" Meu Primeiro Amor "

" Meu Primeiro Amor "

Quando ganhei confiança da minha mãe,

isso por volta dos cinco anos de vida...

Ela me deixava brincar de correr até o portão,

ali eu ficava olhando

as crianças brincando na calçada.

Assim foi meu primeiro contato

com a minha amiga.

Ela brincando de amarelinha,

e eu do lado de dentro do quintal

com meu carrinho de lata.

O tempo passou, veio a época de ir para escola,

ela por ser mais velha dois anos e meio,

estava em horário diferente.

Passaram mais alguns anos,

e ela já tomando jeitinho de moça

ao levar seus cadernos

abraçados ao peito,

eu chutando lata pelo caminho,

na inocência de ser um menino,

não percebia que aflorava seus primeiros raios de mulher.

Tempo depois nos tornamos bons amigos, muitas peraltices.

Íamos para igreja juntos, mas dificilmente voltavam os juntos...

ela ficava com as amigas,

e eu vinha correndo para jogar futebol.

Anos depois...o primeiro emprego dela.

Caixa de super mercado...

foi o melhor momento, sempre estava

indo buscar algo para minha mãe,

e conseqüentemente conversava com ela.

Sonhos de adolescente, eu querendo jogar futebol

e ela sonhava em ser cantora.

Dias depois ela teve seu primeiro namorado,

até então não havia despertado

em mim nenhum sentimento quanto a isso.

O cara bem mais velho do que ela...

estava ingressando na carreira militar.

Bom...sempre que dava a gente conversava

relembrando coisas de um passado recente...

arte na escola, na rua...enfim, não faltava assunto.

Meses depois em um aniversário

de um vizinho mais distante,

nos encontramos...

ela triste abatida, quando me viu,

abriu um meio sorriso,

e me pediu se desse para eu ficar

com ela ali naquela festinha,

pois o seu namorado havia terminado,

e ela não queria dançar nem papo com outros colegas.

Ficamos conversando como de sempre, fugindo do assunto

que a atormentava, falávamos de nossas bagunças,

apertar a campainha na casa do português e correr,

se escondendo para ouvir ele xingar.

Mal ele sabia que aquela loirinha

que ele chamava de anjo era peralta.

Riamos muito, saímos da festa e ficamos a caminhar pela praça...

Até que ela pôs-se a chorar.

Me abraçou e disse que estava doendo muito.

Eu apenas a abracei forte

e sem saber o que dizer...

Falei : vai passar.

Sentamos no banco da praça e o silêncio foi a nossa canção...

Eu preocupado com ela, tentava quebrar aquele vazio,

mas era mais forte, então eu respeitei o momento.

Minutos depois estávamos falando do trabalho dela,

contei a ela que eu dava voltas nos corredores do mercado

esperando o caixa dela ficar livre...

ela se matou de rir, me chamando de bobo.

Depois ficou tarde e a levei até próximo do seu portão,

pois o pai dela era muito bravo...

nos despedimos com um abraço caloroso,

seguido de um olhar penetrante, tão gostoso,

e uma frase que nunca mais saiu de mim...

obrigado por você me trazer de volta.

A minha idade não me permitiu entender o que ela quis dizer.

E sem que eu esperasse ela me deu um suave beijo nos lábios.

Fui para casa flutuando, sorriso desperto, deitei sonhei acordado.

Não sabia o que estava acontecendo comigo, coração disparado...

Minha única vontade era que amanhecesse logo o dia,

para ir vê-la no mercado.

O dia amanheceu, menos eu,

que passei a noite em claro,

pensando pela madrugada

sonhando com minha amada.

Lá pelo meio dia eu levantei as pressas,

um banho rápido, e fui passar enfrente ao mercado,

perguntei ao amigo que trabalhava

de empacotador por ela...

Mas Dina não veio trabalhar.

Pela primeira vez senti uma dor em meu peito,

mas não liguei, e resolvi ir a rua em que ela estava morando...

Uma cena mais dolorosa, antes eu não tivesse acordado,

e escutasse dela, ao invés de ver

os dois abraçados, chorando...

Dei meia volta e fui para a casa.

Sem fome sem vontade pra nada,

e nada poderia dizer,

pois nada havia acontecido entre nós.

Fiquei alguns dias sem vê-la...

ia em outro mercado bem mais distante.

Depois de ter caído a ficha voltei a conversar com ela...

ela toda alegre dizendo que iam ficar noivos,

eu dei meus votos de parabéns,

com receio que ela percebesse

algo diferente em mim.

Passou alguns meses e o noivado aconteceu,

parecia que tudo estava em ordem com meu coração.

Tinha arrumado uma paquera...

a vida prosseguia normalmente.

Até que soube através da irmã

que ela estava doente,

e ia para a casa da tia no interior

se tratar de pneumonia.

Não pude vê-la, mas tinha fé que

logo ela voltaria pra casa.

Escrevi uma carta dando força

e relembrando nossas brincadeiras,

ao término disse da noite mais linda

que eu havia tido.

Pedi para irmã dela que me entregasse a carta.

Dois meses depois a noticia que me calou...

Eu jamais havia pensado que pudesse acontecer com ela...

Sua irmã me disse a verdade,

ela foi para a casa da tia com medo do pai.

Ela estava grávida e pior ainda foi ter descoberto

que o noivo mentiu para ela, ele era casado.

No desespero ela foi para

a casa da tia, para ir fazer um aborto.

Mas o destino foi cruel...

Ela teve complicações,

e veio a falecer.

Eu não acreditava no que estava acontecendo...

A dor foi tão grande

que eu me calei por dias.

Eu guardei comigo todo aquele sentimento lindo.

Anos depois encontrei com a irmã dela...

foi mais doloroso ainda.

Ela me disse que leu a carta,

me pediu perdão chorando...

disse que não entregou a carta,

pois já havia complicação

demais para ela.

Mais uma vez fiquei com um nó na garganta,

nem ao menos ela soube

o quanto me fez feliz por uma noite

por um simples beijo, clareou minha noite...

meu ombro amigo nunca mais foi o mesmo.

Nilton Cabeça.