A raposa

Quatro anos não são quatro dias. Um “não” pode ecoar no destino de alguém por décadas e, sabendo disso, Lisa sentia-se como uma raposa, por ter uma perspectiva diferente diante dos acontecimentos. E mesmo a vida lhe trazendo de volta algo mal resolvido, ela já estava preparada para sua resposta. Numa manhã de fevereiro, o sol brilhava no céu, sem poder derreter o gelo de alguns corações. O espelho de Lisa lhe mostrava o quanto ela estava bem. Sua aparência refletia seu interior: estava mais magra, mais bonita, namorando e mantendo um sorriso doce e sarcástico nos lábios carnudos. Monstros como a carência, a inveja, a indecisão e a falta de amor próprio já haviam partido. Nenhum deles lhe pertencia mais, afinal, em tanto tempo uma pessoa pode se transformar profundamente. Lisa chegou ao trabalho atrasada naquele dia. Sentou-se à sua mesa, deu uma olhada nos e-mails e verificou sua conta em uma rede social. Notou que havia uma solicitação de amizade e ao ver quem era, sentiu-se surpresa: um pedaço de passado, pedindo para retornar à sua vida, que até então estava feliz e tranqüila. Curiosa, ela aceitou a tal solicitação. Mais curiosa ainda, ela chamou o rapaz para conversar. Ele se mostrou bastante receptivo e conversaram bastante; bem mais do que na época em que se conheceram. O rapaz, simpático e sedutor, foi aos poucos diminuindo a tensão. Sua situação era complicada, pois se encontrava acamado em virtude de um acidente. Lisa teve compaixão pelo seu sofrimento, mas sabia que não deveria mais se envolver com aquela criatura. Glauco, o tal rapaz, por sua vez, propôs que mantivessem contato; mais do que isso: queria uma amizade colorida, mesmo sabendo que Lisa estava namorando. E durante uma semana eles conversaram, riram, flertaram, lembraram-se de coisas íntimas, mas ela não baixava a guarda por completo.. Foi então que tudo mudou. Um sentimento de culpa tomou conta do coração da raposa. Agregado a isso, Glauco, numa de suas conversas com Lisa, contou-lhe que iria se casar com a outra moça, a quem dizia amar muito. Ela notou que fora a única a mudar, mesmo que ainda tivesse algumas fraquezas. Diante disso, ela sorriu um sorriso de alívio por não estar no lugar da iludida. Sentindo cheiro de proposta de segunda opção, ela voltou a consultar seu velho e cansado coração e lá viu uma Lisa menorzinha de braços cruzados balançando a cabeça em sinal de reprovação. Então, ela, muito esperta, “bancou o gambá”. Depois de uma semana de conversas, Glauco voltou a falar sobre seu casamento e, aproveitando a deixa, sabendo dos pensamentos machistas e conservadores do rapaz, Lisa “vomitou” sua sincera repulsa por casamentos, defendendo apenas a ideia do namoro. Glauco sentiu-se incomodado, pois apesar de querer “matriz” e “filial”, ele almejava total dedicação de ambas. Além disso, Lisa manipulou o manipulador, fazendo-o refletir em como seus namorados se sentiriam, caso descobrissem um possível affair entre eles. Sem ter o que dizer, Glauco se despediu dela, bloqueou-a de sua rede social e ela foi feliz para sempre bem longe dele.

Tom Cafeh
Enviado por Tom Cafeh em 08/02/2017
Código do texto: T5906040
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