A desistente

Naquela tarde Alice foi ao cinema sozinha. Seu namorado estava trabalhando e não pôde ir com ela. Ainda assim, ela se sentia serena e feliz, pois há muito tempo não fazia tal programa. O dia era dos amantes, por isso, enquanto caminhava pelo shopping, a jovem via lojas enfeitadas e casais exibicionistas de seus afetos e desejos mútuos. Alice parou numa daquelas lojas para comprar um presente para o namorado, sem se dar conta do horário da sessão, chegando bem atrasada para ver o filme. Apesar disso, a experiência foi ótima. Seus olhos brilhavam ao ver as atuações de seus atores preferidos naquela comédia romântica. Tratava-se de uma história na qual uma jovem buscava o amor incessantemente, sem sucesso, até aprender que a tal busca não a levaria a nada. Havia ali também a metáfora do bosque e das borboletas; sua velha conhecida. Ainda que engraçado, o filme guardava algumas cenas tocantes, o que fez com que aqueles olhos secos ficassem um tanto marejados; provavelmente por certa identificação. Aos poucos, Alice foi mergulhando na história e se emocionando, enquanto devorava o pacotão de pipocas. Quando o filme acabou, ela se levantou e foi embora. Dirigiu-se, então, para a casa do namorado e quando lá chegou, teve uma surpresa romântica: um jantar a luz de velas, com direito a troca de presentes e beijos intensos. Dali a pouco, estavam os dois jantando uma deliciosa lagosta, acompanhada de um vinho branco finíssimo. Conversaram um pouco e, assim que terminaram de jantar, ela foi lavar a louça, ao passo que ele (com um belo sorriso no rosto, diga-se de passagem) foi para o quarto e ali ficou, esperando por ela. Alice apressou-se com aquilo, pois estava um tanto cansada e já era bem tarde. Então, foi tomar banho, perfumou-se, vestiu uma roupa bastante sexy e deitou-se ao lado do companheiro. O resto da noite foi incrível; sensualidade e prazer se misturavam e a química deles era inegável. Por fim, o rapaz virou-se para o lado, feliz e satisfeito, sem notar que ela fazia o mesmo gesto, sem o mesmo sentimento. Seus olhos impenetráveis voltaram a marejar, molhando o travesseiro. Não estava mais no filme; apenas permanecia em seu passado. E eles viveram assim para sempre.

Tom Cafeh
Enviado por Tom Cafeh em 12/06/2017
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