Entre dois amores - Cap 2

Dolores estava em um imenso oceano de amargura e dor, no qual se afundava cada vez mais sem algo que a impedisse de se afogar.

Pelas ruas da cidade Dolores caminhava a passos largos, o que não era comum. Com a arma na bolsa seguia em direção ao seu objetivo. A mulher que antes esbanjava um belo sorriso amarelo agora tornou-se infeliz. Seus dias ficaram cinzentos. Viver para ela já não mais fazia sentido.

- Dolores! Dolores – uma voz chamou por ela.

Era Zélia, sua melhor amiga. Vizinha de Dolores, ela agora estava testemunhando tamanha infelicidade que a dias tomou conta daquela casa.

- O que você faz aqui? Está me seguindo? – questionou Dolores.

- Segui sim. Onde você está indo?

- Me deixa Zélia. Vou fazer o que é preciso ser feito – finalizou.

Dolores correu pelas ruas e sua amiga seguia logo atrás. Sabendo que uma desgraça maior poderia ocorrer, Zélia não quis deixar ela sozinha.

- Vai embora Zélia. Sai daqui – com a voz ofegante respondeu.

- Eu não vou embora. Você não ta normal não. Me espera – insistiu Zélia.

Depois de algumas horas correndo em desespero pela rua, Dolores se viu diante do que procurava.

- Então é aqui que você se escora?

- Me deixa em paz. Vai ficar me vigiando agora? – perguntou Atacílio que segurava um copo de bebida nas mãos.

- Por sua culpa nosso filho foi embora. Você fez da nossa vida um inferno.

- Vai embora daqui vai. Não quero ouvir sermão seu – Atacílio escorava-se em uma mesa de sinuca.

- Você acha que eu estou brincando não é? Mas você tem razão. Chega de falar. Não vou gastar saliva em vão – disse Dolores.

Depois daquela fala Dolores pegou sua bolsa e de dentro dela tirou a arma.

As outras pessoas do bar olhavam assustadas.

- Quando eu me casei com você Atacílio, eu pensei que tinha encontrado o homem da minha vida. Estava apaixonada. Não pensava em outra coisa senão em você. Pensei que realmente a gente poderia ser feliz pra sempre. Mas não. Você estragou tudo.

O bar estava em silêncio. Só a voz de Dolores podia ser ouvida.

- Você perdeu o emprego e foi se consolar onde? Nesse bar nojento.

- Ei, não fala mal do meu bar não. Eu não coloco bebida na boca de ninguém aqui – interrompeu o dono do estabelecimento.

- Enquanto você poderia estar correndo atrás de emprego, você preferiu ficar aqui. Acabando com a sua vida. Acabando com a sua saúde. E com a minha também. E o pior de tudo Atacílio, a dor maior de todas nisso tudo, é que apesar de tudo o que você me fez passar... é que eu ainda te amo.

Dolores limpava as lágrimas que escorriam de seus olhos castanhos com uma das mãos. A outra mão segurava a arma.

- Vamos embora daqui Dolores, pelo amor de Deus!!! – suplicou Zélia.

- Não. Não antes de resolver isso.

- Mas eu vou matar esse amor todo que eu sinto por você Atacílio. Você vai me pagar por tudo agora – Dolores apontou a arma para o marido.

As pessoas começaram a se apavorar. Muitos correram, derrubando mesas, cadeiras, garrafas e tudo mais o que tinha pela frente. Enquanto isso uma forte chuva começou a cair lá fora.

Uma tragédia estava prestes a acontecer. Uma tragédia maior ainda.

- Adeus Atacílio. Adeus – finalizou Dolores com a arma na cabeça do marido.

- Me mata vai. Mata. Acaba com isso logo. Lava a sua alma. Livra todo mundo desse sofrimento – gritou ele.

- Para com isso Dolores. Para!!! – Zélia segurou a arma na mão da amiga.

Naquele momento uma grande tensão tomou conta do lugar. Zélia e Dolores dividiam a mesma arma em suas mãos.

- Larga essa arma Zélia. Vai embora.

- Eu não vou enquanto você não desistir dessa loucura. Não vou deixar que você faça isso com a sua vida – completou Zélia.

A chuva continuava a cair. Alguns minutos seguintes a luz acabou. Escuridão total.

Com o escuro ficou mais difícil mediar aquele conflito.

- Solta isso, você vai se machucar Zélia – pediu Dolores.

- Você não vai fazer isso. Me da essa arma – gritou Zélia.

Assim estava o clima naquele bar. Dolores e Zélia lutavam pela posse da arma.

O dono do bar procurava uma vela ou lanterna que pudesse clarear o local.

Alguém pensou em ir atrás de ajuda. Procurar a polícia seria uma solução. Os telefones não tinham sinal por conta do mau tempo. Era impossível e perigoso sair naquele temporal.

Mais perigoso ainda seria continuar ali, naquele boteco.

Depois de algum tempo brigando pela arma, em meio aquela turbulência ouviu-se o som de dois disparos.

Alguém foi atingido.

Luccas Nascimentto
Enviado por Luccas Nascimentto em 21/01/2017
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