempo que ela, ambos se olharam nos olhos com um tocar nas mãos, uma sensação acelerada de pulsar à adentrar-lhes e falando ao mesmo tempo...

- Oh! Não precisava! Obrigada... Ah! Desculpaaa... Obrigada...

- Nada disto! Por nada! É... Desculpa... Tudo bem!

Ele e ela se olharam por 60 segundos, segurando às chaves e ficaram totalmente sem ação. Qual nos pensamentos dela, explodiam fantasias desvairadas.

As portas se abriram e estavam no térreo. Ambos soltaram às mãos e se despediram com sorrisos e olhares.

No caminho para o Engenho, ela não conseguia parar de pensar naquela cena que aconteceu no elevador. Coisas insanas lhe estavam tilintando os pensamentos e seu coração parecia uma panela de pipocas à saltar.

No dia seguinte...

Pela primeira vez ela não quis ir fazer os exercícios matinais, pois estava com uma ansiedade lhe sufocando. Tinha que ter controle de si e não poderia encontrar aquele homem no estado que se encontrava. Era algo selvagem e igualmente uma erupção vulcânica. Teria que ter o poder em não fazer o que se imaginava fazendo.

Passaram 2 semanas...

Sentindo um cheiro forte de queimado e com o seu quarto todo cheio de fumaça, saltou rapidamente da cama e correu até as janelas. Era algo terrível e mal podia acreditar. Havia perdido a hora para o seu treino e pior ... O Edifício onde ela residia, estava com os 6 primeiros andares em chamas.

Ouvia gritos, pessoas desesperadas e sirenes na rua. Estava acontecendo uma tragédia, qual jamais imaginou estar sendo protagonista. Ela entrou em desespero correu até a porta, saiu no corredor e apertou o botão do elevador... Imaginou subir até o último andar, assim teria tempo de ser salva ou simplesmente adiar sua morte naquele incêndio.

Quando estamos em desespero, geralmente não pensamos e às consequências são dadas na imprudência.

Entrou no elevador e apertou o número 22, pois este era o andar da cobertura e piscina. Diante de tudo teve esta ideia, mas saiu sem levar o seu celular, qual talvez seria muito útil para informar a sua localização, caso houvesse planejando uma estratégia de fuga. O elevador ainda não estava afetado pelo incêndio, pois ele se localizava na parte panorâmica do Edifico e o fogo ainda não havia se alastrado por metros quadrados completos.

Então, o elevador estava subindo... Subindo... Subindo e parou justamente no meio onde se encaixava à uma base de concreto. Assim, se perdia toda visão panorâmica, ficando isolada e sem saída. As portas não abriam, pois parou justamente no meio de saída para o andar seguinte e no mesmo instante a luz também se acabou.

- Eu não acredito!!! Só pode ser brincadeira ... Socorro... Socorroooo... Alguém está me ouvindo? Estou presa aqui no elevador!!!

Infelizmente ninguém lhe ouvia e tudo estava escuro. Tentou o telefone do elevador, mas não funcionava... Apertou emergência e NADA... Ela estava ficando em pânico... Chorava... Chutava as portas... Gritava... Se xingava... Xingava o infeliz, que causou o incêndio... E assim, entrou em pleno desespero.

Horas foram passando, ninguém aparecia e já nem tinha voz para gritar. Ela estava exausta, sentada no chão do elevador e sem enxergar uma luz.

Era noite, sua localização ninguém sabia e ainda se ouvia muitas sirenes vindo da rua. Era impossível e tão absurdo de acreditar, que somente ela teve ideia de entrar no elevador! ...Tantas horas passando e ninguém foi ver o que passava com aquele maldito elevador... Maldito, infernal, escuro e solitário. Um lugar muito horrível para alguém morrer. Ainda triste e sozinha.

02:05 da madrugada...

Ela ouviu que alguém falava próximo e tentou gritar, mas não conseguia. Tanto havia ficado aos gritos de socorro, que mal tinha voz para dizer que estava ali.

Passando meia hora...

Já sem esperanças começou pensar na morte e não estava feliz para aceitar um fim tão sem noção. Lembrou da sua infância e como era protegida pelos pais... Imaginou que estava escondida no porão escuro da Fazenda de seu Avô... Ela se escondia e ninguém lhe encontrava quando brincava de esconde-esconde, junto dos primos que passavam férias na companhia dela e do Avô.

Para não enlouquecer, resolveu esquecer tudo... Seus pensamentos estavam na Noruega e via muitos Vikings... Um mais belo que o outro. Sua vontade era transmitida pelo seu desejo e tara por homens fortes e nórdicos. Estava acontecendo tudo que ela imaginava e até conseguiu sentir excitação naquele incêndio e lugar tosco.

Diante de uma fogueira, todos cantavam, dançavam e falavam muito alto... Era uma grande festa, onde todas às mulheres estavam nuas e deitadas em um imenso tapete de sangue com os diversos sacrifícios ofertados aos Deuses. Era estranho, pois mesmo vendo aquela cena grotesca, ela sentia prazer e seu coração, que pulsava intrínsecos desejos, entrava em êxtase contínuo.

Ouviu uma voz forte e seu olhar correu naquela direção, qual estava aquele Viking todo musculoso, com olhos azuis, uma barba loura, com a cabeça raspada e em seus braços haviam muitas tatuagens, quais eram feitas em símbolos das diversas batalhas que esteve presente com a sua fúria, força, coragem e glória.

Ao seu lado direito uma das mulheres foi puxada por um homem todo vestido de mantos negros, que tinha o rosto todo cortado e deformado. Era alguém horrivelmente monstruoso e não tinha jeito de boa coisa fazer. Do seu lado esquerdo outra mulher foi puxada e levada por outro homem que vestia mantos brancos, tinha uma imensa barba loura e seu rosto tinha uma expressão friamente sádica.

Eles levaram às mulheres para um altar, onde havia um quadrado e um círculo. Estas mulheres estavam em uma espécie de transe hipnótico, qual deixava elas calmas e dispostas à serem amarradas com as mãos erguidas para os lados opostos em ângulos um tanto mais alto e dando simetria na posição... Os pés também eram amarrados... Uma mulher estava com eles separados e a outra, estavam juntos. Aquela cena até lembrava o Homem Vitruviano de Leonardo Da Vinci, considerado como um símbolo da simetria básica do corpo humano e, por extensão, para o universo como um todo. Então, seria possível os Vikings terem usado a matemática sem ao menos saberem que era uma proporção matematicamente exata?! Ela refletiu e ao olhar outra vez ficou aterrorizada... Aquele homem de vestes negras e rosto todo deformado, enfiou friamente uma espada no centro gravitacional de ambas às mulheres e aquele eixo era quântico no sentido de um jorrante mar vermelho descer altar à baixo.

Muito sangue descia e todo transbordando no tapete onde ela estava deitada e nua. Ela queria levantar, mas aquele transe hipnótico também lhe prendia ali.

Sua pele branca e nua estava coberta de um mar vermelho e sangrento... Muitas mulheres estavam sendo sacrificadas e ela imaginava que seria a próxima, pois estava deitada naquele tapete igualmente às outras que haviam tidas como sacrifício aos Deuses.

Diante de toda a matança e muito sangue, ela resolveu que não seria possível lhe fazerem como sacrifício e juntou todas às forças que tinha, tendo disposição ao controle de seus movimentos. Levou o seu pensamento até o centro gravitacional das mulheres mortas e naquele instante deu um grito bem alto:

- EU NÃO QUEROOOOOO MORRER!!!

No mesmo instante ela estava dentro do elevador outra vez, na sua frente estavam os olhos azuis feito o oceano e uma voz lhe dizia :

- Oiiiii... Encontrei você!!! ... Você está viva!!!

- Eu tenho medo de escuro, sinto falta de ar e preciso fugir de algo que quer sair do meu intrínseco carnal desejo, qual está em chamas no meio das coxas e assim, tenho a sensação de estar bem diante da entrada de Valhala... Eu estou sendo carregada por um Viking louro de olhos azuis!!!

Era impossível, mas era real. Aquele homem do 9 ° andar estava diante dela e ele era um Bombeiro à lhe salvar.

Ele com os seus fortes braços à carregou para fora do elevador e prestou todos os procedimentos de socorro. Dando continuidade na ambulância emergencial, qual já estava esperando para levá-la ao Hospital.

No dia seguinte...

Acordando em um quarto todo branco, com soro na veia e ainda sem saber que estava viva, sonhando, delirando ou morta... Ela olhou para o seu lado direito e viu aqueles lindos olhos azuis.

- Você... Meu Ragnarök...

- Sim, estou aqui e graças aos deuses você estava viva. O incêndio foi controlado e ninguém morreu. Todos estão à salvos!!! ... Eu pensei que não iria mais te ver... Senti-me incapaz, quando o Sebastião me disse que não havia lhe visto sair do Edifício... Eu e a minha equipe, estávamos apagando o fogo e tirando às pessoas sem que elas se machucassem... Sou Comandante da Corporação de Bombeiros e não o Ragnarök... _(Dando uma breve risada envergonhada).

- Estou feliz... Bem diante da entrada de Valhala... E não me diga que não eres o Ragnarök, porque é assim que te imagino todos os dias quando lhe encontro naquele maldito elevador... Tão maldito ele é... Um maldito e invejoso, que quase me fez partir sem te ver!!! ... Obrigada, por me salvar...

Ela em um sorriso, suspirou e adormeceu.

Ainda estava exausta e se recuperando de todo o pesadelo, mas feliz com o salvamento e o seu Herói Bombeiro Viking.

06:00 da manhã

Ela entrava no elevador para seu treino matinal e ao parar no 9 ° andar, eis que surgiu ele... Com seus fortes músculos, sua barba loura, tatuagens e aqueles olhos azuis feito oceano.

Ambos se olharam fixamente, se agarraram brutalmente aos movimentos insanos e aos beijos decidiram fazer amor naquele elevador maldito... Um maldito elevador, qual era excitante e o lugar, onde se viram pela primeira vez.

Eles pararam o elevador com o botão de emergência e fizeram tudo que sempre desejaram fazer... Se despiram, se acariciaram, se beijaram e se amaram. Tudo com desejos e sensações do aflorar em uma erupção quente, ardente e explosiva.

Certamente aquele dia foi apenas o primeiro, de muitos os outros, quais fizeram intrínsecas...

Loucuras de amor, dentro do elevador.