No balanço da vida
Debaixo da goiabeira Sabrina ousou retornar a sua infância ao descobrir que as cordas e a velha tábua do balanço feito pelo seu avô falecido estavam sob os efeitos do sol e da chuva.
Decidiu descer até o quintal enquanto sua mãe visitava sua avó. Ela cumprimentou a todos. "Bença avó". "Deus te abençoe minha filha".
Trocou poucas palavras e desceu para ver as árvores e lembrou-se da goiabeira, palco de muitas brincadeiras com suas primas há cerca de 15 anos.
Hoje com 20 anos, Sabrina não mudou seu penteado, usando franjinha, cabelos ruivos chanelzinho, olhos verdes, pele branca, e 1 metro 65 de altura.
No final da tarde, os ventos balançavam seus cabelos. Ela tirou o óculos de sol, o colocou pendurado na gola da camisa cor de laranja e ousou sentar no balanço com bermuda jeans para lembrar da sua infância e pensar na sua vida.
Diante do entardecer a lua cheia tornou-se protagonista do fim de tarde e o som dos pássaros lhes fez lembrar de Cláudio.
Há 3 dias do Dia dos Namorados, a discussão da noite anterior por causa de ciúmes poderia fazê-la passar o pior dia 12 de junho nos últimos 4 anos.
Sabrina o conheceu na faculdade. Ela ainda está no 7º período do curso de Letras e Cláudio já estava no 7º período do curso de História quando se conheceram. Ele já trabalha em colégios da cidade, enquanto ela ainda estagia pela prefeitura.
O balanço vai e volta, enquanto Sabrina tenta entender o porquê daquela discussão. Estava tudo tão bem, até quando ela resolveu bisbilhotar o celular do namorado enquanto ele foi atender um amigo que fora no portão da sua casa conversar sobre o bingo beneficente que ajudava a organizar.
Ela suava frio depois que abriu o whatsapp e leu uma conversa com Fabi - Aluna. O conteúdo dá conversa não era comprometedor, apenas demonstrava uma aluna pedindo ao professor que revesse com carinho o trabalho que a ajudaria a pontuar e ficar na média.
Quando Cláudio retornou para dentro de casa flagrou uma Sabrina transtornada, olhos vermelhos, respiração ofegante e olhos lacrimejados.
Por mais que Cláudio tentasse explicá-la, Sabrina não deu tempo para todas as explicações e saiu chorando, entrou no seu carro e partiu. Desligou o celular e ficou incomunicável.
Cláudio tentou por diversas vezes falar com ela, pelas redes sociais, por telefone da escola onde ela trabalhava e da casa dela, sem êxito.
Ele ligou para o celular da sua sogra, que deixou escapar que estava com Sabrina na casa de sua mãe, dona Joaquina, e que Sabrina estava estranha desde a noite anterior.
_Vocês brigaram?
_Não dona Vilma, foi um mal-entendido.
Cláudio saiu do colégio e se dirigiu para a casa da avó dela. Passou numa loja de floricultura que estava quase fechando e comprou uma kit de rosas amarelas.
Com o fone no ouvido, Sabrina não escutou Cláudio se aproximar do balanço. A lua mais brilhante do que nunca e as estrelas vibrantes no céu apareciam entre as folhas das árvores.
_Sabrina, você apenas ouça. A Fabi é nossa aluna portadora de câncer. O bingo beneficente que eu e os professores estão organizando é para ajudar no tratamento dela. Ela tem meu whatsapp porque precisamos nos comunicar por causa do evento. Eu já tinha falado dela para você.
_Meu amor, me desculpe, eu fiquei cega de ciúme e nem associei que a Fabi - Aluna era a Fabiola da Cruz, que está realmente está com câncer. A foto do perfil dela no whatsapp era apenas de um golfinho e eu não a conheci. Me perdoe.
Na luz do luar Cláudio abraçou forte Sabrina. Molhou os ombros dele de lágrimas e o beijou com respiração ofegante e faces úmidas de choro.
Cláudio pegou na mão de Sabrina, que levava consigo as rosas com sorriso nos lábios e se dirigiram para se despedirem de dona Vânia e dona Joaquina.
O próximo dia 12 de junho iria ser mais do que nunca especial para Sabrina e Cláudio.