Sobre abnegação

Foi uma queda e tanto.

Não sabia que amava.

Depois não sabia se era amor.

Ou mesmo o que era.

Tinha alguém, há tanto tempo, que esquecera que tinha.

Acho que ele esqueceu também.

As obrigações que temos para nos manter inteiros, vivos, ter um teto e comida, fazem isso com as pessoas.

As que estão perto, se tornam distantes.

As distantes, começam a ganhar importância.

E pronto, ela não sabia mais.

Foi ficando sozinha.

Qualquer gentileza despertava sentimentos profundos, adormecidos.

Ficou longe de todos, de tudo, dela mesma.

Alguma coisa começava a borbulhar, confundiu seus quereres.

A necessidade de sentir, a possibilidade...

Um minuto no paraíso.

Perdeu, como dizem?

Ah sim, o equilíbrio.

Caiu.

Mas parecia que no inferno o tempo não passava.

Ninguém foi buscá-la.

Nem Orfeu.

Teve que subir, sozinha.

Uma subida muito difícil, mas não podia desistir, nem olhar para trás.

Adoeceu, como já esperado.

Era uma característica dela.

Se sofria por dentro, sofria por fora.

Teve pena de si e do demônio que a atormentava.

Mas pode olhar a sua vida.

E tinha alguém lá que não quis deixá-la.

Não era perfeito, mas ela também não.

Era leal, ou talvez ainda, apaixonado.

Foi tão longe e o que buscava já estava ali.

Resolveu prestar atenção.

E de repente, percebeu que foi o demônio de alguém.

Não queria ser, era cruel machucar assim.

Ela ainda tinha feridas.

Nesse momento, decidiu que por um tempo...

Seria o anjo.