O Mergulho de Alexander

O único som que se ouvia naquele momento era o do movimento das ondas muito abaixo, chocando-se contra as rochas cobertas de musgo. O vento era forte também, tirava os seus cabelos da frente do rosto e os jogava para trás, como uma curta cortina castanha. Ele havia caminhado decididamente até ali, onde faltavam apenas alguns passos para a ponta. As mãos estavam fechadas em punhos, rígidas ao lado do corpo. Lembrava-se bem do motivo do que estava fazendo, entregando-se ao vazio sem fim, mas agora que sentia o frio no estômago, se espalhando pelos ossos e deixando seus pés pesados, quase não era capaz de respirar.

O mar tinha um tom cinzento pela falta de luz do sol, impedida de aparecer pelas nuvens espessas. Tal cor lembrou-lhe certos olhos. Que há tempos foram frios como a água deveria estar agora, mas que se preencheram de calor, carinho e afeto que a esperança trouxera. Estava vindo de novo, a enxurrada de lembranças, doces e ao mesmo tempo cruéis, que um dia ele odiaria esquecer, e agora lutava para evitar. Atingindo o seu peito como um tiro, corroendo seu coração como ácido e o fazendo mergulhar em cenas do passado que mais pareciam um filme.

Era um piano que ouvia? Confirmou ao entrar na sala, onde as notas ecoavam pelo espaço vazio e escuro, com apenas um retângulo de luz da lua projetado ao chão, adentrando pela janela de vidro. Os cabelos loiros desciam até a cintura, cobrindo a pele nua que a camisola deixava a mostra. Já devia estar perto do amanhecer, enquanto dedos os dela percorriam as teclas suavemente, criando a melodia triste que ouvira antes, embalando-o no som. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, aquela que era a sua vida enrijeceu e em seguida, se virou para ele. O rosto cheio de lágrimas, mas ainda portando um sorriso feliz. “Venha até a mim” Ela implorou, com uma voz tão real que o fez abrir os olhos, despertando-o dos seus devaneios.

Ele girou a cabeça, alarmado, mas ainda estava sozinho, no topo do penhasco. Percebeu que tinha avançado, estava exatamente no fim, a um passo do abismo. Encontrava-se cheio de coragem agora, os braços abertos sentindo a ventania. Com a mente ainda inebriada pela lembrança, sussurrou: “Estou indo. Estou indo…”

A longa queda não lhe causou agonia, apenas a sensação de liberdade. A água fria entrou pelas narinas quando seu corpo tentou respirar, assemelhando-se a facas dentro do pulmão, trazendo a dormência que acalmou a dor no peito. Estava chorando? Não sabia dizer, tudo se misturava a água escura. Confusão, sentimentos, dor, perda e no meio disso tudo, finalmente a paz, consolando a sua alma, enquanto a escuridão lhe tirava a consciência aos poucos e ele repetia para si mesmo: “Estou indo, estou indo…”.