Nas Páginas do Amor - Parte 1.

Nunca me importei tanto com alguém como me importava com ele, mas era como se eu nem existisse. Porque ele não falava comigo. Não olhava para mim duas vezes, nem ao menos se preocupava em me dar bom dia. Eu não passava de um simples colega de trabalho. E aquilo me fazia um mau enorme. Queria que pelo menos fôssemos amigos, como ele era de várias pessoas dentro da empresa mas eu era um simples estagiário, enquanto ele era o âncora simpático do canal.

Desci do meu carro e fui em direção ao prédio de jornalismo, tinha muito trabalho aquele dia. E estava com muita dor de cabeça. Entrei no elevador morrendo de medo como sempre, mas ir de escada para o 8° andar não era algo animador. Quando apertei o botão e as portas começaram a fechar, ouvi quando alguém pediu que eu segurasse, apertei o botão e elas se abriram de novo. Então ele entrou afobado.

- Obrigado.

Foi apenas essa palavra, mas ainda assim mudou meu dia, porque era a primeira vez em um ano de empresa que ele falava comigo, e veio acompanhado do sorriso mais lindo que eu conhecia. E que sempre me deixava sem ação, mesmo que aquela fosse a primeira vez que ele fosse para mim. Eu tinha me apaixonado por ele a primeira vista, quando ele passou ao lado da minha mesa, logo no primeiro dia de trabalho. Mas ai eu descobri que ele era hétero. E que como sempre, eu não tinha a mínima chance. O tempo foi passando e eu me apaixonando mais. Até o ponto de não poder ficar sério ao olhar para ele nas reuniões de pauta. Mas ele nunca tinha notado. O que já era esperado.

O elevador começou a subir, até que no 4° andar as luzes piscaram, no 6° ele deu um solavanco e parou. Ficamos totalmente no escuro. E eu entrei em pânico. Desde pequeno eu morria de medo do escuro e de lugares fechados. Podia parecer algo idiota para um cara de 22 anos, mas eu nunca tinha conseguido superar. Comecei a suar, como se estivesse em uma maratona, até que ele acendeu a luz do celular.

- Quer merda, não acredito. Eu já estou atrasado e isso me acontece.

Não respondi, comecei a andar de um lado para o outro nervoso. Ele me viu apavorado e se aproximou, quando pegou no meu ombro eu me assustei e dei um pulo.

- Ei, calma. Você tá bem?

- Sim. Estou.

Vendo que eu ainda parecia nervoso, ele achou graça do meu medo e começou a rir. Então colocou a luz no meu rosto, e viu que eu estava todo suado. Ficou sério na mesma hora. Eu me sentei tremendo no canto e fiquei com a cabeça baixa.

- Nossa, você tá branco.

Assustado ele apertou o botão de emergência e uma voz metálica respondeu.

- Socorro, estamos presos no elevador.

- Acalme-se senhor. Já vamos tira-lo dai.

Quando a voz desligou, ele se sentou ao meu lado. Puxou a bolsa e pegou uma garrafa de água dentro.

- Toma, beba um pouco de água. Você está muito suado.

Peguei a garrafa e tomei um gole, senti meu corpo acalmar um pouco. Mas ai o elevador deu outro solavanco. E eu tremi ainda mais. Percebendo, ele passou o braço pelo meu ombro e me abraçou de lado.

- Seu nome é Luan né?

- Sim.

- O meu é Pedro. Respira fundo, eu estou aqui. Vamos passar por isso juntos

Alguns minutos se passaram e ficamos em silêncio. Ele parecia estar com medo também, só que menos do que eu, na verdade eu ficava cada vez mais calmo, por estar ali abraçado com ele. Como se fosse a realização de um sonho, mesmo que da forma menos esperada. Quando estávamos ali a quinze minutos, o elevador deu um solavanco e voltou a subir. Então parou no 8° andar quando a porta se abriu, demos de cara com um bombeiro a nossa frente.

- Você estão bem?

- Eu estou, mas ele não. Acho que precisa falar com o médico.

- Não, eu estou bem.

- Não, não está. Você vai comigo para o médico.

Sem esperar resposta, ele me puxou e fomos para a enfermaria do prédio. Lá o médico do trabalho fez várias perguntas para mim. O Pedro ficou em pé com as mãos no bolso olhando preocupado.

- Bom, aparentemente você está bem. Só levou um susto. E claustrofóbico né?

- Sim. Desde criança.

- Deu para perceber, eu recomendo repouso. Vou liberar você pelo resto do dia.

- Não doutor, eu preciso trabalhar.

O médico olhou para o Pedro.

- Pode assinar o atestado doutor, eu cuido para que ele não trabalhe mais hoje.

Sorrindo o médico estendeu o atestado para mim. Então eu me levantei vencido. Fomos de escada para fora. Quando cheguei no meu carro. O Pedro parou ao meu lado sem graça.

- Eu queria te pedir desculpas.

- Pelo que ?

- Não foi legal o que eu fiz no elevador. Ficar rindo do seu medo. Não achei que fosse tão sério.

- Tudo bem. Você não me conhecia. Não tinha como saber. Mas obrigado pela preocupação. Foi muito legal da sua parte.

Eu abri a porta do meu carro e entrei sem dizer tchau. Mas antes que eu ligasse, ele se encostou na janela.

- Porque eu sinto você meio que tentando se livrar de mim?

- Claro que não. Eu apenas vou fazer o que o médico mandou. Descansar.

- Pode deixar que eu aviso no seu departamento. Nos vemos amanhã.

- Obrigado.

Nos vemos amanhã era a forma dele de dizer que não iria mais falar comigo. Como sempre tinha sido durante todo aquele ano. Mas eu estava feliz por aquela aproximação. A situação permitiu que eu ficasse lado a lado dele. Mesmo que meu medo por elevador tenha aumentado. Tinha valido a pena.

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No dia seguinte eu estava na minha mesa analisando uma reportagem, quando vi ele me procurando pela redação, quando me viu se aproximou sorrindo, como se fizesse aquilo todos os dias.

- Olá Luan. Como você está?

- Bem. Obrigado pela preocupação.

Era meio estranho falar com ele. As pessoas ao redor olhavam, como se estranhassem, ele não era bem visto na redação. Na verdade era chamado de metido, alguém cujo ego inflou depois que virou ancora. E ele parecia ter percebido, porque me perguntou curioso:

- Algum problema?

- Que eu saiba nenhum.

- Porque seus colegas estão olhando para mim com essas caras de espanto?

- E que.. é meio estranho você estar falando comigo.

- E porque eu não falaria?

- Olha, não leva a mau, mas as pessoas acham você um pouco metido.

- Eu? Mas claro que não. Eu não sou metido.

- Bom, você acabou de dizer seus colegas, quando na verdade, todos nós somos colegas, mesmo que você seja ancora, e nós estagiários, somos da mesma emissora.

Ele olhou ao redor surpreso.

- Eu não acredito nisso. As pessoas estão com uma má impressão minha. Eu conheço todo mundo aqui.

Eu dei uma risada um pouco alta. Ele me encarou bravo.

-Desculpa, e que é meio engraçado isso. Olha, não fica triste. Não é que as pessoas não gostem de você. Elas apenas não querem se aproximar demais. E se você conhece todo mundo, qual e o nome daquela moça ali?

Eu apontei uma amiga que estava a duas mesas na minha frente.

- Roberta?

- Não. Viviane, a Roberta está a duas mesas do lado dela.

Frustrado ele se sentou na cadeira a minha frente.

- Não acredito que as pessoas me acham metido. Por isso que eu não fui convidado para a confraternização mês passado.

- Nossa aquele dia foi incrível, - ele me olhou bravo - Desculpa.

- Preciso mudar isso. E você vai me ajudar.

- Como?

- Vou pensar em algo e te aviso. Agora eu preciso ir bater meu ponto. Nos falamos depois.

Ele saiu rápido para sua mesa, e eu fiquei ali imaginando o que ele iria aprontar. Mas parecia algo bom, então deixei como estava. Era legal saber que ele se importava com a imagem e que não queria que as pessoas o julgassem sem conhece-lo.Alguns minutos depois a Viviane veio curiosa até mim.

- O que o Pedro queria com você?

Contei em poucas palavras o que tinha acontecido no elevador. E a conversa daquele dia. Ela me ouviu em silêncio. E quando terminei estava em êxtase.

- Não acredito que ele te abraçou.

- Eu também não. Até agora não lavei o paletó. Tem o cheiro dele.

- Mas você acha que tem chances?

- Claro que não. Ele e hétero.

- Como você sabe?

- Cala a boca, ele está vindo.

Com a mochila nas costas, Pedro se aproximou sorrindo.

- Olá Viviane. Tudo bem?

- Tudo.

- Escuta Luan, eu vou dar uma festa no meu apartamento no domingo. Você pode ir e convida todo o pessoal da redação.

- Essa é a maneira que você encontrou de mostrar que não é metido?

- Sim. E espero que dê certo. Você vai né Viviane?

- Se o Luan for, claro que sim.

- Espero vocês lá então. Boa Noite.

Ele saiu em direção ao elevador. A Viviane pulou que nem louca.

- Amigo é a sua chance.

- Chance do que?

- De dar uns pegas no cara mais gato da redação.

- Eu não vou fazer nada. Me deixa.

- Ah, mas e muito mole mesmo.

No domingo a noite fomos eu e a Viviane para o apartamento do Pedro que ficava no centro de São Paulo. Havíamos pego o endereço com ele na sexta-feira. Antes de batermos na porta ouvimos um som alto. Até que o Pedro abriu todo animado. Aparentemente ele já não estava no normal, já que puxou nos dois para dentro como se fôssemos os melhores amigos da vida dele.

A festa estava ótima, mas como eu não bebia, me vi meia hora depois sentado no sofá ao lado do Peter, o redator do jornal. A Viviane tinha sumido na festa e o Pedro pulava de grupo em grupo conversando com todos. Fiquei feliz por perceber que a tentativa dele de ser legal era sincera. No fundo ele era uma excelente pessoa, e eu me apaixonava cada vez mais.

Quando deu onze da noite eu me levantei para ir atrás da Viviane, não achei ela em nenhum lugar, então fui até a cozinha devolver o copo de água que eu tinha tomado a horas atrás. Iria embora sozinho porque não podia ficar ali a noite toda. Quando entrei na cozinha, dei de cara com o Pedro aos beijos com a Leticia, a estagiária mais sonsa do mundo ,na surpresa eu derrubei o copo no chão, com o barulho os dois se separaram assustados.

- Ah desculpa, eu não sabia que vocês estavam aqui.

Sem graça eu sai rápido da cozinha. Alcancei a porta e desci as escadas correndo. Até que entrei no meu carro e respirei fundo. Eu sabia que não demoraria para aquilo acontecer. Mas não esperava que fosse logo no momento em que eu estava me sentindo mais próximo dele. Foi como se aquele beijo tivesse enterrado qualquer chance de um dia ficarmos juntos, chances que não haviam antes, mas que eu insistia em acreditar. Frustração era a definição certa. Parecia que tudo estava indo por agua abaixo.

CleberLestrange
Enviado por CleberLestrange em 18/02/2017
Código do texto: T5916799
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